Pouco a pouco a cidade de São Paulo volta a funcionar em meio à pandemia do novo coronavírus. De acordo com as regras estaduais, a fase 2 do plano de reabertura permite que parte das atividades econômicas sejam retomadas. Mas será que essa volta é segura para a saúde de todos?
Seguindo essa linha de preocupação, os edifícios comerciais da cidade têm planejado a melhor forma de voltar a receber frequentadores. É o caso do São Paulo Corporate Towers, o SPCTowers, localizado na Avenida Juscelino Kubitschek, que estabeleceu medidas de segurança com validação do Hospital Sírio-Libanês.
“O planejamento do edifício tem servido de guia para que as empresas adequem também seus espaços individuais. Toda comunicação e sinalização já está implantada em todos os sites com as devidas orientações”, afirmou Fábio Martins, diretor de gerenciamento da JLL, empresa que administra o condomínio.
As orientações também se aplicam ao Berrini 550, edifício localizado na Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini que abriga 25 empresas. “Agora teremos que ser reativos. À medida que o retorno vai acontecendo, nós vamos adequar nosso pessoal. Mas existe um programa pra isso”, garante o síndico Wilson Favieri Filho.
Na contramão de muitos edifícios na cidade, o tradicional Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, se manteve aberto durante todo o período de quarentena decretado pelo estado. De acordo com o administrador do prédio, Luís Vahr, não foi possível fechar pelo fato de o edifício abrigar alguns estabelecimentos, como mercados e farmácias, considerados serviços essenciais.
O QUE MUDA?
Os prédios seguem os protocolos de segurança que precisam ser validados pela Vigilância Sanitária Municipal e envolvem temas como a questão do distanciamento, da higiene e a orientação necessária para os clientes.
“Tivemos redução do quadro de funcionários, preocupação com a limpeza em geral, principalmente nas áreas comuns, álcool gel em todas as passagens, sinalização de piso, barreiras físicas, sugestão para funcionários de medição de temperatura, testes de Covid-19 e uso de máscaras, que nós vamos disponibilizar e são obrigatórias”, detalha Wilson, do Berrini 550. Apesar disso, ele ressalta que cada escritório tem autonomia para também estabelecer suas próprias normas.
O mesmo se aplica ao SPCTowers em relação a ambientes comuns sinalizados e com controle de quantidade de pessoas. “Temos novos treinamentos para a equipe, desativação da biometria no sistema de controle eletrônico de acesso, self-parking, isto é, o próprio dono do veículo estaciona o carro. Quanto ao delivery, foi reservada uma área exclusiva para a entrega de produtos”, esclarece Fábio.
Já Luís destaca que, desde o decreto de quarentena, o Conjunto Nacional adotou protocolos de limpeza mais intensificados nas áreas comuns, pontos de álcool gel, sinalização para o uso obrigatório de máscaras e distanciamento. “O básico. Aquilo que todo mundo está fazendo.”
FUNCIONA MESMO?
Na visão do infectologista Renato Grinbaum, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, esta flexibilização é “inevitável”, visto que existem setores que precisam retomar às atividades e a capital paulista apresenta uma diminuição no número de casos. Contudo, observa que ainda não existe uma vacina contra o COVID-19: “Ninguém garante que não haja transmissão nesses lugares.”
Dito isso, o especialista avalia que esses são os protocolos mais eficazes atualmente quando falamos da volta aos escritórios. Apesar disso, questiona a validade de algumas medidas, como medir a temperatura das pessoas na porta: “O problema é achar que está seguro por não ter febre, mas as pessoas podem ser agentes transmissores mesmo sem sintomas. Essa medida pode ser útil apenas se aliada com as outras”, diz.
Quanto às medidas que envolvem entregas, Grinbaum ressalta que não fazem sentido. “Apenas causam uma falsa sensação de segurança. Essas embalagens de delivery não possuem a capacidade de transmitir o vírus”, afirma.
Um estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças de Guangzhou, na China, mostrou que o fluxo de ar do aparelho de ar-condicionado pode facilitar na transmissão do vírus. No entanto, de acordo com Grinbaum, a ventilação dos ambientes, o distanciamento social e uso de máscaras são eficazes para diminuir sua propagação.
O SPTower garante que realizará a substituição dos filtros dos equipamentos, conforme o programa de manutenção preventiva em conjunto com a limpeza geral de todo o equipamento sempre que houver a ocorrência de uma pessoa contaminada no edifício. Além disso, afirma que renovação de ar dos ambientes se efetua exclusivamente com ar externo.
Ponto de álcool gel e orientação para uso de máscara no Berrini 550 (FOTO: Arquivo Berrini 550)
O “NOVO NORMAL”
Mesmo com a flexibilização, os síndicos entrevistados por AnaMaria Digital ainda sentem que existe o receio de voltar às atividades. No Berrini 550, a ocupação não chegou a 10% da quantidade de visitantes que costumava receber antes da pandemia, isto é, os cerca de 900 frequentadores diários.
Wilson afirma que o retorno têm sido lento e as expectativas mudam a cada semana. “As empresas têm um nível de consciência muito grande. Todas têm quadro reduzido, em home office, ou estão trabalhando com revezamento”, disse.
Já Fábio conta que o edifício da Avenida Juscelino Kubistchek segue na mesma linha e o movimento tem subido gradativamente, recebendo 20% do público anterior, que era de aproximadamente 13 mil pessoas por dia.
Waneska Rodrigues, que trabalha como bancária na Avenida Paulista e iniciou o home office na segunda quinzena de março, diz que sente falta do escritório e do contato com as pessoas.
“O que antes podíamos resolver num café, no corredor ou numa conversa de elevador, hoje é muito mais complexo e exige, de certa forma, mais dedicação”, conta. Ela afirma que não se sente segura para retomar às atividades presenciais diante do atual cenário, sobretudo por ser usuária do transporte público da cidade.
O Conjunto Nacional, que recebia aproximadamente 50 mil visitantes por dias, agora precisa lidar com uma queda de 65% no público. O síndico afirma que o número chegou a 90% durante a quarentena. “O movimento continua bem fraco”, enfatiza.
A empresa em que Waneska trabalha não tem previsão de retorno, assim como diversas outras. Wilson acredita que o chamado “novo normal” foi antecipado em aproximadamente seis anos. “A tendência é repensar o tamanho dos escritórios, renegociando contrato de locação. É uma forma de racionalizar custos e conseguir atender à uma segunda onda com menor impacto.”