Não é segredo que a geração alpha (nascidos a partir de 2010) adotou as redes sociais e aderem as mais diversas tendências, incluindo as de beleza. Elas imitam aquilo que observam e, muitas vezes sem instrução, recorrem aos produtos dos pais para reproduzirem aquilo que assistem na internet. É o chamado skincare infantil, que virou uma febre entre crianças e adolescente.
Tanto que, as hashtags #SephoraKids ou #ChildSkincare (cuidado com a pele para crianças) já acumulam mais de 400 milhões de visualizações em redes como TikTok e Instagram.
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Além de jovens e adultos, as lojas de cosméticos também passaram a ver seus corredores repletos de crianças e pré-adolescentes, que buscam produtos que não precisam, como se fossem brinquedos. Os efeitos dessa prática compromete não apenas o comportamento esperado para a faixa etária, mas também a saúde da pele.
“São produtos desnecessários e podem causar alergias, como os eczemas ou acne e até mesmo induzir uma acne cosmética. Também induz as crianças a terem atitudes de adultos e não de crianças”, avalia a dermatologista Viviane Scarpa, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), à AnaMaria.
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A médica destaca que o skincare infantil precisa dos cuidados básicos e essenciais para qualquer idade: limpeza, hidratação e fotoproteção. Entretanto, até mesmo essa rotina exige produtos específicos para a faixa etária, salvo nos casos em que a criança tem alguma doença específica, como dermatite atópica.
“Muitos produtos de skincare contém ingredientes que podem funcionar como desregulados endócrinos, que são substâncias que podem agir no corpo da criança como se fosse um hormônio e podem causar sérios problemas, como puberdade precoce, distúrbios da tiroide e até mesmo aumento do risco de certos tipos de câncer”, alerta a dermatologista.
Maria Paula Del Nero, dermatologista e também membro da SBD, avalia que a internet não é o melhor lugar para escolher os ativos para a pele. “Produtos cosméticos devem ser indicados pelo dermatologista e não na internet para não correr riscos de alergias e queimaduras”, ressalta.
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Investimento em skincare infantil
Foi através deste comportamento de crianças usarem produtos com ativos indicados para adultos que algumas marcas resolveram investir em cosméticos infantis.
A Vizzela, por exemplo, criou sua primeira linha Kids, composta por batom bala, gloss, paleta de sombras e uma deo colônia. Os produtos são indicados para a partir dos 3 anos, com supervisão de um adulto. Além disso, eles são livres de alumínios e outros componentes que podem agredir a saúde das crianças.
Crianças podem usar produtos para rejuvenescer? Cuidado!
“Observamos uma crescente no mercado pelo interesse das crianças em usar produtos como maquiagem. No mercado já existem inúmeros produtos que se dizem destinados para crianças, mas sabemos que, muitas vezes, eles podem ser muito prejudiciais à saúde dos pequenos. Muitas mães vinham nos falar que os filhos pegavam suas maquiagens e queriam usar. Assim, resolvemos criar a linha kids, que é 100% segura para as crianças, já que fomos muito criteriosos em todas as etapas, desde a formulação dos produtos até a identidade visual das embalagens”, afirma Aline Waiser, sócia e diretora de Marketing da Vizzela, à AnaMaria.
Ela explica que a linha Kids é pequena para que seja um brinquedo para o público infantil. “Entendemos que esses são os produtos que mais geram interesse das crianças, muito por conta das cores e texturas, além de que, uma criança não precisa de uma linha extensa, já que a maquiagem tem que fazer parte das brincadeiras e não vista como uma obrigação para os pequenos”, diz.
Segundo a médica Maria Paula, não existe idade para iniciar os cuidados com a pele. “Até os bebezinhos precisam hidratar e passar protetor solar. Não existe idade para começar”, diz.
Indo neste caminho, outra marca que também resolveu ampliar seu catálogo é a Pampers com a Linha de Cuidados Pampers, indicada para bebês e recém-nascidos. A linha é composta por sabonete, shampoo, condicionador, loção e óleo hidratante.
“Os produtos contam com fórmula comprovada por testes de eficácia, que não incluem nenhum processo animal em toda a sua cadeia, e são recomendados por pediatras e dermatologistas”, afirma a marca.
Ou seja, o mercado de beleza tem olhado com mais atenção para o comportamento de crianças que imitam aquilo que assistem nas redes sociais e acabam usando produtos para adultos. Neste sentido, muitas marcas têm apostado em linhas específicas para o público infantil.
“Esta estratégia deve levar em conta a saúde física e mental desta faixa etária. Estimular o consumo de produtos desnecessários vai contra o que nós médicos recomendamos”, destaca Viviane.
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