“Fiquei no vermelho e a gerente disse pra eu não me preocupar, pois tenho cheque especial com dez dias sem juros. O que isso quer dizer? Não devo me preocupar mesmo?”
J. I., por e-mail
O cheque especial é uma espécie de saldo extra que você pode usar até um determinado limite, caso acabe o saldo de sua conta corrente. Apesar de não ter esse nome, ele é uma espécie de empréstimo pré-aprovado que o banco deixa pra você em caso de necessidade (ou de gastos além do orçamento). E é claro que o banco cobra por esse empréstimo. Segundo o Banco Central, em junho, os juros médios cobrados pelos bancos eram de 316% ao ano. Isso quer dizer que uma dívida de R$ 500 no cheque especial pode se transformar em mais de R$ 2 mil após 12 meses. Ou seja, são taxas bem altas e que podem fazer com que uma pequena escorregada se torne uma dívida bem difícil de pagar. Muitos bancos, no entanto, têm oferecido os dez dias sem juros para clientes com bom relacionamento. Isso quer dizer que você pode usar o saldo extra por esse período sem que seja cobrado nada por isso. Parece bom, e faz com que casos como o seu não sejam fonte de preocupação imediata. Mas devem ser, sim, fonte de atenção. Se ficar só dez dias nessa situação, até organizar as suas finanças, pode ser uma ajuda. No entanto, é comum se acostumar com esse benefício e, a partir daí, os dez dias viram 15, 20 ou até mais. E as taxas de juros, que são bem altas, começam a ser cobradas sobre todo o período, incluindo os dias iniciais. Ou seja, se ficar no negativo por até dez dias, nada é cobrado. Mas se ficar 11 dias, os juros incidem sobre todo o período e não sobre o dia adicional. Por isso, só use o benefício se tiver certeza de que irá resolver rapidamente a sua situação financeira.
Cuidado com tantas “bondades”
Os bancos são instituições que visam lucro, assim como a sua loja favorita e a padaria da esquina. Eles prestam serviços necessários ao consumidor e recebem algo em troca, seja a taxa de juros ou uma taxa de administração de fundos. Por isso, fique atenta e informe-se antes de aceitar algo proposto pelo gerente. Pergunte até que todas as suas dúvidas sejam sanadas.
O que fazer na hora da emergência?
Ainda que a necessidade de dinheiro seja urgente, o cheque especial e o cartão de crédito não devem ser a primeira opção, por conta dos juros. O melhor crédito para uma emergência é o consignado e o empréstimo pessoal, que têm taxas menores, apesar de ser mais burocrático conseguir. Ah, e fuja dos empréstimos para negativados!
Marcela Kawauti é formada em economia pela USP e tem mestrado da FGV. Com mais de dez anos de experiência, é economista-chefe do SPC Brasil e colaboradora do portal de Educação Financeira Meu Bolso Feliz.