Comprometemos nossa palavra de mãos dadas em uma praia paradisíaca ou num cartório simples. Dentro do cinema. Na igreja ou na cama. E afiançamos o amor eterno porque, naquele momento, ele era forte o bastante para ser eterno. Era a nossa verdade. Mas esquecemos que mesmo verdades absolutas podem ser transitórias e, às vezes, sabotam o amor.
Aceitamos como evolução a troca de emprego, de casa, de faculdade, mesmo faltando um semestre para concluir o curso. Variamos o corte e a cor dos cabelos durante toda a vida. Temos ímpeto de rasgar os livros de história depois de entender que eles nos contavam lorotas convenientes.
As voltas atrás são aceitas em quase todas as áreas. No entanto, quando a vontade de romper paradigmas bate à porta dos relacionamentos amorosos, a condescendência não é a mesma porque era para durar infinitamente. Era o combinado.
E não importa se você já não é mais a mesma pessoa que, lá atrás, acreditou no infindável. Não importa se, na época do “sim” era sedentário e hoje corre maratonas. A plateia não aceita. Talvez nem você mesmo aceite, porque parece contravenção. Afinal, sua palavra de honra foi empenhada. E tem outra pessoa ali que, não necessariamente, está acompanhando a variação de rota.
DE MALAS PRONTAS
Mas essa contravenção é o único caminho quando o amor, sem cerimônia, faz as malas e te deixa para trás, com a missão de carregar o vazio mais pesado do mundo. Você o olha partir, imaginando por onde começar a desorganizar a arrumação.
Tudo construído até ali foi planejado para ficar estanque: móveis, utensílios, rotina, preferências e vontades. Tudo fixado nas bases para aguentar firme e não sofrer avarias. Talvez por isso, quando o terremoto chega e não deixa pedra sobre pedra, todos querem um porquê convincente para o estrago, para tamanha insensatez. Quando, na realidade, insensatez é não aceitar que o amor sem fim, em certas circunstâncias, chega com prazo de validade.
O problema é que dá um trabalho enorme ser vilão nesse conto de fadas desbotado. Por isso, muitos desistem e esperam a inquietação passar, como se fosse uma virose rara. Trancam sonhos dentro de uma gaveta emperrada no coração, esperando que eles nunca mais saiam dali. E a vida se transforma em uma fotografia de antigamente: a gente folheia o álbum, buscando resgatar a motivação dos sorrisos que amarelaram com o tempo.
Até que, aos poucos, se vai parando de tentar promover mudanças. O cansaço vence e ninguém deveria se orgulhar disso, mas é assim que é. Mantém-se o cardápio de domingo, a decoração da sala e segue-se usando o mesmo terno fora de moda para todas as festas da família. O “para sempre” ganhou e você perdeu.
*Wal Reis é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida. Blog: www.walreisemoutraspalavras.com.br