Ninguém fala direito sobre o assunto, mas há muitos salões de beleza e espaços próprios para depilação que reutilizam as ceras,
tudo a fim de economizar. As profissionais e clientes que acreditam que isso não tem importância precisam prestar atenção: a temperatura da termocera – aquele aparelho que esquenta o produto – não é capaz de matar todos os micro-organismos ali presentes. “A termocera chega, no máximo, a 38 ºC – insuficientes para matar fungos, bactérias e vírus. Na realidade, o efeito é ainda pior: esses micro-organismos se proliferam no calor e na umidade”, explica Daniela Pontes, coordenadora técnica do Congresso de Depilação da Beauty Fair. Segundo a profissional, para você entender como a reutilização de cera pode ser prejudicial à saúde, doenças como micoses, foliculite, furunculose, herpes, hepatite, HPV e HIV podem ser transmitidas com apenas uma aplicação na pele. Aprenda já a se proteger!
O problema é esse…
O processo de reciclagem funciona da seguinte maneira: a cera utilizada durante o dia é levada ao fogo para derreter novamente; após o derretimento, ela é peneirada, de forma a ficar sem pelos. Sentiu arrepio só de pensar? Feito isso, o produto está “pronto” para ser reutilizado em outras clientes. “O problema disso é que muitas mulheres e homens que vão à depilação não estão devidamente higienizados. Tem até aquelas pessoas que aparecem para depilar com restos de fezes e espermas pelo corpo”, conta Daniela. Agora, imagina fazer depilação íntima ou até mesmo o buço e nariz com essa cera… Ecaaaa! De nada vale, porém,
descartar a cera e utilizar a mesma espátula em todas as clientes. “É importante saber que as espátulas de madeira não são
esterilizadas e são grandes acumuladoras de micro-organismos. Já as de inox, que podem ser colocadas na autoclave (aparelho próprio para esterilização), não devem entrar em contato com a pele da cliente e voltar para a termocera”. Por isso, Daniela recomenda que a profissional forre a termocera com papel celofane e coloque a quantidade exata de cera para cada cliente, de forma a não haver desperdício de material. Se preferir, pode usar palito de sorvete para aplicar a cera no corpo e descartar toda vez
que for colocar de novo.
Formas de contágio
De acordo com Daniela, a contaminação pode ocorrer de cinco maneiras:
1. Quando um cliente doente faz depilação e o profissional recicla a cera e a reutiliza em outra pessoa.
2. “O equipamento do roll-on deve entrar em contato somente com a pele de um cliente. Sobrou muita cera? O profissional terá
que descartar o refil”, recomenda ela.
3. Quando o profissional aplica a cera com palito de sorvete ou abaixador de língua no cliente contaminado, volta a mesma espátula para a termocera e reutiliza o restante da cera que sobrou daquele procedimento em outro cliente.
4. Doenças também podem ser transmitidas pela profissional, caso ela trabalhe sem os equipamentos de proteção individual, como luvas, máscara e jaleco. “As luvas são imprescindíveis: se a depiladora tiver uma lesão, verruga no dedo ou doenças como
hepatite e HIV, poderá transmitir esse mal para os seus clientes”, esclarece.
5. O uso de pinças e tesouras também pode facilitar o contágio. “Essas ferramentas devem ser descartáveis. Se forem de inox, a profissional terá que deixá-los por dez minutos mergulhados no detergente enzimático, depois esfregar bem, enxaguar e secar com
papel-toalha. Para finalizar, é preciso colocá-los no pacote próprio e esterilizar na autoclave”, explica Daniela. Parece muito, mas é o básico, viu?
Com saúde não se brinca!
Pensando em todos os riscos aos quais a depilação com cera pode nos expor, Daniela listou nove cuidados que nos mantêm bem longe das doenças:
1 Evite ir a lugares que separam a cera em caixa de papelão ou balde de ferro, pois, provavelmente, a cera é reciclada.
2 O local que você fará o procedimento precisa estar limpo desde a recepção até a maca.
3 Certifique-se de que a depiladora lave as mãos antes e após cada cliente e utilize jaleco, luvas, máscara e cabelo preso. Importantíssimo!
4 A profissional deve higienizar as partes que serão depiladas com produtos pré-depilatórios. “A limpeza diminui a quantidade de
micro-organismos na pele, impedindo, assim, que eles causem alguma infecção”, diz. É essencial também utilizar produtos pós-depilatórios depois que o procedimento acabar, para acalmar a pele.
5 Observe se a cera é descartada no lixo e as espátulas são jogadas fora a cada aplicação na pele. Luvas e algodões que tiveram contato com seu corpo também devem ir para o lixo.
6 O lixo deve ter pedal, para a profissional não ter contato manual com ele.
7 Não basta só trocar de lençol de papel entre uma depilação e outra: a maca precisa ser higienizada com álcool antes. “O motivo desse cuidado é que, na maioria das vezes, o papel rasga durante a depilação, deixando a maca cheia de pelos”, diz Daniela.
8 Não faça depilação menstruada. “O sangue transmite doenças e, como há muitas depiladoras que não utilizam luvas, se a cliente tiver alguma doença, como HIV, o risco de contaminar a profissional é grande”, explica ela. O contágio também pode acontecer se a depiladora utilizar a mesma espátula em todos os clientes.
9 Está com alguma ferida no corpo? Peça à depiladora que não coloque a cera em cima, pois isso piora o machucado.
Recomendações para profissionais de beleza:
Tome vacina contra a hepatite B, doença que pode ser transmitida pelo sangue, por secreções corporais e por meio de situações
rotineiras, como compartilhamento de alicates de unha. O Ministério da Saúde oferece a vacina gratuitamente nos postos de saúde do SUS.
O corpo da cliente apresenta alguma lesão ou ferida? Oriente-a a procurar um médico.
Alguns problemas de pele, como o vitiligo, exigem cuidado extra no tocante à temperatura da cera. Se a pessoa estiver com alguma micose ou herpes, a depilação não é recomendada.