Após uma leve estabilidade no início do ano, o preço da carne subiu significativamente nos últimos meses, pegando os consumidores de surpresa. Segundo levantamento da consultoria Scanntech, em setembro, os preços da carne bovina para o consumidor apresentaram uma alta de 7,2% em comparação ao mesmo período de 2023, pressionando o orçamento de muitas famílias brasileiras. Com isso, o consumo dessa proteína registrou queda pela primeira vez no ano, com muitos consumidores buscando alternativas e passando a comprar mais peixes e ovos.
Especialistas apontam que essa elevação nos preços não é passageira e pode continuar afetando o mercado. Fatores internos e externos, como o aquecimento da demanda e o câmbio desfavorável, são alguns dos motivos que pressionam os preços, e as projeções indicam que os valores continuarão elevados nos próximos meses.
Fatores internos que explicam o aumento dos preços da carne
O mercado interno é um dos principais responsáveis pela alta dos preços da carne bovina. Nos últimos meses, o Brasil tem registrado uma melhora no mercado de trabalho, com queda na taxa de desemprego e aumento do poder de compra, o que elevou a demanda por produtos como carne, leite e derivados. Com uma maior circulação de renda, os consumidores buscam melhorar sua alimentação, impactando diretamente o setor de carnes, especialmente o consumo de carne bovina, uma das proteínas mais procuradas.
Além disso, a quantidade de animais disponíveis para abate está menor em comparação aos últimos anos, afetando a oferta do produto no mercado. Esse fenômeno, conhecido como “ciclo da pecuária”, é caracterizado por períodos de baixa produção e menor oferta de carne, o que ocorre quando há uma redução na quantidade de bois e vacas aptos para o abate. Com menos oferta e uma demanda aquecida, o aumento dos preços se torna inevitável.
Demanda externa e câmbio também impulsionam os preços
O cenário internacional é outro fator determinante para entender por que o preço da carne subiu no Brasil. Atualmente, o país é um dos maiores exportadores de carne bovina do mundo, atendendo à demanda de países que reduziram a produção, como Estados Unidos e Argentina. Esses países enfrentam dificuldades para manter a oferta no mercado interno, tornando a carne brasileira uma alternativa atraente para importação.
Com o aumento das exportações, a carne se torna menos acessível ao mercado interno, uma vez que grande parte da produção é direcionada ao exterior. O câmbio também influencia diretamente esse processo, pois o dólar valorizado torna a exportação ainda mais vantajosa para os produtores brasileiros. Em setembro, a moeda americana registrou alta, fechando a R$ 5,87, o que aumentou o lucro nas exportações e incentivou ainda mais os produtores a destinarem sua produção para fora do país.
O impacto do clima na produção de carne
Outro fator relevante é o impacto das mudanças climáticas. A estiagem prolongada deste ano afetou a produção de pasto e a criação de gado, elevando os custos de produção. Embora as chuvas de outubro tenham melhorado levemente a situação, a seca prolongada comprometeu o desenvolvimento de muitos animais, que não atingiram o peso ideal para o abate. O impacto climático pressiona a oferta de carne no mercado, fazendo com que o preço do produto continue subindo.
A situação, segundo analistas, reflete a dificuldade do setor agropecuário em enfrentar os desafios climáticos e adaptar-se a condições adversas. É provável que esses efeitos continuem influenciando a pecuária nos próximos anos, especialmente se as mudanças climáticas mantiverem seu curso.
Alternativas do consumidor frente à alta de preços
Diante da alta no preço da carne, muitos consumidores brasileiros têm procurado alternativas para compor suas refeições. Em setembro, o consumo de ovos e peixes aumentou consideravelmente, já que ambos apresentaram uma queda nos preços: os ovos ficaram 10,1% mais baratos e os peixes, 0,3% mais acessíveis em relação ao ano passado. Esses produtos têm sido opções viáveis para substituir a carne bovina, tornando-se alternativas populares na dieta dos brasileiros.
Além das substituições, economistas recomendam a compra de cortes menos nobres e de carnes que estejam em oferta como formas de economizar. Planejar as compras e diversificar a dieta com outras fontes de proteína são medidas que ajudam a equilibrar o orçamento doméstico.
O aumento no preço da carne é resultado de um conjunto de fatores que incluem a demanda interna aquecida, o mercado externo em expansão e as dificuldades impostas pelo clima. Com a valorização do dólar, o Brasil continua sendo um dos principais fornecedores de carne para o mundo, o que limita a disponibilidade do produto para o mercado interno e contribui para a elevação dos preços. Para o consumidor brasileiro, adaptar-se a essas mudanças é essencial, buscando alternativas de proteínas e controlando as compras para enfrentar o aumento de preços.
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