Recursos rápidos nem sempre são os mais indicados para cuidados com a saúde, mas é o que a maioria dos brasileiros têm buscado na quarentena. Tanto que número de downloads de aplicativos de treinamento físico no Brasil saltaram de 1,2 para 4,4 milhões por semana, de acordo com dados da consultoria especializada App Annie.
Apesar de a tecnologia ser muito útil durante o isolamento social devido a pandemia do coronvírus, tentar alcançar resultados de forma muito rápida pode levar a sérios riscos. É o que alerta o educador físico Nuno Cobra Júnior, autor do livro ‘O Músculo da Alma – A chave para a sabedoria corporal’ e filho do conceituado Nuno Cobra, um dos maiores nomes do treinamento físico e mental no Brasil.
“Os aplicativos são o futuro do treinamento. No entanto, posso dizer que ainda estamos na ‘idade da pedra’ em relação à sua qualidade. Eles são baseados em modas que, normalmente, estão associadas ao bom resultado a curto prazo. Falta informação sobre a graduação dos exercícios e uma análise mais cuidadosa do perfil do aluno”, diz.
CUIDADOS E RISCOS
Mas, calma: o especialista em treinamento consciente e integral não é contra a utilização das plataformas. No entanto, afirma que é preciso ter senso crítico para aproveitá-las. Segundo ele, o uso indiscriminado oferece riscos cardíaco e ortopédico, além da possibilidade de Síndrome de Excesso de Treinamento. Técnicas somáticas baseadas na consciência corporal, como pilates, ioga e Body Mind Centering (BMC®) são as que possuem menos contraindicações.
As lives de atividades físicas também têm angariado altíssimas audiências. Assim como a venda de artigos esportivos, que cresceu cerca de 200%, de acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABCOMM).
Trazer a sensação de que qualquer pessoa pode executar aqueles movimentos é outro ponto sensível e que merece atenção dos profissionais da área: “O ideal é que o educador físico adapte o mesmo exercício a diversos níveis de acordo com o perfil de cada aluno. Esta graduação deve ter, pelos menos, cinco níveis”.
Cobra Júnior ressalta ainda a importância de se levar em consideração que existem pessoas assistindo que nunca se exercitaram, que não treinam há muito tempo, obesas ou com sobrepeso, além de terem lesões crônicas. “Realizando um treino de recomendação massificada, elas podem se machucar. São indivíduos que não podem praticar exercícios extremos ou acelerar resultados”, alerta.
POR QUE ISSO ACONTECE?
O educador físico credita a popularidade destes tipos de exercício a três principais fatores: a promessa de corpo perfeito em pouco tempo ou malhar em companhia de um famoso, à praticidade e à gratuidade.
“Não existe corpo perfeito e ninguém fica sarado do dia pra noite. Estas desonestas estratégias levam as pessoas a seguirem uma receita fadada à frustração, colaborando para o aumento do sedentarismo e dificultando a adesão do aluno a qualquer tipo de atividade física”. E os tipos físicos diferentes também devem ser aceitos pela sociedade: “Quando uma pessoa contrasta com uma realidade cada vez mais idealizada, ela está sendo estimulada ao exagero, ao radicalismo e à desistência”.
O autor ainda complementa a informação mencionando um infográfico de sua obra no qual compara o corpo do Batman ao longo de décadas. “O super-herói foi ficando cada vez mais magro e mais musculoso. Esta é uma cruel estratégia da indústria para fidelizar o público. E, na maior parte dos casos, esta meta é inalcançável”.
ALÉM DO CORPO
Um treinamento físico eficaz e íntegro também contempla a saúde mental, entendendo o próprio corpo.
“As modas distorcem os princípios fundamentais da saúde corporal. Treinamentos a curto prazo são os mais ineficientes e nocivos. Os processos não devem ser acelerados, devem ser respeitados, dentro do limite de cada um. Quanto mais pressa na busca do corpo perfeito, mais rápido você consome suas articulações e cartilagens. Aliás, o corpo perfeito é inatingível. Menos de 1% da população se adequa a este perfil fitness”, conclui.