Entre 1992 e 1996, Sarajevo viveu o cerco de Sarajevo, o mais longo bloqueio a uma capital na história moderna. Durante esses quatro anos, mais de 10 mil pessoas perderam a vida. Entre os relatos de sofrimento, surgiram informações que chocam até hoje: estrangeiros teriam transformado a tragédia em um turismo de guerra, pagando para participar de ataques contra civis.
A prática era tão cruel quanto organizada. O espaço conhecido como alameda dos snipers incluía regiões estratégicas da cidade, como a Rua Dragão da Bósnia e a avenida Meša Selimović Boulevard. A partir dessas áreas, atiradores tinham visão privilegiada da população, sem que ninguém estivesse protegido.
Turismo de guerra: um negócio macabro
Segundo as investigações, turistas estrangeiros, especialmente italianos, pagavam até 88 mil libras (cerca de R$ 600 mil) para participar de “fins de semana de tiro”. A cada viagem, civis eram alvos, e até crianças poderiam ser atingidas. O assassinato de menores custava valores ainda mais altos, mostrando a perversidade do esquema.
O transporte dos participantes era organizado, ligando cidades como Trieste e Belgrado, pela companhia aérea sérvia Aviogenex. Já na cidade, militares contratados ofereciam condições para o chamado turismo de guerra, transformando Sarajevo em uma espécie de parque da morte para turistas.
A “alameda dos snipers” e o risco constante
A denominação popular de alameda dos snipers surgiu pela estratégia dos atiradores: civis que transitavam pelas principais ruas eram alvos fáceis. Placas improvisadas alertavam “pazi snajper” (“cuidado, atirador”), mas a segurança era mínima. O local se tornou símbolo da crueldade e do descaso com a vida humana durante o cerco.

O longa-metragem Bem-vindo a Sarajevo (Welcome to Sarajevo), do diretor Michael Winterbottom, retratou a realidade do cerco de Sarajevo, incluindo cenas que mostram o impacto do turismo de guerra na população civil. Essa produção contribuiu para que o mundo compreendesse a dimensão da violência que assolava a cidade.
Durante esse período, áreas importantes da cidade, como o polo industrial, o aeroporto e a Cidade Velha, estavam expostas aos ataques. A população vivia sob constante tensão, sem saber quando seria alvo.
Investigação e denúncias recentes
A denúncia apresentada pelo jornalista Ezio Gavazzeni, com apoio do ex-magistrado Guido Salvini e da ex-prefeita de Sarajevo Benjamina Karic, detalhou que os participantes teriam feito acordos com o exército sérvio-bósnio, comandado por Radovan Karadžić, condenado por genocídio e crimes contra a humanidade.
O documentário Sarajevo Safari, lançado em 2022 pelo cineasta Miran Zupanic, reuniu depoimentos de vítimas e moradores, dando início às acusações formais. A produção mostrou como o turismo de guerra transformou o cerco da capital em uma atração macabra, revelando a extensão do sofrimento humano que os turistas estrangeiros estavam dispostos a presenciar.
O legado do cerco de Sarajevo
O episódio da alameda dos snipers deixa lições duras: a crueldade humana pode se manifestar de formas inimagináveis, e o impacto psicológico sobre a população civil permanece por décadas. Ao mesmo tempo, a investigação recente reforça a importância de responsabilizar quem transforma tragédias em entretenimento macabro.
Resumo: Durante o cerco de Sarajevo (1992–1996), civis foram alvos de ataques de atiradores em áreas conhecidas como alameda dos snipers. Investigações recentes revelam que turistas estrangeiros pagaram para participar desse turismo de guerra, mirando civis e até crianças. O longa Bem-vindo a Sarajevo e o documentário Sarajevo Safari documentam esses crimes.
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