No primeiro semestre deste ano, os pedidos de medidas protetivas cresceram 22,3% no Estado de São Paulo, e esse movimento acompanha outro dado alarmante: a capital paulista já registra, em apenas dez meses, o maior número de feminicídios de toda a série histórica, iniciada em 2015. O total ultrapassou todos os anos anteriores, inclusive 2024, quando o Estado contabilizou 51 feminicídios em doze meses. Esse avanço reforça a escalada da violência contra a mulher, que se apresenta cada vez mais contundente e, sobretudo, mais letal.
Levantamentos do Instituto Sou da Paz revelam que o aumento da agressividade aparece nos casos registrados em vias públicas — um dado que, por si só, evidencia como o problema deixou de se limitar às paredes de casa. Ainda assim, ele permanece associado a dinâmicas de controle e intimidação que marcam relações abusivas.
Escalada da violência doméstica expõe fragilidade das políticas públicas
Embora a legislação brasileira avance constantemente, especialistas apontam que a violência doméstica ainda encontra brechas. De acordo com a promotora Silvia Chakian, do Ministério Público de São Paulo, o feminicídio representa o desfecho de uma longa escalada de agressões e não um episódio isolado. Essa análise ajuda a compreender por que, no município de São Paulo, o número de feminicídios já superou todo o registrado desde 2015, ano em que a tipificação entrou em vigor.
A vice-presidente da Associação Brasileira de Mulheres de Carreiras Jurídicas ouvida pelo Estadão, Alice Bianchini, reforça que cresce também o ódio contra mulheres, impulsionado por redes de misoginia. Segundo ela, não apenas a violência aumentou, mas a intensidade das agressões também, o que exige investimentos mais assertivos em prevenção e acolhimento.
Ações de segurança oferecem acolhimento, mas desafios persistem
O governo estadual implementou iniciativas que buscam reforçar a segurança das vítimas. Entre elas, aparece a Cabine Lilás, que já realizou cerca de 14 mil atendimentos e oferece acolhimento por policiais femininas treinadas. Além disso, as Delegacias de Defesa da Mulher ampliaram o atendimento 24h e receberam reforço de efetivo, enquanto o aplicativo SP Mulher Segura permite registrar boletins de ocorrência e acionar um botão de pânico.
Essas ações, no entanto, convivem com outra realidade: a de mulheres que ainda enfrentam dificuldades para denunciar, seja por medo, dependência financeira ou falta de orientação.

Estado de São Paulo registra casos que expõem um padrão silencioso
Mesmo com avanços institucionais, episódios recentes mostram como a violência doméstica ultrapassa limites de crueldade. Dois casos que repercutiram amplamente — Taynara Santos, atropelada e arrastada por um quilômetro na Marginal Tietê, e Evelyn Souza Saraiva, baleada seis vezes pelo ex-companheiro — exemplificam situações extremas que, infelizmente, seguem um padrão de agressões prévias.
Esses casos reforçam que a escalada da violência permanece invisível até atingir seu ponto mais trágico. Embora cada caso tenha sua particularidade, todos revelam a mesma raiz: relações abusivas que se intensificam ao longo do tempo.
Resumo: Os casos recentes e o aumento de 22,3% nas medidas protetivas mostram que a violência contra a mulher segue crescendo no Estado de São Paulo. Ao mesmo tempo, especialistas alertam para o avanço da brutalidade e da misoginia. As políticas públicas tentam oferecer acolhimento, mas ainda enfrentam desafios para alcançar quem mais precisa. No fim, os episódios mais graves revelam a urgência de prevenir a escalada da agressão antes que ela se torne fatal.
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