É comum que países e cidades façam campanhas e esforços, com atrações e infraestrutura, para receber mais visitantes. Outras, se orgulham da quantidade que recebem ano após anos. No entanto, um fenômeno comum se destaca justamente pelo contrário: a turismofobia, ou overtourism.
De acordo com estudo da IPK International, uma das principais consultorias de turismo do mundo, 24% dos viajantes internacionais tiveram a sensação de que os locais que visitaram estavam superlotados. Destes, 9% afirmaram que a situação afetou a qualidade da viagem.
Os eventos peculiares de turismofobia têm ganhado força nos últimos anos, sobretudo em grandes destinos da Europa. É que esses locais — e principalmente seus moradores — estão se esforçando para espantar os visitantes, com medidas e ações muitas vezes agressivas.
Locais como Barcelona, Veneza e Amsterdã, mundialmente conhecidos por sua importância histórica e cultural, estão no centro desse movimento. O principal motivo? O impacto negativo que a presença gera nas cidades e em seus moradores. Desde a alta no custo de vida à superlotação e degradação de áreas históricas, o excesso de turistas tem trazido uma série de problemas.
Turismofobia na prática
Em Barcelona, por exemplo, os moradores têm protestado de maneira cada vez mais intensa contra o turismo. O uso de pistolas d’água para afugentar os visitantes é uma cena que ilustra o crescente descontentamento da população local. Em julho, as imagens do protesto rodaram o mundo.
“Basta! Ponhamos limite ao turismo!”, era o lema dos manifestantes. Os moradores da cidade espanhola reclamam da precariedade de serviços básicos e o aumento nos preços de moradia, que estão cada vez mais inacessíveis para quem vive ali.
Jaume Collboni, prefeito de Barcelona, anunciou planos de proibir aluguéis de imóveis de curto prazo a partir de novembro de 2028. Em Mallorca, também na Espanha, alguns trabalhadores de fora precisam viver em trailers, já que os apartamentos disponíveis são destinados ao turismo.
Outro exemplo de turismofobia é em Veneza. A cidade da Itália adotou a cobrança de uma taxa para entrada em determinados períodos. O local, conhecido por seus canais e pontos turísticos, luta para preservar seu patrimônio e limitar o número de visitantes, especialmente no período de alta.
Em Amsterdã, na Holanda, o governo local proibiu a construção de hotéis para “manter a cidade habitável para residentes e visitantes”. Além disso, os turistas podem baixar um aplicativo que notifica longas filas e sugere alternativas de passeio
No Brasil, ainda não há medidas concretas de turismofobia, mas alguns locais contam com medidas para conter o número de visitantes. É o caso de Fernando de Noronha (PE), que suporta 246 visitantes diários, o que resulta em um limite de pouco menos de 90 mil pessoas por ano. Além do acesso restrito, somente de barco ou avião, os turistas pagam uma taxa de preservação ambiental.
O fenômeno da turismofobia reflete o desafio de muitas cidades ao redor do mundo em equilibrar os dois pesos de uma balança: de um lado, o turismo é fonte essencial de renda para a economia local. De outro, o excesso de visitantes pode comprometer a qualidade de vida dos moradores e a preservação do patrimônio cultural e ambiental.