“Você fugiria comigo hoje?”, perguntou o amante afoito e inconsequente, mais pela frase de efeito do que pela proposta arrebatadora nela contida. “Não”, respondeu a heroína, menos preocupada em dar corda à aventura romântica, digna de sessão da tarde, e mais focada em edificar sonhos. “Antes de ir, tenho que fechar a casa e fazer malas definitivas. Me certificar de não deixar torneiras abertas e janelas sem trinco. Varrer toda a poeira que levei para dentro com meus próprios pés. Regar as plantas, contando que outro jardineiro não demore a encontrá-las. Cobrir móveis, recolher as lembranças que vão me servir e deixar as que já não são mais úteis. E só assim estarei saindo completa e não chegarei aos pedaços na próxima história.”
Viver um novo amor requer ter acompanhado toda a novela anterior, com os bons e os maus capítulos, sem pular nenhum. Sair pela porta dos fundos de uma relação vai te obrigar a ingressar na outra igualmente pela entrada de serviço e um amor que se propõe ser verdadeiro merece chegar com tapete vermelho e não pela cozinha.
Caso contrário é como tentar trocar o pneu com o carro em movimento ou atravessar a rua sem olhar os dois lados, maximizando as chances de atropelar relacionamentos. A gente precisa fechar ciclos, reconhecer erros e acertos praticados anteriormente, se certificar de que não está faltando nada, nenhum pedacinho do coração, antes de iniciar novamente um projeto amoroso. Porque coração machucado é como roupa rasgada: a gente não oferece a ninguém sem consertar.
Quando temos uma festa especial planejamos o vestido, arrumamos o cabelo e nos esmeramos na maquiagem. Igualmente quando a ideia é ser bem-sucedido em uma prova, o caminho passa por se debruçar nos estudos e, com isso, ter mais chances de sucesso. Uma nova vida a dois também requer planejamento. Um reencontro íntimo, de acerto de contas com a gente mesmo, para só então zerarmos o hodômetro e pegarmos a nova estrada, já com todas as revisões feitas.
RENOVE OS VOTOS DE AMOR PRÓPRIO
Antes de se jogar nos braços que te esperam, ainda restam algumas lições de casa a fazer: em primeiro lugar, renovar os votos com aquele que deveria ser o primeiro e mais importante amor de sua vida e a quem se deve fidelidade eterna: você mesmo.
Além disso, quando se tem uma segunda – ou terceira ou quarta… – chance de viver uma história de amor, vale permitir um tempo sabático, de organizar pensamentos e prioridades, entendendo – às vezes pela primeira vez – que em uma viagem a dois é possível compartilhar a cama, as contas e até a pasta de dentes. Mas seus desejos e sonhos devem ir na bagagem de mão, minimizando a chance de extraviarem. Porque eles são frágeis, pessoais e intransferíveis.
WAL REIS é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida. Blog: www.walreisemoutraspalavras.com.br