Você já reparou que, por volta dos 6 anos, algumas crianças ficam mais teimosas, choram por motivos aparentemente bobos ou até discutem com os pais com mais intensidade? Essa mudança de comportamento tem explicação: é uma fase de transformação intensa no cérebro, tão marcante que os alemães deram até nome para ela – Wackelzahnpubertät, ou “puberdade do dente mole”.
A expressão se refere à época em que os dentes de leite começam a cair, mas também marca o início da chamada segunda infância, fase em que as emoções se tornam mais complexas e o comportamento pode parecer confuso até mesmo para os adultos.
Mais do que manha, o que está por trás dessas atitudes é o amadurecimento neurológico. Entender essa fase pode ajudar mães, pais e cuidadores a oferecerem apoio com mais paciência e estratégia.
Explosão emocional
Dos 6 aos 12 anos, o cérebro das crianças passa por uma verdadeira revolução. Elas começam a desenvolver uma noção mais refinada sobre quem são, como se sentem e o que os outros esperam delas. Ao mesmo tempo, ainda estão aprendendo a lidar com frustrações, amizades e limites.
Essa transição pode gerar reações intensas, como raiva, tristeza ou desânimo. Embora consigam falar melhor sobre o que sentem, nem sempre têm recursos para regular as emoções por conta própria – e isso pode levar a birras, isolamento ou rebeldia.
Como apoiar as crianças nessa fase
A boa notícia é que o cérebro infantil tem uma capacidade enorme de adaptação. Com o tempo e os estímulos certos, elas aprendem a nomear sentimentos, compreender emoções mistas e encontrar formas de reagir com mais calma.
Um recurso poderoso é o exemplo dos adultos: crianças observam o modo como pais e cuidadores lidam com conflitos e emoções, e tendem a reproduzir esses comportamentos. Por isso, conversar sobre o que aconteceu e validar os sentimentos pode ser mais eficaz do que apenas dar bronca.
Outra ferramenta importante é a reavaliação cognitiva – ou seja, ajudar a criança a ver a situação de outro ângulo. Se ela está frustrada por não conseguir fazer algo, por exemplo, vale perguntar: “O que podemos tentar de diferente para melhorar isso?”

Amizades ganham mais importância
Por volta dos 6 anos, os laços de amizade também começam a mudar. As crianças deixam de brincar apenas por afinidade momentânea e passam a valorizar trocas mais profundas e recíprocas.
Elas aprendem a considerar o que o outro sente, desenvolvem empatia e começam a agir de forma mais solidária. Nessa fase, por exemplo, é comum perceber que elas tentam defender colegas excluídos ou consolar amigos tristes.
Tudo isso acontece graças ao desenvolvimento da chamada “teoria da mente”, uma habilidade que permite entender os pensamentos e sentimentos de outras pessoas – e até prever como elas podem reagir.
Insegurança também aparece
Com essa nova consciência social, surgem também inseguranças. A criança começa a se perguntar se é querida, se está sendo julgada ou se seus amigos realmente gostam dela. É o início da autocrítica e, em alguns casos, da solidão.
É natural que se sintam mais sensíveis, principalmente em ambientes novos ou desafiadores. Por isso, oferecer apoio emocional, sem minimizar o que estão sentindo, faz toda a diferença. Perguntar “o que aconteceu?” e ouvir com atenção é o primeiro passo para ajudar.
Conversas ajudam a formar adultos mais empáticos
Conversar sobre sentimentos – tanto reais quanto em histórias, desenhos ou filmes – é uma forma poderosa de ensinar empatia e autocontrole. Quando um personagem age de forma estranha, vale perguntar: “Por que você acha que ele fez isso?” ou “O que será que ele estava sentindo?”.
Esses diálogos ajudam a criança a refletir sobre diferentes pontos de vista e a praticar o raciocínio emocional. Aos poucos, ela vai se tornando capaz de lidar melhor com frustrações, cultivar amizades mais saudáveis e se sentir mais segura sobre quem é.
Resumo:
Aos 6 anos, o cérebro das crianças entra em uma fase intensa de transformação, chamada por especialistas de “puberdade do dente mole”. Nessa etapa, surgem emoções mais complexas, inseguranças e novos desafios sociais. Com paciência, diálogo e acolhimento, os adultos podem ajudar os pequenos a atravessar essa fase com mais leveza e autoconfiança.
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