Quando uma traição acontece, é comum que toda a atenção se volte para o episódio em si. A dor é imediata, mas o motivo de um término raramente nasce naquele momento. “Na maioria das vezes, a traição é um sintoma, não a causa do fim. Ela revela questões já existentes, pessoais e relacionais”, explica a terapeuta de relacionamentos Rosângela Matos.
Isso significa que a infidelidade costuma expor problemas que já estavam presentes na vida a dois – e apenas tratando esses problemas, conseguimos enxergar um recomeço.
Distância a dois
Em muitos relacionamentos, a infidelidade aparece depois de um longo distanciamento. A rotina, a falta de interesse e o silêncio acumulado criam espaços que não foram vistos ou nomeados. “Em muitos casos, a traição aparece quando o casal já não se enxerga, já não se escuta e já não se interessa um pelo outro”, explica Rosângela.
Conflitos internos
Mas nem sempre o problema está na relação. A terapeuta observa que algumas traições nascem de dificuldades internas não enfrentadas. “Ela pode nascer de conflitos internos do próprio indivíduo, falta de autoconhecimento, imaturidade emocional ou baixa autoestima”, diz. Ou seja, a infidelidade pode expor temas pessoais que já deveriam estar em tratamento e que, sem cuidado, respingam na vida afetiva.
Perdão se dá ou se sente?
Muita gente tenta pular etapas e “perdoar rápido” para evitar conversas difíceis ou a dor de encarar o que aconteceu. Mas isso só adia conflitos. “O perdão existe, mas ele vem depois da superação. Antes de perdoar, é preciso elaborar a dor”, diz.
A etapa da elaboração é quando a pessoa traída entende o que sente, nomeia o impacto e decide com calma se quer reconstruir ou seguir outro caminho. Perdoar não significa minimizar, mas reorganizar a experiência.

Tem volta?
Sim, desde que haja arrependimento real, mudança de comportamento e novas atitudes consistentes. Do contrário, o ciclo se repete. Só existe chance de recomeço quando os dois assumem responsabilidades:
– Quem traiu precisa reparar;
– Quem foi traído precisa avaliar se deseja reconstruir;
– A relação precisa ganhar novas regras e novos acordos.
“A confiança pode ser reconstruída, mas não com palavras. Ela volta com constância. São atitudes repetidas que devolvem segurança”, afirma a terapeuta.
Sinais de que vale tentar novamente
- Arrependimento claro e assumido
A pessoa reconhece o que fez sem minimizar, sem inverter responsabilidades e sem justificar o comportamento. - Mudanças práticas no dia a dia
Há atitudes diferentes, consistentes e repetidas. Pequenos gestos mostram mais do que grandes discursos. - Transparência
Há disponibilidade para conversar sobre o assunto com respeito, abrir rotinas temporariamente e criar novos acordos, se necessário. - Participação dos dois no processo
Quem traiu busca reparo; quem foi traído demonstra disposição para avaliar caminhos. Não há imposições, e sim construção conjunta. - Ausência de novos segredos
A relação passa a funcionar com previsibilidade e clareza, sem comportamentos dúbios ou informações omitidas. - Espaço para conversas difíceis
O casal consegue falar sobre o que gerou o afastamento, sem ataques ou silenciamentos. - Cuidados individuais também são revistos
Se a traição teve origem em questões pessoais, existe busca por autoconhecimento, terapia, organização emocional ou mudanças de hábito.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (edição 1498, de 5 de dezembro de 2025). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.







