A Tupperware Brands, fabricante dos famosos potes de plástico, surpreendeu ao anunciar que corre risco de falência. Após 77 anos de mercado, a marca consolidada informou, por meio de uma nota oficial, que existem “dúvidas substanciais” sobre a capacidade de continuar operando. Com isso, a pergunta que resta para inúmeros clientes e revendedores é: a Tupperware vai acabar?
Para a economista Carla Beni, professora da Fundação Getúlio Vargas,a resposta é não. Contudo, a possibilidade da marca sobreviver depende bastante de uma reestruturação da empresa, criando um projeto consistente e robusto, além da definição de novos canais de mercado.
“A empresa precisa fazer um reposicionamento e usar esses 77 anos como um grande peso. Nessa restruturação, ela pode definir e fortalecer a operação do Brasil, que é muito considerável e relevante para a marca”, explica para AnaMaria Digital.
Na visão da economista, a Tupperware não acompanhou as mudanças comportamentais e tecnológicas da sociedade, apenas se mantendo dentro de uma estrutura de venda porta a porta – com as revendedoras – e reuniões entre mulheres.
“Ao longo desse tempo apareceram outros concorrentes, com preço e qualidade inferior, mas com impactos muito grandes. A própria estrutura da casa e a população jovem mudou, porque o jovem não tem essa aderência à marca e se preocupa mais com a questão sustentável”, afirma a economista.
Além disso, a empresa teve uma dificuldade de se adaptar com as novas tecnologias, não sabendo aproveitar novos canais de venda. “Isso tudo desembocou no anúncio de que está com dificuldade de honrar seus compromissos e precisa de um aporte financeiro”, explica.
DESCREDIBILIZADA
Nos últimos dias, a Tupperware divulgou um comunicado afirmando que não terá dinheiro suficiente para financiar suas operações se não garantir dinheiro adicional. “A companhia está explorando possíveis demissões e revisando seu portfólio imobiliário para possíveis esforços de economia de dinheiro.”
Carla afirma que este comunicado da matriz foi “muito ruim” para a própria marca. “Descredibilizou o futuro da empresa e criou uma dúvida, uma incerteza. São milhões de mulheres no mundo que vendem e dependem dessa venda”, explicou.
Vale ressaltar que a maior operação da Tupperware no mundo está localizada no Brasil. “A empresa precisa não apenas se explicar no padrão internacional, como reforçar o que vai ser feito com a operação brasileira”, diz a economista.
Agora, o que resta é aguardar quais serão os próximos passos da companhia e se ela vai priorizar a operação brasileira, com a possibilidade de fechar outras unidades no mundo. “O que é bem possível que aconteça”, avalia a professora.
O OUTRO LADO
No Brasil, a Tupperware não divulgou nenhuma informação específica sobre uma possível falência para as colaboradoras, como conta a analista de projetos Najla Sales, que é revendedora da marca. Ela afirma que sentiu uma queda nas vendas últimos meses devido ao aumento dos preços dos produtos.
“Em tese, as vendas Tupperware não geram lucros tão grandes pelo preço alto dos produtos. Um cliente costuma comprar um produto a cada mês, por exemplo. Então, os lucros são capazes de cobrir o abastecimento de Tupperware na minha própria residência e comprar itens de baixo valor do dia a dia, como roupas e calçados”, explica, destacando que a venda de produtos serve apenas como um complemento de renda.
DE PORTA EM PORTA
Apesar da necessidade de inovar o modelo de vendas, a tendência é que a Tupperware continue com o famoso contato de porta a porta entre revendedoras e clientes. “O porta a porta é muito importante, sendo os grupos de Facebook e WhatsApp complementares. O porta a porta vai continuar existindo porque está muito solidificado no Brasil. Já os grupos virtuais acabam ampliando esse modelo”, diz Carla.
Najla comprova a explicação da economista. Isto porque ela usa as plataformas tecnológicas para efetuar suas vendas. “O modelo mais aderente é o WhatsApp, sendo por onde eu envio o catálogo digital e, ali mesmo, o cliente faz o pedido. Apenas no dia da entrega que levo até o local.”