De acordo com o ‘Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas’ realizado em maio deste ano pelo Serasa, um total de 72,54 milhões de brasileiros têm dívidas. O cartão de crédito representa a maior parte do endividamento dos brasileiros. Os setores mais impactados pela inadimplência são cartões de crédito (28,9%), contas básicas (23,3%), instituições financeiras (16,4%) e varejo (11,1%).
Comprar a prazo quando não temos o montante para pagar à vista pode ser uma boa ideia — desde que o comprador se atente a alguns critérios. AnaMaria conversou com especialistas em finanças pessoais, que explicaram como é possível usar o cartão de crédito de maneira inteligente, colhendo os benefícios deste método de pagamento. Confira a seguir!
Cartão de crédito: herói ou vilão?
O cartão de crédito é para muitos consumidores o grande vilão das finanças pessoais. Segundo Marcello Marin, contador e especialista em recuperação judicial, isso é um mito: “Qualquer método de pagamento pode ser vilão se não for utilizado corretamente”. Os cartões de crédito podem ser um ótimo recurso se forem utilizados com inteligência. Hoje, a maioria dos cartões oferece benefícios para quem usa, sejam eles pontos ou cashback.
A palavra-chave é: controle! A melhor maneira de não cair em tentação é ter um controle muito bem definido de seus gastos: planilhas e aplicativos são úteis para isso. O especialista destaca que devemos monitorar tudo o que diz respeito a finanças pessoais. A regra de ouro é colocar tudo na ponta do lápis. “Eu, por exemplo, além de utilizar o próprio sistema da operadora de cartão, ainda tenho planilhas que mostram como está minha fatura atual e as futuras. Desta maneira, tenho uma visão mais ampla da situação”, orienta Marcello.
O economista Igor Lucena, empresário, doutor em Relações Internacionais na Universidade de Lisboa e CEO da Amero Consulting, detalha como colher os benefícios do cartão de crédito: “O orçamento deve ser baseado no limite do cartão e no salário, então nunca podemos gastar mais no cartão do que recebemos mensalmente”.
Ainda falando em benefícios, outro fator que faz toda a diferença na hora de lançar mão do cartão de crédito é identificar as melhores opções disponíveis no mercado, considerando o perfil de consumo e necessidades financeiras. “O ponto positivo em concentrar os gastos no cartão de crédito e não no débito, é o acúmulo de milhas e cashback que não aconteceria se você gastasse no débito. Mas isso exige da pessoa muito controle”, destaca Igor. Nesse caso, é importante analisar o que é mais adequado para o momento da vida financeira e escolher a opção que mais se encaixa.
Pagar o mínimo da fatura é cilada
Inevitavelmente, a conta chega! Marcello conta que o principal erro de quem usa cartão de crédito é fazer o pagamento mínimo da fatura. O pagamento parcial da fatura pode ser o início de uma bola de neve. “A pessoa pagará o mínimo e durante o mês continuará usando o cartão normalmente. No mês seguinte, o consumidor pagará a diferença de valor da última fatura — com juros e multas (exorbitantes) — e ainda os novos gastos. Isso pode ser extremamente prejudicial para a vida financeira desta pessoa”, descreve o contador.
Por isso, pagar a fatura integral e pontualmente é a maneira mais inteligente de usar o cartão de crédito. Nesse sentido, ser um bom usuário pode influenciar positivamente a pontuação de crédito e o score do consumidor tende a melhorar. O contrário funciona da mesma forma: fazer o pagamento mínimo ou com atraso também afetará os pontos de crédito.
“As taxas de juros cobradas pelos cartões de crédito são as mais caras que existem no Brasil, chegando a 400% dependendo do nível do cartão de crédito. Por isso, sempre recomendamos nunca parcelar a fatura”, alerta Igor.
Cuidado com as fraudes!
Sem dúvidas os cartões de crédito facilitam muito as transações financeiras em um universo cada vez mais digital. No entanto, a segurança dessas transações tem se tornado uma preocupação crescente, conforme revelam dados alarmantes. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), as fraudes financeiras aumentaram significativamente em 2021, com um aumento de 60%.
Um dos grupos mais vulneráveis são os idosos, frequentemente alvos de fraudes financeiras devido à sua menor familiaridade com a tecnologia e maior vulnerabilidade a golpes online. Os criminosos exploram diversas brechas para obter dados de cartões, desde sites de e-commerce pouco seguros até aplicativos mobile não protegidos, plataformas cada vez mais populares entre os consumidores.
Lucas Galvão, especialista em cibersegurança, Governança Corporativa e Desenvolvimento e Liderança e CEO da Open Cybersecurity, lista quais cuidados são indispensáveis na hora de recorrer ao pagamento por cartão de crédito em compras online e em lojas físicas.
Cuidados para comprar online: jamais deixe os dados do cartão de crédito expostos em sites não confiáveis. Sempre verifique a autenticidade de quem enviou o link ou mensagem antes de fornecer qualquer dado pessoal. Ao criar senhas para contas online, certifique-se de que sejam fortes e únicas. Evite fazer compras em redes Wi-Fi públicas.
Saiba como se proteger: o uso de tecnologias como autenticação de dois fatores e alerta de transações são cruciais para aumentar a segurança das transações com cartão de crédito. A autenticação de dois fatores adiciona uma camada extra de proteção, exigindo um segundo fator além da senha para acessar a conta, o que dificulta acessos não autorizados mesmo se a senha for comprometida.
Os alertas de transações notificam imediatamente o usuário sobre qualquer atividade com o cartão, permitindo uma resposta rápida diante de transações suspeitas e minimizando o impacto de fraudes financeiras.
Em transações físicas: medidas simples como a proteção adequada das maquininhas de cartões e a solicitação de documentos de identificação para compras de alto valor são essenciais. Essas práticas ajudam a evitar o uso de cartões roubados em transações presenciais, protegendo tanto os consumidores quanto os comerciantes.
Agir rapidamente pode evitar um grande prejuízo: se suspeitar que seus dados de cartão de crédito foram comprometidos, esteja atento às transações não reconhecidas, comunicações suspeitas solicitando informações pessoais, quedas inexplicáveis no seu score de crédito e recusas de pagamento sem motivo.
“Em caso de comprometimento, aja rapidamente: entre em contato com o banco para bloquear o cartão, monitore seus extratos, atualize suas senhas, registre um boletim de ocorrência se necessário, e informe as agências de crédito para colocar um alerta de fraude”, finaliza Lucas.
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