As redes sociais e plataformas como OnlyFans e Privacy tornaram mais acessível a venda de conteúdo adulto, prática que vem ganhando cada vez mais visibilidade — e gerando polêmica. Com a promessa de independência financeira, muitas pessoas passaram a produzir fotos e vídeos sensuais como uma fonte de renda. No entanto, por trás da aparente liberdade, existe um cenário cercado de tabus, vulnerabilidades e desafios que vão muito além do glamour.
A influenciadora digital Mia Melier, que compartilha no TikTok os bastidores da produção de conteúdo 18+ e dá dicas sobre o mercado, não esconde que o trabalho exige estrutura emocional.
“Trabalhar com a venda de conteúdo adulto é bem complicado. Você tem que ter uma boa cabeça, porque as pessoas vão descobrir. Não entrem nesse mercado pensando que ninguém vai saber. Uma hora ou outra, vão descobrir e você vai ter que lidar com isso e com as críticas. Já publiquei conteúdo que tiveram diversos comentários maldosos”, alerta em um dos vídeos de seu perfil. Além dos julgamentos, Mia lembra que o medo de vazamento de imagens íntimas é constante.
O peso do preconceito
Mesmo com o aumento da visibilidade, o preconceito em torno da venda de conteúdo adulto continua forte — e pode afetar diretamente a saúde mental de quem decide se arriscar nesse mercado. Por isso, de acordo com o psicólogo e professor Luiz Mafle, é essencial ter uma rede de apoio emocional para enfrentar os desafios da exposição pública.
O especialista pontua que o estigma social pode ter consequências graves: “O impacto pode ser muito profundo. O medo da rejeição por parte da família, exclusão de círculos sociais ou até mesmo o preconceito no ambiente de trabalho vão causar sofrimento. Além de pressão pública, muitas pessoas vão enfrentar uma dor silenciosa”.
Muitos dos sentimentos difíceis relatados por criadoras de conteúdo 18+ têm origem no conflito entre o que se vive e o que se acredita ser certo, especialmente quando há influências religiosas, culturais ou familiares. “O arrependimento pode surgir mesmo quando a escolha foi consciente, por causa da cobrança externa”, explica Luiz.
Entre a validação e a dependência
Para a terapeuta sexual Talita Gois, há casos em que a produção de conteúdo adulto pode trazer empoderamento, autonomia e até resgatar a autoestima. “Muitas pessoas que antes sentiam vergonha do corpo ou não se percebiam como desejáveis encontram, nesse tipo de trabalho, um espaço para se expressar e ressignificar sua autoestima”, diz.
Mas nem tudo são flores. Mafle alerta que, com o tempo, a autoestima pode ficar totalmente atrelada à quantidade de curtidas, seguidores e dinheiro que entra. “A pessoa sente que precisa se superar constantemente para continuar sendo desejada”, observa. Quando o engajamento cai, surgem sentimentos de frustração, vazio e até crises de identidade.
Talita também destaca que, ao transformar a sexualidade em produto, a pessoa pode perder a conexão afetiva com o próprio prazer. O que era íntimo e espontâneo vira uma performance — e isso interfere nas relações da vida real.
Efeitos na sexualidade e na relação com o corpo
De acordo com a sexóloga, uma das principais consequências emocionais é a desconexão com a própria sexualidade. “O sexo passa a ser um conteúdo a ser vendido, não uma experiência emocional”, diz. Isso pode esfriar os relacionamentos e fazer com que o prazer deixe de ser sentido com profundidade.
Além disso, a exposição contínua à própria imagem editada pode causar distorções na autoimagem. O corpo real — com suas imperfeições naturais — passa a ser visto como insuficiente.
Como se proteger emocionalmente?
Segundo os especialistas, qualquer pessoa pode ser afetada emocionalmente pela superexposição, mesmo as mais confiantes. No entanto, quem já tem histórico de baixa autoestima, insegurança ou transtornos como ansiedade e depressão tende a ser mais vulnerável.
Além disso, o ambiente digital nem sempre é acolhedor. Comentários ofensivos, como os relatados por Mia, invasões de privacidade e críticas constantes fazem parte da rotina de quem se expõe na internet — e tudo isso deixa marcas.
Para quem já trabalha com conteúdo adulto (ou pensa em seguir esse caminho), Luiz recomenda cuidados psicológicos constantes. Veja algumas orientações do especialista:
- Procure ajuda profissional: busque psicólogos sem preconceito e com escuta acolhedora;
- Estabeleça limites: separe o que é trabalho do que é vida pessoal;
- Crie uma rede de apoio: converse com amigos, colegas e pessoas que não julguem sua escolha;
- Tenha atividades fora da internet: dançar, caminhar, cozinhar — qualquer coisa que traga prazer real;
- Cultive relações saudáveis: amor, amizade e afeto são fundamentais para manter o equilíbrio;
- Reavalie a escolha com frequência: pergunte a si mesma se isso ainda faz sentido para você.
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