Por mais de dez anos, cientistas do mundo todo sonhavam em trazer de volta à vida animais extintos. Agora, esse sonho começa a ganhar forma. A empresa Colossal Biosciences surpreendeu o mundo ao anunciar o nascimento de filhotes com genes do lobo terrível, espécie que desapareceu há cerca de 13 mil anos, mas que ficou famosa pela série Game of Thrones.
Essa façanha foi possível graças a um trabalho cuidadoso com fósseis. Usando dentes e crânios antigos, pesquisadores conseguiram isolar partes importantes do DNA do animal extinto. A partir disso, editaram geneticamente células de lobos cinzentos e implantaram os embriões em cadelas substitutas. Resultado? Nasceram quatro filhotes, sendo três saudáveis – Romulus, Remus e Khaleesi (sim, como a personagem de Game of Thrones).
Game of Thrones e a fama do lobo terrível
A série de fantasia não inventou os lobos gigantes. Na verdade, os lobos terríveis existiram de verdade e, segundo cientistas, eram até 25% maiores que os lobos que conhecemos hoje. Viviam em regiões que hoje pertencem aos Estados Unidos e Canadá e caçavam grandes animais, como cavalos e bisões.
Embora o nome seja assustador, os novos filhotes trazem mais curiosidade do que medo. Além do tamanho avantajado, eles têm pelagem branca e espessa, caudas mais volumosas e até uma espécie de juba no pescoço. Tudo isso reforça o sucesso da manipulação genética feita pela equipe.
Como os genes do lobo terrível foram recriados?
A equipe da Colossal alterou 20 genes dos lobos cinzentos para reproduzir traços físicos do lobo terrível. Dez anos atrás, seria impossível algo assim. Mas, com os avanços na edição genética, os pesquisadores conseguiram imitar com segurança os principais traços da espécie extinta, sem prejudicar a saúde dos filhotes.
Inclusive, cinco dos genes foram substituídos por versões menos arriscadas, já que mutações anteriores causavam problemas como surdez e cegueira. Segundo os cientistas, o maior desafio é equilibrar a fidelidade genética com o bem-estar dos animais.
E agora? O que esperar dos novos filhotes de lobo terrível?
Apesar do sucesso, os cientistas admitem: ainda há muito a descobrir. Por viverem em cativeiro e receberem todos os cuidados, os filhotes não apresentam os comportamentos naturais do verdadeiro lobo terrível. “Eles estão no estilo Ritz Carlton de vida”, brincou a pesquisadora Beth Shapiro, uma das líderes do projeto.
Além disso, mesmo com os genes recriados, ainda não se sabe exatamente quantos genes seriam necessários para trazer o animal extinto de volta em sua forma completa. “Talvez 20 genes sejam o suficiente. Ou talvez 2.000”, afirmou um especialista.
O futuro da desextinção e os dilemas que ela traz
Embora empolgante, o projeto levanta questões importantes. Será mesmo possível devolver esses animais ao meio ambiente? Afinal, o mundo mudou. Hoje, os grandes mamíferos caçados pelo lobo terrível não existem mais em abundância. Além disso, os lobos cinzentos – seus parentes vivos mais próximos – ainda enfrentam ameaças graves, como a caça e a perda de habitat.
Especialistas e ambientalistas temem que o foco em reviver o passado desvie a atenção de preservar o presente. Como bem lembrou a paleontóloga Julie Meachen, “temos problemas com os lobos de hoje”.
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