Mesmo sem contato físico, crianças e adolescentes podem ser vítimas de violência sexual. Exposição a conteúdos pornográficos, assédio virtual ou adultização precoce já configuram abuso e deixam marcas profundas no desenvolvimento físico, emocional e psicológico das vítimas.
“A violência sexual não exige contato físico para ser configurada”, alerta Rosana Maria Dos Reis, presidente da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia na Infância e Adolescência da FEBRASGO. Ela reforça que comportamentos aparentemente inofensivos podem gerar impactos duradouros e afetar toda a vida da vítima.
O panorama da violência sexual no Brasil
O Brasil registra em média quatro casos de violência sexual contra crianças e adolescentes por hora, segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos. A maioria das vítimas é do sexo feminino, com idades entre 10 e 14 anos.
Para Rosana, é essencial identificar situações de vulnerabilidade que dificultam o consentimento, como embriaguez, uso de drogas, déficit cognitivo ou coerção por namorados ou amigos. Essas situações aumentam o risco de que a criança ou adolescente seja submetida à violência sexual.
Sinais de abuso e exploração sexual
Segundo dados da campanha #EuVejoVocê, da FEBRASGO, mais de 50% das vítimas de abuso sexual têm menos de 13 anos. Além disso, uma em cada três meninas sofre algum tipo de violência sexual antes dos 18 anos.
Os sinais físicos e comportamentais variam. Muitas vezes, a violência sexual é crônica e não deixa marcas visíveis. Na adolescência, os comportamentos podem ser confundidos com atividade sexual comum, passando despercebidos.
O Ministério da Saúde define violência sexual como qualquer infração dos direitos sexuais que explora ou abusa do corpo de crianças e adolescentes, dividindo-a em abuso sexual e exploração sexual.
Abuso sexual: contato físico nem sempre necessário
O abuso sexual ocorre quando um adulto ou alguém mais velho pratica atos sexuais com uma criança ou adolescente para obter satisfação própria. O contato físico pode existir ou não, assim como o uso de força.
“Pode envolver palavras obscenas, beijos forçados, carícias nas partes íntimas ou outras formas de contato sexual”, explica Rosana. Ela destaca que a confiança que o agressor estabelece com a vítima facilita a prática do abuso.
Em 2024, apenas em São Paulo, foram registrados 10.484 casos de estupro de vulnerável, segundo a Secretaria de Segurança Pública.
Exploração sexual: um dano duplo
A exploração sexual envolve usar crianças ou adolescentes para fins sexuais mediante pagamento ou troca de favores. Inclui prostituição infantil, pornografia, tráfico de pessoas e turismo sexual. Nesse cenário, a vítima sofre duplamente: pelo abuso e pela exploração do corpo.
Os dados estaduais refletem essa realidade: na Bahia, em 2023, cerca de 68% dos abusos ocorreram dentro de casa; em Pernambuco, no 1º trimestre de 2024, 1.716 casos foram registrados, sendo 87,6% das vítimas entre 5 e 14 anos.
Sinais físicos e comportamentais de alerta
Alguns comportamentos podem indicar suspeita de abuso ou exploração sexual, como dor ao urinar ou defecar, constipação crônica, enurese sem causa aparente, conhecimento sexual inadequado para a idade ou comportamentos sexuais explícitos.
Sinais físicos incluem:
- Lesões genitais ou anorretais, hematomas, lacerações, inchaço ou sangramento;
- Presença de condilomas, herpes genital ou gonorreia em crianças pequenas;
- Sangue, sêmen ou outras secreções nas roupas íntimas.
Além disso, mudanças súbitas no apetite, problemas gastrointestinais sem causa médica, insônia, pesadelos frequentes, ansiedade, agressividade ou isolamento social podem ser indícios de trauma.
Como buscar ajuda e orientação
A campanha #EuVejoVocê oferece cartilhas para orientar a população e profissionais da saúde:
- Para a população geral: informações sobre tipos de violência sexual e como buscar ajuda. Cartilha “Eu Vejo Você”
- Para ginecologistas e obstetras: checklist para identificar e encaminhar casos de abuso ou exploração sexual. Cartilha Médica Orientativa
Rosana reforça que atenção, sensibilidade e cuidado são essenciais para proteger crianças e adolescentes e identificar sinais de violência sexual.
Resumo: A violência sexual pode ocorrer sem contato físico e causar impactos profundos no desenvolvimento de crianças e adolescentes. Observar sinais físicos e comportamentais, compreender os tipos de abuso e exploração e buscar orientação especializada é fundamental. Campanhas como #EuVejoVocê ampliam a conscientização e apoiam as vítimas em todas as fases da vida.
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