Você pode acreditar que toma decisões financeiras de forma lógica, mas os estudos mostram o contrário. Daniel Kahneman, Prêmio Nobel de Economia, e Morgan Housel, autor de A Psicologia Financeira, apontam que a maioria das escolhas ligadas ao dinheiro nasce de emoções como medo ou insegurança – e só depois são justificadas racionalmente.
A mentora financeira Adriana Nunes de Melo reforça essa visão: “O mais comum é que apenas encontremos explicações lógicas para decisões que já estavam tomadas pelo emocional”, explica.
No Brasil, isso se soma à ideia cultural de que “é só dinheiro”, usada para minimizar conversas sobre finanças e gastos. O resultado é que problemas mal resolvidos no bolso podem adoecer relações, perpetuar dependências e silenciar escolhas importantes.
Histórias reais
Quer exemplos de como as decisões (financeiras e em outras áreas da vida) podem ser impulsionados pela emoção? A especialista lembra do caso de uma cliente cujo marido perdeu todos os recursos da família em mesas de pôquer de luxo. “Ele gastou a rescisão, o dinheiro do apartamento e as economias. Quando tudo veio à tona, ela se sentiu traída”, relata.
Anos depois, essa mesma cliente conseguiu reconstruir sua vida, conquistando promoções, renegociando dívidas e mudando de cidade. Mas sucumbiu a uma pressão invisível: a de manter um modelo de vida idealizado. “Ela voltou para o ex-marido, não por falta de força, mas por não conseguir romper com a ideia de que sucesso verdadeiro precisa estar atrelado a um casamento e a uma casa estruturada”, conta.
Em outro episódio, uma médica gastava compulsivamente em roupas falsificadas de grife para se adequar ao ambiente profissional. “Num meio em que muitas se sentem pressionadas a parecer bem-sucedidas, até uma Zara era considerada insuficiente”, lembra a especialista. O resultado: dívidas e ansiedade em nome de uma aparência.
O medo de prosperar também é emocional
As escolhas financeiras também podem ser moldadas por cobranças familiares, sociais e até religiosas. Existe a crença de que o sucesso pessoal precisa ser disfarçado, como se prosperar fosse algo condenável. “Há uma ideia enraizada de que ser bom é ser pobre, generoso e se sacrificar pelos outros. Para quem cresceu ouvindo que ambição é pecado, ganhar dinheiro pode vir acompanhado de culpa”, afirma. E isso pode funcionar como autossabotagem na hora de guardar dinheiro.
Será que a emoção está atrapalhando suas finanças? Veja sinais!
- Compras por impulso: gastar para aliviar estresse, tristeza ou ansiedade.
- Medo de dizer “não”: aceitar dividir gastos ou emprestar dinheiro para evitar conflitos.
Status acima da realidade: adquirir itens de grife ou de alto valor só para se sentir aceita em um grupo. - Culpa por prosperar: esconder conquistas financeiras ou se sentir mal ao ganhar mais do que familiares e amigos.
O que fazer, então?
- Anote antes de agir: quando sentir vontade de comprar por impulso, escreva o item e espere 24 horas. Muitas vezes, a vontade passa.
- Defina limites claros: estabeleça quanto pode gastar por mês com lazer, roupas ou restaurantes. Ter um teto ajuda a não estourar o orçamento.
- Separe uma reserva de bem-estar: criar uma pequena “caixinha” para desejos pessoais evita a sensação de privação.
- Converse sobre dinheiro: compartilhar metas financeiras com alguém de confiança tira o peso do segredo e ajuda a manter o foco.
- Associe conquistas a metas reais: em vez de gastar para mostrar status, celebre vitórias financeiras de formas que reforcem sua liberdade, como quitar uma dívida ou investir.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (edição 1486, de 12 de setembro de 2025). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.