O ChatGPT se transformou em um verdadeiro “faz-tudo” digital. As pessoas recorrem à ferramenta para treinar entrevistas de emprego, simular reuniões de trabalho e até montar discursos. No entanto, uma função específica ganhou destaque recente: o preparo para a entrevista de visto americano.
Basta abrir o TikTok para encontrar vídeos em que influenciadores pedem para a ferramenta simular perguntas de um oficial consular e, a partir disso, treinam respostas até parecerem seguras.
Segundo levantamento da Folha de S.Paulo, com base em dados do Departamento de Estado dos EUA, a taxa de recusa de visto americano entre brasileiros chegou a 15% em 2024, acima dos 13% registrados em 2023. Diante do recente aumento e do medo da negativa, qualquer ajuda parece bem-vinda. Mas usar ferramentas de IA para treinar para entrevistas é realmente válido?
Entrevista de visto americano não é teste de memorização
Para a advogada Larissa Salvador, especialista em imigração e CEO da Salvador Law, a tecnologia pode ajudar — mas com ressalvas. “É inegável que ferramentas como o ChatGPT são excelentes para organizar o raciocínio, refinar o discurso e praticar”, afirma.
No entanto, ela faz um alerta importante: a entrevista de visto americano funciona como uma análise de perfil, não como uma prova decorada. “O oficial busca clareza sobre o propósito da viagem, a robustez dos laços com o Brasil e a capacidade financeira do requerente”, explica.
Ou seja, decorar respostas prontas pode gerar o efeito contrário. Segundo Larissa, discursos engessados são facilmente percebidos durante a entrevista consular, o que levanta dúvidas sobre a autenticidade do candidato.
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Entrevista de visto americano exige coerência entre fala e documentos
Antes mesmo de qualquer simulação digital, o primeiro passo é compreender o próprio plano de viagem. O solicitante precisa saber explicar, com segurança, o motivo da ida, a duração da estadia, os locais que pretende visitar e como pretende arcar com os custos.
“Os oficiais não avaliam apenas palavras”, ressalta a advogada. “Se a pessoa afirma que vai estudar, trabalhar ou fazer turismo, precisa comprovar. Documentos corretos e bem organizados reforçam a credibilidade”, completa.
Além disso, comprovantes de vínculo com o Brasil — como emprego formal, bens, família e declaração de Imposto de Renda — pesam bastante na decisão do processo do visto americano.
Entrevista de visto americano pede naturalidade, não roteiro
Em vez de usar a inteligência artificial para decorar frases, Larissa sugere outro caminho: utilizar o ChatGPT como apoio para testar variações de perguntas e encontrar um tom próprio. Dessa forma, o candidato desenvolve confiança sem perder espontaneidade.
Uma boa estratégia, segundo ela, é simular a entrevista de visto americano em voz alta, de preferência em frente ao espelho ou gravando a si mesmo. Assim, fica mais fácil ajustar o ritmo da fala, a postura e a clareza das respostas.
“O ideal é falar sobre a viagem com tranquilidade, como quem comenta um plano de férias, e não como alguém que está recitando um texto”, orienta.
Entrevista de visto americano pode trazer perguntas inesperadas
Mesmo com preparo, nenhuma entrevista consular segue um roteiro fixo. Oficiais podem fazer perguntas fora do padrão, justamente para avaliar a coerência e a segurança do candidato.
Por isso, a advogada recomenda simular situações inesperadas durante o treino. Essa prática ajuda a desenvolver flexibilidade e reduz o nervosismo no momento real. Ainda assim, ela reforça que o risco de recusa de visto americano nunca é zero.
“Planejar alternativas faz parte da estratégia, inclusive pensando em como reforçar a documentação e estruturar uma nova aplicação, se necessário”, explica.
Quando buscar ajuda especializada?
Em casos mais complexos, como múltiplas solicitações, negativas anteriores ou mudanças recentes de perfil, o apoio jurídico especializado pode fazer diferença. O advogado ajuda a identificar falhas documentais, ajustar a narrativa e alinhar expectativas.
“Quem entende o processo, organiza os documentos e comunica sua intenção de forma natural tem muito mais chances de aprovação. O ChatGPT funciona como suporte, mas não substitui o planejamento, a autenticidade e a motivação verdadeira”, resume Larissa.
Resumo: A tecnologia pode ser uma aliada na entrevista de visto americano, desde que usada com equilíbrio. Mais do que respostas perfeitas, os oficiais avaliam coerência, vínculos com o Brasil e clareza de intenção. Planejamento, documentação organizada e naturalidade continuam sendo os fatores decisivos para a aprovação.
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