Muitas pessoas fazem a separação do lixo reciclável em casa com a intenção de contribuir para o meio ambiente, mas a realidade mostra que uma pequena parcela desse material é, de fato, reciclada no Brasil.
De acordo com dados do Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (Sinasa), divulgados pelo Ministério das Cidades em 2024, apenas 1,82% dos resíduos recicláveis secos e orgânicos são recuperados no país.
Isso significa que a maior parte dos materiais que poderiam ser reaproveitados acaba tendo como destino lixões e aterros sanitários, agravando problemas ambientais e desperdiçando recursos valiosos.
O que acontece com os resíduos recicláveis?
Os resíduos recicláveis são aqueles que podem ser reaproveitados pela indústria para criação de novos produtos. Eles são classificados em:
- Resíduos secos: vidro, plástico, metal e papel.
- Resíduos orgânicos: restos de alimentos e materiais biodegradáveis que podem ser reciclados por meio da compostagem ou outros processos biológicos.
Segundo o levantamento do Sinasa:
- Apenas 1,17 milhão de toneladas de resíduos secos foram recuperadas para reciclagem no Brasil em 2023.
- Para os materiais orgânicos, o volume reciclado foi ainda menor: 0,16 milhão de toneladas.
Esses números revelam um desafio significativo: embora a população esteja cada vez mais consciente sobre a separação do lixo, a infraestrutura para coleta seletiva e reciclagem ainda é limitada.
A coleta seletiva no Brasil
A coleta seletiva é essencial para garantir que os resíduos recicláveis cheguem até cooperativas e indústrias de reciclagem. No entanto, apenas 36% da população brasileira tem acesso a esse serviço. O acesso varia bastante entre as regiões:
Região | Municípios com Coleta Seletiva | Percentual em relação ao total de municípios |
---|---|---|
Norte | 22 | 5,6% |
Nordeste | 124 | 9,4% |
Centro-Oeste | 94 | 22,3% |
Sudeste | 543 | 35,7% |
Sul | 516 | 46,1% |
Fonte: Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico/Ministério das Cidades
Enquanto a região Sul lidera em cobertura, com quase metade dos municípios oferecendo coleta seletiva, o Norte enfrenta uma situação crítica, com apenas 5,6% das cidades disponibilizando o serviço.
Por que reciclamos tão pouco?
Segundo o especialista em Engenharia de Controle da Poluição Ambiental Bernardo Verano, alguns dos principais desafios da reciclagem no Brasil são:
- Infraestrutura deficiente: muitas cidades não possuem estrutura adequada para coleta e processamento dos materiais.
- Falta de conscientização: nem todos sabem como separar corretamente os resíduos ou acreditam que o esforço vale a pena.
- Baixa demanda por materiais reciclados: a indústria ainda não utiliza amplamente insumos reciclados, o que desestimula investimentos no setor.
O problema dos lixões
Apesar das metas estabelecidas pelo Novo Marco do Saneamento Básico, instituído em 2020, para a erradicação dos lixões, eles ainda são a principal forma de destinação de resíduos no Brasil. Em 2023, o país contava com:
- 1.606 lixões em operação
- 317 aterros controlados
- 688 aterros sanitários
Os lixões representam um grande problema ambiental e de saúde pública, pois contaminam o solo, a água e liberam gases poluentes. Além disso, atraem vetores de doenças e reduzem a qualidade de vida das comunidades vizinhas.
O que pode ser feito?
Para melhorar a taxa de reciclagem no Brasil, algumas medidas precisam ser adotadas:
- Ampliação da coleta seletiva: garantir que mais municípios implementem programas eficazes de separação do lixo.
- Incentivos à reciclagem industrial: aumentar a demanda por materiais reciclados, promovendo investimentos no setor.
- Educação ambiental: conscientizar a população sobre a importância da separação correta dos resíduos e o impacto positivo da reciclagem.
- Fortalecimento da legislação ambiental: garantir que os municípios cumpram suas metas e melhorem a destinação de resíduos.
“Uma gestão eficiente dos resíduos sólidos é essencial para a sustentabilidade ambiental e a qualidade de vida da população”, finaliza Bernardo Verano.
A reciclagem no Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer, mas com a expansão da infraestrutura, a conscientização da população e o apoio da indústria, é possível reverter esse cenário e tornar o país mais sustentável.
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