Preta Gil morreu neste domingo (20), aos 50 anos, após um intenso tratamento contra o câncer no intestino. Desde o diagnóstico, em 2023, ela não escondeu os desafios que enfrentava. Em vez disso, dividiu com o público os momentos mais difíceis — e também os mais transformadores — desse processo tão delicado. Sua partida comoveu o país, mas, acima de tudo, deixou reflexões profundas sobre a vida, o medo e o que significa realmente existir.
Durante o tratamento, a cantora passou por uma sepse que quase a levou precocemente. Foi nessa fase, internada na UTI, que ela ouviu do pai, Gilberto Gil, um conselho que mudaria sua relação com a morte: “Se for sua hora, aceite. Se deixa ir.” Em entrevistas recentes, Preta Gil revelou que essa conversa foi um “divisor de águas”. A partir dali, passou a encarar a finitude com um olhar mais espiritualizado, mais humano.
“Comecei a me conectar com a energia da morte, que é de vida também”, contou ela no programa Roda Viva, em 2024. Em outras palavras, ela transformou o medo em presença. E, assim, nos ofereceu uma despedida repleta de sentido.
Falar sobre a morte é também falar sobre a vida
De acordo com a psicóloga, hipnoterapeuta e arteterapeuta Brunna Dolgosky, quando alguém público como Preta Gil compartilha sua trajetória com tanta franqueza, inspira outras pessoas a encararem a finitude com menos receio. “O medo da morte nasce do desconhecido, da ausência de linguagem e da falta de espaço interno para elaborar esse fim”, explica a especialista em entrevista à AnaMaria.
Contudo, à medida que conseguimos falar sobre a própria mortalidade, damos novos significados à ideia de morrer. “Ao encarar a sombra, enxergamos com mais nitidez aquilo que é luz: os vínculos que importam, o tempo que temos, o que ainda desejamos experimentar”, completa Brunna.
Assim como Preta Gil, muitas pessoas que enfrentam doenças graves relatam essa mudança de perspectiva: a dor não desaparece, mas o modo de encará-la se transforma. A vida, portanto, ganha novos contornos — mais intensos e verdadeiros.
Como o luto pode nos reconectar com o essencial
O luto começa antes mesmo da perda definitiva. Refletir sobre a própria morte pode transformar a forma como enxergamos o tempo, a espiritualidade e os nossos afetos. Brunna explica que, quando há espaço e acolhimento para esse tipo de reflexão, a dor se transforma em entendimento — e isso pode trazer uma inesperada sensação de paz.
Abordagens como a arteterapia e a hipnoterapia ajudam nesse processo. Por meio de imagens, metáforas e símbolos, facilitam o mergulho emocional necessário para elaborar o medo e transformá-lo em algo que possamos sustentar. Essas técnicas não curam a perda, mas fortalecem quem a vive.
Preta Gil tocou nesse ponto com sensibilidade: “A doença humaniza a morte, te aproxima dela, e você faz uma desconstrução desse tabu.” Palavras que ressoam e acolhem quem ainda caminha pelas estradas do sofrimento.
A coragem de Preta Gil nos inspira a viver o agora
Mesmo diante de uma realidade dura, Preta Gil escolheu a lucidez. Falou sobre fé, dor e aceitação com a mesma intensidade com que cantava sobre amor. Ao transformar sua jornada em palavras, tornou universal a vontade de viver plenamente, mesmo sabendo que o fim é inevitável.
Sua morte deixa saudade, mas também deixa legado. Ela não partiu em silêncio. Deixou, sim, uma mensagem clara: viver de verdade é também acolher a impermanência. E é justamente isso que faz a existência valer a pena.
Resumo: Aos 50 anos, Preta Gil nos deixou após enfrentar com coragem um câncer no intestino. Sua partida nos convida a refletir sobre a morte com mais humanidade. Em vez de silenciar a dor, ela escolheu compartilhá-la — e, com isso, nos ensinou que o luto, quando acolhido, pode ser também um ato de amor à vida.
Leia também: