Quem vive nos Estados Unidos tem sentido no bolso o impacto da alta dos preços da carne vermelha — e os especialistas alertam: a situação pode piorar. Só para se ter uma ideia, em junho deste ano, o valor médio de 450 gramas de carne moída chegou a US$ 6,12, o maior já registrado, segundo o governo norte-americano. Esse aumento de quase 12% em relação ao ano anterior não é um fenômeno isolado. Há pelo menos duas décadas os valores vêm subindo de forma constante.
O principal motivo? A queda expressiva no número de bovinos. O rebanho nos EUA atingiu em 2025 seu menor nível em 74 anos. Com menos bois disponíveis, a carne fica mais cara. Além disso, fatores climáticos têm prejudicado bastante os pecuaristas. Desde 2020, uma seca severa atinge o oeste do país, diminuindo a qualidade das pastagens e aumentando os custos com ração.
Churrasco mais caro: impacto da mosca mortal e das tarifas de importação
Além do clima, outro fator tem preocupado o governo e produtores: a ameaça da mosca mortal, conhecida como mosca-da-bicheira. Essa praga, que já atingiu rebanhos no México, pode colocar em risco a saúde dos animais nos Estados Unidos. O parasita deposita ovos em feridas, e as larvas se alimentam da carne viva do boi — um prejuízo enorme para os pecuaristas.
Com o risco de contaminação, os EUA suspenderam a importação de gado mexicano, responsável por cerca de 4% da carne processada no país. A medida visa proteger os rebanhos, mas também contribui para a redução na oferta e, consequentemente, para o aumento dos preços.
Além disso, as tarifas impostas pelo ex-presidente Donald Trump sobre a carne importada — especialmente do Brasil — também pressionam o mercado. Os frigoríficos norte-americanos dependem de cortes magros vindos de outros países para misturar com a carne local, mais gorda. Se essas tarifas forem mantidas, os custos para o consumidor tendem a subir ainda mais.
Pecuaristas precisam escolher: vender agora ou investir no futuro?
Diante dos preços recordes, muitos pecuaristas têm optado por vender mais fêmeas do que o habitual. Isso ajuda no abastecimento imediato, mas dificulta a reposição do rebanho no médio prazo. Afinal, para aumentar a produção, é preciso manter vacas em idade fértil — o que exige investimento e paciência.
É aí que entra o dilema: vender agora e aproveitar os lucros altos ou manter as fêmeas e apostar na reprodução, mesmo com incertezas econômicas e custo elevado? Segundo especialistas, a maioria ainda prefere o ganho imediato.
Mesmo com a recente queda nos preços dos grãos e melhora das pastagens, resultado do alívio na seca, a retomada do crescimento do rebanho deve demorar. Reproduzir e criar animais leva, no mínimo, dois anos. Além disso, os altos juros e o custo de novilhas prenhes — que podem ultrapassar US$ 100 mil em leilões — desestimulam novos investimentos.
Alta dos preços da carne vermelha pode durar mais do que se imagina
A temporada de churrascos, tradicional nos meses de verão nos EUA, contribui para manter a alta dos preços da carne vermelha. Normalmente, os valores caem no outono, mas especialistas acreditam que essa queda será modesta neste ano. Embora os consumidores possam migrar para carnes mais baratas, como frango ou porco, essa tendência ainda não é evidente.
O cenário, portanto, segue desafiador. Mesmo que os produtores decidam aumentar seus rebanhos hoje, levará tempo até que isso reflita no mercado. Enquanto isso, o consumidor americano terá que pagar mais para manter o churrasco no cardápio.
Resumo: A combinação entre rebanho menor, clima desfavorável, praga sanitária e tarifas de importação tem mantido o preço da carne vermelha em alta nos EUA. A mosca mortal, que ameaça o gado mexicano, e as escolhas econômicas dos pecuaristas dificultam a retomada da oferta. Por isso, os especialistas afirmam que a alta dos preços deve continuar, pelo menos nos próximos dois anos.
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