Há mais de duas décadas, os reality shows conquistaram um espaço fixo na televisão brasileira — e o sucesso parece longe de acabar. Mesmo com tantas opções de entretenimento disponíveis, esses programas seguem firmes entre os líderes de audiência. Mas afinal, o que explica tamanha paixão nacional?
Segundo Tati Martins e Marcelo Carlos, criadores do canal WebTVBrasileira, o segredo está na combinação perfeita entre drama, autenticidade e identificação. “Os realities têm tanta força no Brasil porque misturam o drama da novela com a imprevisibilidade da vida real e a identificação de um povo que se emociona com narrativas. Com uma boa edição e um elenco disposto, o sucesso é praticamente garantido”, afirma Tati.
Essa mistura potente cria um formato difícil de cansar. O público acompanha, comenta, torce e se envolve emocionalmente com os participantes, como se fizesse parte da história. E, claro, isso tudo acontece em tempo real — dentro e fora da tela.
Redes sociais e reality shows: uma dupla inseparável
Além do formato envolvente, outro fator essencial para o sucesso dos reality shows é a interação constante com o público. Hoje, não basta assistir à televisão: é nas redes sociais que o programa realmente ganha vida. “O programa pode durar uma ou duas horas na TV, mas nas redes ele vive 24 horas. A audiência quer participar da história. Por isso criamos o ‘Rançômetro’, uma ferramenta que mede a popularidade de cada participante em tempo real, com milhares de votos semanais”, explica Tati.
Essa integração entre programas de TV e plataformas digitais transformou a forma de consumir entretenimento. As torcidas se organizam, os memes se espalham e as discussões se tornam um verdadeiro fenômeno cultural. Assim, cada episódio ultrapassa a tela e se transforma em assunto nas rodas de conversa, nos grupos de mensagem e nas timelines.
O impacto no mercado e o papel da publicidade
A força dos reality shows também é sentida no mercado publicitário. As marcas perceberam que esses programas oferecem uma vitrine valiosa de engajamento com o público. Provas patrocinadas, dinâmicas exclusivas e até a decoração das casas viram oportunidades de visibilidade.
“Os resultados para as marcas são tão expressivos que muitas renovam seus patrocínios ano após ano”, destaca Tati Martins. Mesmo quando geram polêmica, essas ações ampliam o alcance da conversa e fortalecem a conexão entre consumidor e produto — algo que poucos formatos televisivos conseguem.
O futuro dos programas de TV com inteligência artificial
Para Marcelo Carlos, a tecnologia será o próximo grande passo no universo dos reality shows. Ele aposta que a inteligência artificial deve revolucionar a produção e a experiência do público. “Imagine uma IA criando resumos dos momentos mais polêmicos e engraçados de forma instantânea? Isso vai transformar completamente a experiência do público e a agilidade da produção”, comenta.
Essa inovação promete aproximar ainda mais os espectadores dos programas de TV, tornando o consumo de entretenimento mais dinâmico e personalizado. Além disso, pode facilitar o acesso aos momentos mais comentados e gerar ainda mais conteúdo nas redes — um ciclo que se retroalimenta e mantém os realities em alta.
Por que nos envolvemos tanto emocionalmente?
Para a terapeuta e advogada Mayra Cardozo, especialista em comportamento e gênero, a resposta está nas emoções. Segundo ela, os reality shows funcionam como uma “vitrine emocional”: um espelho, ainda que distorcido, das dinâmicas humanas. “Esses programas nos permitem projetar partes nossas nas histórias alheias. A mulher que perdoa demais, o homem que manipula, o grupo que exclui alguém — tudo isso ativa memórias e padrões afetivos que reconhecemos inconscientemente”, explica.
A especialista destaca que, embora roteirizados, os realities simulam uma espontaneidade rara nas redes sociais. “Ver ‘gente real’ sentindo raiva, desejo, ciúme ou vergonha desperta curiosidade e empatia. Além disso, vivemos uma cultura que nos acostumou a observar e julgar o outro — e o reality show transforma essa vigilância em entretenimento”, analisa.
Por fim, Mayra aponta que esses programas também funcionam como uma forma de catarse coletiva. “Vivemos tempos em que muitas emoções são reprimidas. O reality nos permite expressá-las simbolicamente: torcemos, odiamos, nos comovemos — tudo sem consequências reais.” Essa mistura de identificação e liberdade emocional explica por que esses formatos continuam tão irresistíveis.
Resumo:
Os reality shows seguem no topo porque unem emoção, identificação e interação constante. Com o apoio das redes sociais e novas tecnologias, o formato se reinventa e continua a refletir — e amplificar — os dramas e desejos do público brasileiro.
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