A epidemia do coronavírus no Brasil já matou pelo menos 1.461 grávidas, segundo dados do Observatório Obstétrico Brasileiro COVID-19 (OOBr Covid-19). Mas o número pode ser bem maior. Com as altas nos casos de infecção e a variante brasileira P.1 como cepa prevalente, o que vem ocorrendo é uma ‘avalanche’ de nascimentos de bebês prematuros.
Em abril, o secretário de atenção primária à saúde do Ministério da Saúde, Raphael Câmara, chegou a sugerir para que os casais postergassem, se possível, os planos de uma gravidez. Segundo estudo realizado no Reino Unido, a infecção de grávidas pelo coronavírus na época do nascimento pode aumentar as chances de partos prematuros e natimortos, embora os riscos gerais permaneçam baixos.
Os cientistas dizem que, apesar de a maioria das gestações não seja afetada, o resultado da pesquisa deve encorajar as gestantes a se vacinarem. Para entender melhor os riscos de estar grávida nesse momento de pandemia, a ginecologista e obstetra, Elis Nogueira, membro da FEBRASGO (Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia), falou com a AnaMaria.
CENÁRIO ATUAL E RISCOS
“Atualmente, quando uma paciente tem planos de engravidar, se ela estiver com os exames em dia, sem nenhum problema de saúde e toda indicação de que poderá ter uma gestação saudável e tranquila, eu ainda aconselho a adiar o sonho, até que a pandemia esteja um pouco mais controlada, ou ao menos aguardar até tomar as doses necessárias da vacina”, explica a ginecologista.
Como se trata de um vírus com ação pouco previsível em cada organismo, além da chegada de diversas variantes, algumas grávidas podem apresentar problemas durante a gravidez em decorrência de uma infecção pelo vírus se elas o contraírem. Por isso, é imprescindível fazer corretamente o pré-natal, além de manter o distanciamento, usar máscara, ter calma, cuidar do corpo e da mente, dormir bem e evitar sair de casa sem necessidade.
FERTILIDADE NO LIMITE
Para algumas mulheres, é muito difícil engravidar e o relógio biológico começa a cobrar os minutos. Mas como fazer com a pandemia ainda batendo à porta? “Se a paciente não puder postergar a gravidez por causa da idade ou outro motivo, é importante optar por um pré-natal minucioso e cauteloso.
PARTOS PREMATUROS
De 80% a 85% dos casos das grávidas ou puérperas com coronavírus ou outras doenças classificadas como de risco, apresentam sintomas leves. “Mas ninguém quer fazer parte dos 15 ou 20% que podem ter sintomas graves e complicações.
Por isso, a prevenção é fundamental. Toda e qualquer infecção viral mais grave pode desencadear um parto prematuro devido à reação inflamatória do organismo. Portanto, os riscos de um parto prematuro serão maiores ou menores dependendo da gravidade da infecção pelo vírus”, explica.
VACINA SEMPRE!
Estudos clínicos têm mostrado que as vacinas contra a Covid-19 são seguras e eficazes para a mamãe e o bebê. E a produção dos anticorpos após a tomada da mesma é importante para ela e a criança. Com a mãe imunizada, o bebê também fica imunizado.
AMAMENTAÇÃO
Algumas puérperas ficam com receio de contaminar os filhos, porém o aleitamento materno é muito importante. “Já há evidência científica de que não há contaminação do bebê no caso da mamãe estar com o coronavírus. Mas, obviamente, os cuidados com o bebê deverão ser maiores para que não haja contágio pela proximidade da mãe com ele.
REDE DE APOIO
São muitas as transformações físicas e psíquicas trazidas pela gestação e maternidade. “Principalmente, no que diz respeito aos aspectos emocionais da grávida, que está em um dos períodos de maior vulnerabilidade psicológica, podendo desencadear um sentimento de solidão intensificado pela impossibilidade de um maior compartilhamento desse momento”, diz a especialista.
“É importante buscar alternativas para fugir do estresse e ansiedade. As trocas e compartilhamentos de realidades diminuem a sensação de solidão e validam as experiências vividas, na medida em que percebem realidades parecidas com a sua. Para isso, valem as redes sociais, contatos virtuais com mães e amigas, grupos terapêuticos de apoio on-line ou até mesmo terapia. A ajuda e participação dos parceiros e da família continuam sendo muito, muito importantes”, finaliza.