Elaine Soares Bastos, viúva do cantor Paulinho, do Roupa Nova, que faleceu em dezembro de 2020, após complicações causadas pela covid-19, resolveu resgatar o sêmen congelado pelo amado em 2013, quando estavam tendo dificuldades em gerar filhos. Agora, por meio da fertilização in vitro, ela pretende transformá-lo em embrião para tentar engravidar do amado.
Mas se engana quem acha que esse é um procedimento pouco utilizado! Na verdade, ele vem sendo cada vez mais cotado por mulheres que não conseguem engravidar ou querem se preparar para o futuro, guardando óvulos para tentarem engravidar mais tarde.
Para entender um pouco melhor o assunto, AnaMaria Digital conversou com o ginecologista e obstetra Geraldo Caldeira e esclareceu os pontos mais importantes do processo.
COMO FUNCIONA?
A fertilização in vitro, ou FIV, é um procedimento de gravidez alternativo que envolve uma fecundação artificial. Tudo começa com a estimulação dos ovários da mulher, para que ela produza, em média, 12 óvulos.
A coleta, por sua vez, é feita através de sedação e via transvaginal, por um exame que não oferece nenhum tipo de invasão ao corpo feminino. Na sequência, os “ovinhos” são enviados para o laboratório, para terem suas qualidades de fecundação avaliadas.
O sêmen coletado do homem é, então, fecundado no óvulo da mulher, criando um embrião. E a tentativa de gravidez pode acontecer cerca de cinco dias depois, quando o embrião pronto pode ser transferido para o útero da mulher. Aí é aguardar para ver se ele se fixa no endométrio e a gestação acontece.
SÓ ISSO?
É importante mencionar que o processo, em si, exige todo um cuidado anterior para garantir que tudo corra bem. “Antes da fertilização, ajustamos taxas hormonais da paciente, para corrigir qualquer alteração. Toda essa parte é feita antes de estimular a ovulação, com vitamina e complexos vitamínicos”, explica o médico.
Assim que essa parte estiver em dia, vem o cuidado durante o procedimento. Segundo Caldeira, é nessa hora que são introduzidas injeções para estimular a ovulação e feitos os ultrassons, a cada 2 ou 3 dias, para acompanhar o crescimento dos folículos, ou seja, das unidades que liberam os óvulos.
ALTOS E BAIXOS
Falando assim, pode parecer bem simples, mas tem um fator que pode ser o responsável pelo sucesso ou fracasso da FIV: a idade.
“A dificuldade na fertilização in vitro é a idade da paciente. Quanto mais velha, menos óvulos ela tem, além da qualidade ser pior”, ressalta. Desse modo, conforme a idade da mulher vai avançando, diminuem as chances de desenvolver embriões saudáveis.
Contudo, tem um ponto positivo que também merece destaque: a alta taxa de gravidez. Segundo o ginecologista, os números médios circundam os 60%, sendo que esse fator também leva em conta a idade da paciente.
Mas Caldeira revela que, para as mulheres mais velhas, também há uma luz no fim do túnel: “Após os 38 anos, indicamos o estudo genético dos embriões. Quando conseguimos um embrião geneticamente saudável, a paciente volta a ter uma taxa de sucesso muito alta, como a da paciente jovem”.
E A BUROCRACIA?
Como um procedimento médico, a fertilização in vitro também exige que algumas coisas burocráticas sejam resolvidas, entre elas, as autorizações para utilização do material genético, ou seja, dos óvulos, sêmen e embriões.
No caso de Elaine, que tenta engravidar após a morte do marido, Paulinho, ela não precisou passar por nada complexo, uma vez que o cantor já havia deixado uma declaração autorizando o uso de seu material genético pela amada.
Entretanto, se, diferentemente de Paulinho, o parceiro não deixou uma autorização, a situação fica um pouco diferente, como esclarece o especialista: “Aí será necessário entrar com um pedido judicial, para que o juiz autorize ela a usar o material genético do falecido”.
ÚLTIMOS DETALHES
Precisar de ajuda para engravidar não é nenhum bicho de sete cabeças, ainda mais considerando que, em média, 20% dos casais têm alguma dificuldade. E, se o casal não decidiu quando ou se usará o material, também não tem motivo para estresse, já que ele pode ficar congelado pelo tempo que for desejado.
“O sêmen, o óvulo e os embriões podem ficar congelados por tempo que a paciente necessitar ou desejar. Há pacientes que têm sêmen, embrião ou óvulo congelado há dez anos, por exemplo”, diz Geraldo.
QUANTO CUSTA?
Por fim, é importante ressaltar que a fertilização in vitro não é um processo barato. No Brasil, o procedimento pode variar entre R$ 10 e R$ 20 mil reais cada tentativa, dependendo sempre do médico, clínica ou interesse dos pacientes. De todo modo, antes de realizá-lo, é sempre importante fazer um ‘pé de meia’ para não ter surpresas e, claro, marcar uma consulta com o ginecologista que acompanhará o caso.