Entre janeiro e agosto de 2025, São Paulo registrou um aumento preocupante de 9% nos casos de feminicídio em comparação com o mesmo período de 2024. Foram 166 casos este ano contra 152 no ano anterior, de acordo com o levantamento do Instituto Sou da Paz, que se baseia em dados oficiais. Esse índice é o maior para os primeiros oito meses do ano desde 2015, indicando uma escalada contínua do problema.
Políticas públicas e orçamento: a conexão que falta
O governo de São Paulo afirma que o enfrentamento à violência contra a mulher é prioridade, mas, na prática, congelou R$ 10 milhões destinados à Secretaria de Políticas para a Mulher. “Prioridade sem orçamento é só discurso”, alerta Mayra Cardozo, terapeuta e advogada com perspectiva de gênero.
Para Cardozo, os números do feminicídio não representam fatalidades, mas sim o reflexo de políticas públicas que ainda falham em compreender a violência de gênero como um problema estrutural. “Ela nasce das desigualdades de gênero e é perpetuada por instituições que ainda operam sob uma lógica patriarcal”, explica.
Violência doméstica e a falha do sistema
A especialista reforça que a maior parte da violência contra mulheres acontece dentro de casa, o que desafia a atuação de órgãos públicos. “O sistema de justiça, que deveria ser garantidor de direitos, também tem responsabilidade. A estrutura penal brasileira foi pensada para proteger o réu, mas raramente protege a mulher violentada”, detalha Cardozo.
Além disso, o tratamento da vítima muitas vezes envolve revitimização. A violência é naturalizada como problema privado, quando, na verdade, é uma questão política e social.
Prevenção: caminho para reduzir o feminicídio
Cardozo defende que o enfrentamento ao feminicídio exige ações que vão além da punição do agressor. Segundo ela, é necessário investir em políticas de prevenção, garantir autonomia econômica às mulheres, ampliar a rede de acolhimento, oferecer educação com perspectiva de gênero e promover a formação continuada de agentes públicos.
“Não existe democracia enquanto as mulheres continuam sendo mortas por serem mulheres. E não existe enfrentamento real enquanto o Estado continuar tratando a proteção das mulheres como uma pauta de gabinete e não como uma urgência nacional”, afirma.
Resumo: São Paulo registrou 166 casos de feminicídio de janeiro a agosto de 2025, um aumento de 9% em relação ao ano anterior. Especialistas apontam falhas em políticas públicas e no sistema de justiça. A prevenção, a autonomia econômica e a educação com perspectiva de gênero são apontadas como soluções essenciais.
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