A italiana Angela Carini abandonou a luta contra a argelina Imane Khelif após apenas 46 segundos no ringue. O confronto, válido pela primeira rodada da categoria até 66 kg, rendeu a grande polêmica nas Olimpíadas de Paris. Isso porque a vencedora já foi reprovada em um teste de gênero.
Ao final do combate, a italiana se recusou a cumprimentar Khelif e caiu no choro após a confirmação da derrota. O pouco tempo de combate, entretanto, nada teve a ver com a condição da adversária. Pelo menos é o que afirmou a pugilista derrotada, que creditou a própria saída à pancada que recebeu.
An absolute travesty at the Olympics.
Angela Carini is forced to box against a biological male. She quits after just 45 seconds, and cries hysterically as her opponent is declared the winner.
Don’t look away. This is wokeness. pic.twitter.com/wOkVRs88t5
— End Wokeness (@EndWokeness) August 1, 2024
“Entrei no ringue e tentei lutar. Eu queria vencer. Recebi dois golpes no nariz e não conseguia respirar mais. Não podia continuar. Meu nariz doía muito”, iniciou a napolitana, de 25 anos. “Poderia ter sido a luta da minha vida, mas naquele momento eu também tinha que proteger minha vida”, acrescentou.
O técnico da boxeadora, Emanuele Renzini Carini, revelou terem sido convidados a boicotar a participação de Imane, mas recusaram. Ele avaliou que a permissão por parte do COI “é uma decisão muito difícil”: “Ela também certamente têm sofrido com tudo o que está acontecendo”.
“Não sou ninguém para julgar e não tenho nada contra a minha adversária”, reforçou Carini.
A polêmica e reprovação nos exames
Não demorou e a polêmica nas Olimpíadas tomou conta das redes sociais. Internautas apontaram que a pugilista seria favorecida pela diferença genética. Outros chegaram a afirmar que ela seria transsexual. Entretanto, a boxeadora argelina é mulher e nasceu menina: “Não é uma questão de transgêneros”, ressaltou o porta-voz do COI, Mark Adams.
Fato é que Imane Khelif foi reprovada no teste de gênero realizado pela Associação Internacional de Boxe (IBA) durante o Mundial de Boxe, em 2023. A taiwanesa Lin Yu Ting, também reprovada nos testes da da instituição, é outra que disputa as Olimpíadas de Paris neste ano.
Na época, Igor Kremlev, presidente da IBA, disse à agência de notícias russa Tass que os testes de DNA apontaram “que elas tinham cromossomos XY”. Por isso, foram desclassificadas da competição. Ainda segundo o executivo, “atletas que tentaram enganar as colegas e se fingir de mulheres” foram identificadas.
Um dos possíveis motivos para a reprovação das atletas no mundial da modalidade são os altos níveis de testosterona — que também podem ser apresentadas por pessoas intergênero. O termo descreve pessoas que desenvolvem naturalmente características que não se encaixam em masculino e feminino.
O Comitê Olímpico Internacional (COI), que tem regras consideradas menos rígidas, garantiu a legalidade da participação de Imane Khelif e Lin Yu Ting. Segundo a entidade, todas as atletas da competição preenchem as “regras de elegibilidade”.
“Muitas mulheres podem ter testosteronas em níveis chamados de “masculinos” e ainda serem mulheres, ainda podem competir como mulheres”, explicou o membro do COI.
Revolta de autoridades da Itália
O governo italiano se pronunciou sobre o combate entre Angela Carini e a Imane Khelif. A primeira-ministra Giorgia Meloni afirmou que não concorda com o posicionamento do COI. Ela avaliou que a luta não parece justa pelos “níveis de testosterona presentes no sangue da atleta argelina”.
“Acho que atletas que possuem características genéticas masculinas não devem ser admitidas em competições femininas. Não para discriminar alguém, mas para proteger o direito das atletas femininas de poder competir de igual para igual”, avaliou Meloni, que lamentou a desistência da compatriota: “Me deixou ainda mais triste”.
🚨 ÚLTIMAS NOTÍCIAS: A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, criticou a decisão de permitir que Imane Khelif competisse no boxe feminino depois que Angela Carini abandonou a luta.
“Com esses níveis de testosterona, esta não é uma competição igualitária. Atletas com… pic.twitter.com/P5bnqhZ8Oe
— MSP-Brasil (@mspbra) August 1, 2024
A ministra da Família, Eugenia Roccella, também reprovou a participação das duas atletas rejeitadas nos testes de gênero: “É muito preocupante saber que duas pessoas transgênero foram admitidas nas competições de boxe feminino, homens que se identificam como mulheres e que, em competições recentes, foram excluídos.
“É surpreendente que não existam critérios certos, rigorosos e uniformes, e que precisamente nos Jogos Olímpicos, que simbolizam a lealdade, possam haver suspeitas de uma competição desigual e até potencialmente arriscada”, finalizou a ministra italiana.
Para Andrea Abodi, ministro do Esporte, “é necessário garantir a segurança das atletas e o respeito pela concorrência leal do ponto de vista competitivo”. Já o vice-premiê e ministro da Infraestrutura e Transportes da Itália, Matteo Salvini, foi mais incisivo: “Um homem lutar contra uma mulher me parece pouco olímpico”.
Posicionamento argelino
Antes da luta, o Comitê Olímpico Argelino (COA) defendeu Khelif. De acordo com a instituição, a boxeadora do país é vítima de “mentiras” e “ataques antiéticos”. Após o combate, a Federação Argelina de Boxe também se pronunciou e parabenizou a lutadora.
“Parabéns à boxeadora argelina Imane Khelif, que responde fortemente no ringue e se classifica para as quartas de final, após derrotar a italiana Angelina Carini em menos de 46 segundos, sem esforço”, sem citar a polêmica nas Olimpíadas de Paris diretamente.
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