Nos meses de janeiro e fevereiro, os céus noturnos podem revelar um espetáculo astronômico surpreendente. Durante esse período, o Sistema Solar estará com seis planetas alinhados. Tratam-se de Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno – visíveis a olho nu. No dia 28 de fevereiro, Mercúrio se unirá a este grupo, criando uma rara oportunidade de observar sete planetas alinhados.
Esses alinhamentos não são meros eventos estéticos. Eles também têm implicações significativas para a ciência e nossa compreensão do Sistema Solar. Os planetas do nosso sistema seguem órbitas em um plano relativamente plano ao redor do Sol, mas em diferentes velocidades. Por exemplo, Mercúrio, o planeta mais próximo do Sol, completa uma órbita em apenas 88 dias, enquanto Netuno leva cerca de 165 anos terrestres para completar a sua.
Esse diferencial nas velocidades orbitais possibilita que, ocasionalmente, vários planetas se alinhem no mesmo lado do Sol. A partir da Terra, se o alinhamento for preciso, é possível observar vários planetas simultaneamente no céu. Os planetas mais brilhantes como Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno são facilmente visíveis a olho nu, enquanto Urano e Netuno requerem instrumentos como binóculos ou telescópios.
Embora os planetas não estejam perfeitamente alinhados devido às suas órbitas elípticas, eles formarão um arco no céu. O evento conhecido como “desfile planetário” ocorrerá em grande parte em janeiro e fevereiro, culminando na rara ocasião em que todos os sete planetas serão visíveis no final de fevereiro.
Mas qual é o impacto real desses alinhamentos na Terra? De acordo com Jenifer Millard, astrônoma e comunicadora científica no Fifth Star Labs, no Reino Unido, “é apenas uma coincidência que eles estejam nessa posição de suas órbitas”, disse à BBC News.
Enquanto alguns cientistas sugerem que os planetas alinhados podem influenciar atividades na Terra ou no Sol, embora as evidências científicas para tais afirmações são frequentemente fracas.
Um estudo de 2019 propôs que os alinhamentos poderiam afetar a atividade solar. Frank Stefani, físico do Helmholtz-Zentrum na Alemanha, argumentou que as forças gravitacionais combinadas de Vênus, Terra e Júpiter poderiam causar pequenas oscilações dentro do Sol que influenciam o ciclo solar de 11 anos entre períodos de máxima e mínima atividade.
No entanto, essa teoria não é universalmente aceita. Robert Cameron, cientista solar do Instituto Max Planck de Pesquisa do Sistema Solar na Alemanha, afirmou que não há evidências que apoiem uma sincronização entre os planetas e o ciclo solar.
Por outro lado, os alinhamentos planetários têm aplicações práticas indiscutíveis na exploração espacial. Eles podem facilitar o envio de espaçonaves a planetas distantes utilizando a gravidade de um planeta próximo para acelerar a viagem. Esse método foi crucial nas missões Voyager da NASA nos anos 70.
Além disso, esses fenômenos são úteis na pesquisa de exoplanetas. Astrônomos utilizam o método de trânsito para detectar novos mundos ao observar diminuições na luz das estrelas quando um planeta passa à frente delas. O sistema Trappist-1 é um exemplo notável onde múltiplos planetas foram descobertos através desse método.
Recentemente, pesquisadores também têm explorado a possibilidade de detectar sinais de vida extraterrestre durante alinhamentos em sistemas solares distantes. Em 2024, Nick Tusay da Universidade Estadual da Pensilvânia tentou investigar comunicações entre mundos no sistema Trappist-1 durante esses alinhamentos.
Ainda assim, o fenômeno dos alinhamentos vai além das fronteiras do nosso Sistema Solar. Alinhamentos entre galáxias podem ajudar os astrônomos a estudar objetos distantes através da lente gravitacional, permitindo observar galáxias muito fracas que seriam invisíveis sem essa ampliação gravitacional.
Concluindo, o desfile planetário deste mês não apenas encanta os observadores do céu noturno. Ele também representa uma oportunidade única para a pesquisa científica e a exploração cósmica. Assim como Tusay sugere sobre possíveis civilizações alienígenas observando nossos próprios alinhamentos: “Talvez outra civilização alienígena veja isso como uma oportunidade para conduzir suas próprias investigações”.
Leia mais:
Alinhamento dos planetas: saiba como o fenômeno afeta cada signo