Ver alguns fios de cabelo caírem no travesseiro, no ralo do banheiro ou na escova é algo tão comum que, muitas vezes, passa despercebido. Em outros momentos, a queda de cabelo parece aumentar de forma repentina, causando preocupação e até um impacto direto na autoestima.
Apesar de assustar, a queda capilar pode ter muitas causas – nem sempre graves – e é um sintoma que merece atenção quando foge da rotina. Conversamos com a tricologista Natasha Veloso, do Espaço Oasyum Refúgio Urbano, e com a dermatologista Raphaella Marques para entender esse processo.
Antes de tudo, cair o cabelo é normal
Pessoas que lavam o cabelo diariamente podem perder entre 50 e 150 fios por dia. Para quem espaça as lavagens, essa quantidade pode parecer ainda maior – e está tudo bem.
Isso acontece porque os cabelos têm um ciclo de vida composto por três fases: crescimento (anágena), transição (catágena) e queda (telógena). Ou seja, perder fios faz parte da renovação capilar. A queda só passa a ser preocupante quando ocorre de forma mais intensa ou repentina, alterando significativamente a rotina habitual dos fios.
“Mesmo que a pessoa não esteja ultrapassando os 150 fios por dia, uma mudança muito abrupta no padrão de queda pode ser um sinal de alerta. É importante observar o comportamento do cabelo e procurar ajuda antes que a situação se agrave”, explica Natasha.
Quais são os tipos de queda capilar?
A queda de cabelo pode ser classificada entre três tipos. Explicamos abaixo:
Eflúvio telógeno: Essa é uma das causas mais comuns. Ele costuma aparecer após doenças, como covid-19 ou dengue, e também pode surgir após cirurgias, dietas muito restritivas, uso de medicamentos para emagrecer, parto ou estresse intenso.
Alopecia androgenética: Mais conhecida como calvície, tem origem genética e costuma evoluir com o tempo.
Alopecia areata: Envolve falhas localizadas no couro cabeludo e pode estar relacionada a distúrbios autoimunes.
É importante lembrar que queda capilar não é uma doença, mas um sintoma. Por isso, o diagnóstico correto é fundamental para tratar o problema de forma eficaz. “Tudo que afeta o nosso metabolismo, como doenças da tireoide, obesidade, disfunções intestinais ou deficiências vitamínicas, pode impactar diretamente a saúde dos fios”, afirma a dermatologista.
Como diferenciar o normal do problema?
Vale observar tanto a quantidade de fios perdidos quanto a densidade capilar. Se o cabelo começa a afinar, perder volume ou se há mudanças bruscas no padrão de queda, pode ser preocupante.
Outro ponto de atenção é a perda de massa capilar. Quando os fios não estão apenas caindo, mas desaparecendo, deixando áreas com menor cobertura ou exigindo mais voltas no elástico para prender o cabelo. Nesses casos, é essencial buscar ajuda especializada.
“É diferente quando os fios caem e quando eles somem. Na queda, os fios se soltam, mas continuam nascendo. Já na perda de volume, muitas vezes, estamos diante de doenças do couro cabeludo”, alerta Natasha.
E a alopecia?
Alopecia é o termo usado para descrever diferentes formas de queda de cabelo. A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) estima que cerca de 42 milhões de brasileiros são afetados por essa condição. “A alopecia é uma das principais causas de queixa nos consultórios dermatológicos”, confirma a dermatologista Raphaella Marques. Celebridades como Xuxa, que chegou a fazer transplante capilar para recuperar o volume dos fios, Deborah Secco e Jada Pinkett Smith já compartilharam suas experiências com diferentes tipos da doença.
Além da androgenética e na areata, já citadas, há também a cicatricial e a não-cicatricial. Enquanto a primeira provoca falhas circulares e súbitas nos cabelos, em que o organismo ataca os próprios folículos capilares; na segunda, os folículos não são destruídos, e em alguns casos, o cabelo pode voltar a crescer com o tratamento adequado.
Entre as causas, estão fatores genéticos, desequilíbrios hormonais, doenças autoimunes, como lúpus e tireoidite, uso de medicamentos, traumas físicos, estresse e até deficiências nutricionais.
O tratamento busca conter a queda e, em alguns casos, recuperar parte dos fios perdidos. Os tratamentos injetáveis são recomendados em situações específicas e costumam ser mais caros. O transplante capilar, como o realizado por Xuxa, é indicado para casos em que a perda capilar já é extensa e outras abordagens não surtiram efeito.
Apesar das várias possibilidades graças às novas tecnologias, o importante é o acompanhamento médico contínuo, já que se trata de uma condição crônica.
Shampoo antiqueda funciona?
Não há comprovação científica de que eles funcionem para interromper a queda capilar. O que eles fazem, na prática, é ajudar na reconstrução da fibra e na prevenção da quebra dos fios, o que pode até melhorar a aparência do cabelo, mas não age na causa real da queda.
“Se você olhar o rótulo com atenção, verá que esses shampoos prometem combater a quebra, não a queda. Isso porque eles apenas fazem reposição proteica, o que fortalece o fio, mas não trata o problema real”, complementa a tricologista.
Além disso, o uso inadequado de shampoos e condicionadores – ou seja, escolhidos sem considerar o tipo de couro cabeludo – pode piorar o problema, aumentando a oleosidade, alterando a microbiota natural e favorecendo inflamações. Por isso, vale repensar a rotina de cuidados com os fios.
Ao contrário dos shampoos, Raphaella acrescenta que outros produtos, como tônicos capilares com minoxidil podem ser mais eficazes como possíveis tratamentos caseiros. No entanto, ela reforça que devem ser usados com acompanhamento e recomendação médica.
Tratamentos possíveis para queda de cabelo
Os tratamentos variam de acordo com a causa da queda. Em muitos casos, é necessário corrigir deficiências nutricionais por meio de suplementação – sempre baseada em exames específicos. O curioso é que os níveis ideais de vitaminas para a saúde do cabelo são mais altos do que os considerados normais para outras funções do corpo.
“No caso da vitamina D, por exemplo, os níveis desejáveis para a saúde geral ficam em torno de 30. Já para o cabelo, queremos acima de 70 para que ele volte a produzir fios com qualidade”, explica Natasha. “O mesmo vale para a vitamina B12 e outros nutrientes — os valores de referência mudam quando o objetivo é recuperar o cabelo.”
Além disso, podem ser indicados antioxidantes, para combater o estresse oxidativo, e terapias tópicas, como loções manipuladas e tônicos. Outra abordagem é o MMP (Microinfusão de Medicamentos na Pele) capilar, que injeta medicações diretamente no couro cabeludo, associado ao uso de tecnologias como LED terapia, com bons resultados na estimulação dos folículos.
No entanto, nenhuma dessas técnicas funciona sozinha. O cuidado com o corpo como um todo – sono, alimentação, equilíbrio hormonal e saúde emocional – também é peça-chave no tratamento da queda capilar. O cabelo, afinal, é reflexo da saúde geral.
“Evitar fontes térmicas em excesso, manter uma rotina de cuidados capilares e tratar eventuais doenças de base são atitudes fundamentais para manter os fios fortes e saudáveis”, finaliza Raphaella.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (15 de agosto). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.
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