O Natal chega com luzinhas, mesa farta e abraços. No entanto, para muitas mulheres, ele também traz cansaço acumulado. Afinal, alguém planejou a ceia, organizou a casa, combinou quem levaria o quê no grupo da família e ainda cuidou das roupas das crianças. Na maioria das vezes, esse alguém foi uma mulher. Esse cenário, embora pareça apenas parte da tradição, reflete um problema estrutural ligado ao trabalho doméstico e à economia do cuidado.
Segundo dados do FGV IBRE, divulgados em outubro, as mulheres brasileiras dedicam até 25 horas semanais aos afazeres domésticos e aos cuidados, enquanto os homens gastam cerca de 11 horas. No fim de ano, essa diferença costuma aumentar. Afinal, além da rotina diária, entram em cena a ceia de Natal, a decoração da casa e a logística familiar.
Além disso, tarefas como cozinhar, lavar louça e cuidar das crianças acontecem todos os dias. Já atividades geralmente associadas aos homens, como pequenos reparos, ocorrem com menos frequência. Por isso, o peso do trabalho doméstico recai de forma contínua sobre as mulheres, muitas vezes sem reconhecimento.
Desigualdade de gênero dentro de casa também é global
Embora o Brasil apresente números expressivos, a desigualdade de gênero na divisão das tarefas domésticas aparece no mundo inteiro. Em países com maior igualdade, como Noruega e Suécia, as mulheres ainda realizam, respectivamente, 42 e 50 minutos a mais de trabalho não remunerado por dia do que os homens.
Por outro lado, em locais como o Egito, a diferença se torna ainda mais gritante: mulheres dedicam cerca de 5,4 horas diárias a esse tipo de trabalho, enquanto os homens gastam apenas 35 minutos. Ou seja, independentemente da geografia, a lógica se repete e reforça padrões que atravessam gerações.

Economia do cuidado e os impactos na saúde das mulheres
Esse acúmulo de responsabilidades não afeta apenas a rotina. Ele também impacta a saúde física, emocional e financeira. O estudo “Esgotadas”, da ONG Think Olga, mostra que mulheres sobrecarregadas com cuidados apresentam maior insatisfação com o trabalho, com a renda e com a própria vida, além de mais problemas de saúde mental.
Consequentemente, quem assume quase tudo dentro de casa tem menos tempo e energia para investir na carreira, nos estudos ou no autocuidado. Assim, a economia do cuidado segue sustentando famílias e a sociedade, mas sem o devido valor econômico ou social.
Quando o cuidado entra na conta da economia
Valorizar a economia do cuidado não é apenas uma questão de justiça social. Estudos mostram que a maior participação das mulheres no mercado de trabalho impulsiona a produtividade, amplia a diversidade econômica e promove mais igualdade de renda. No entanto, muitas ainda ficam de fora justamente por causa do excesso de trabalho não remunerado.
Por fim, vale voltar à pergunta inicial: quem preparou a ceia de Natal na sua casa? Refletir sobre isso pode ser o primeiro passo para dividir melhor as tarefas, inclusive nas datas festivas. Afinal, quando o cuidado se reparte, o descanso também chega para todos.
Resumo: O fim de ano evidencia a sobrecarga feminina no trabalho doméstico e na economia do cuidado. Dados mostram que mulheres dedicam muito mais tempo aos afazeres e cuidados do que os homens. Essa desigualdade afeta saúde, carreira e renda.
Repensar a divisão das tarefas é essencial para um Natal mais justo.
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