A atriz Paolla Oliveira registrou recentemente um boletim de ocorrência devido à perseguição obsessiva de uma fã, configurada como um caso grave de stalker. Há dois anos, ela lida com atitudes invasivas e constantes da perseguidora, que chegou a fazer 40 ligações em um único dia e até ameaçou tirar a própria vida. Esse episódio revela o impacto emocional profundo que o stalking pode provocar na vida das vítimas, gerando um quadro de ansiedade e insegurança, além de prejudicar a liberdade de movimento e o bem-estar da pessoa perseguida.
O stalking é uma prática caracterizada pelo assédio persistente e, muitas vezes, ameaçador de uma pessoa em relação a outra, sem o consentimento dela. Esse comportamento pode se manifestar por meio de chamadas excessivas, mensagens obsessivas, tentativas de aproximação física ou até mesmo vigilância de rotina. De acordo com a psiquiatra Tâmara Marques Kenski, pós-graduada em psiquiatria, o comportamento de um stalker causa sérios danos emocionais, afetando a saúde mental e a vida social e profissional da vítima.
O que é o stalking e quais são os impactos na vida das vítimas?
Stalking é um comportamento de perseguição insistente e intrusiva, no qual uma pessoa persegue outra de forma obsessiva. Esse comportamento inclui monitoramento constante, mensagens repetitivas e tentativas de contato que ignoram limites, gerando uma sensação de constante vigilância e invasão de privacidade. Tâmara Kenski explica que o stalking é “totalmente ilegal e pode prejudicar a vítima de maneira física e emocional”. Os efeitos do stalking vão além do desconforto, podendo trazer graves consequências à saúde mental e ao bem-estar geral da vítima.
O impacto emocional dessa perseguição constante pode levar à ansiedade, ao aumento do estresse e até mesmo a episódios de depressão. “A vítima de stalking pode se sentir constantemente ameaçada, desenvolvendo um estado de alerta que interfere em suas atividades diárias”, destaca a médica. O medo e a insegurança fazem parte do cotidiano das vítimas, que podem se isolar socialmente e até evitar sair de casa, afetando relações interpessoais e o desempenho profissional. A insegurança também pode comprometer a concentração e a capacidade de realizar tarefas diárias, uma vez que a pessoa vive em estado de hipervigilância.
Além dos efeitos emocionais, o stalking também pode gerar impactos sociais significativos. A vítima pode se afastar de atividades sociais e até do ambiente de trabalho, pois a pressão e o desgaste emocional afetam a qualidade de suas interações e comprometem o desempenho profissional. Em casos extremos, as vítimas recorrem a medidas legais como ordens de restrição para se proteger do stalker, mas o processo judicial pode ser estressante e não elimina completamente o impacto emocional do assédio.
Por que algumas pessoas se tornam stalkers?
As motivações para o comportamento de um stalker variam, mas há características comuns que explicam o comportamento obsessivo. Segundo Kenski, algumas das principais causas incluem sentimentos de controle e desejo por domínio sobre a vida da vítima, especialmente em casos onde o stalker é um conhecido ou possui um histórico de relacionamento com a pessoa perseguida. Esse desejo de controle pode ser impulsionado por ciúme ou possessividade, fazendo com que o perseguidor sinta necessidade de monitorar e interferir na vida da vítima.
Além disso, é comum que o stalker idealize uma conexão especial com a vítima, desenvolvendo uma crença distorcida de que compartilham algo único ou que existe um laço emocional. “Esse pensamento, de que a vítima tem uma conexão especial com o stalker, é fruto de uma idealização que está apenas na mente do perseguidor”, explica Kenski. A idealização torna o comportamento obsessivo ainda mais intenso, pois o stalker sente que tem o direito de saber detalhes da vida da vítima e de se envolver em sua rotina.
Questões de saúde mental também podem ser um fator determinante para o comportamento de stalking. Transtornos como depressão e desordens de personalidade podem intensificar o desejo de perseguição, tornando-o incontrolável e levando o stalker a agir de maneira impulsiva. Em alguns casos, ele apresenta dificuldade em lidar com rejeições, o que contribui para que a obsessão se torne um mecanismo de tentativa de controle. Segundo Kenski, “quando o stalker não consegue lidar com a rejeição, ele pode desenvolver comportamentos obsessivos como uma forma de manter a proximidade com a vítima”.
Como as vítimas podem lidar com o stalking?
Para as vítimas de stalking, como Paolla Oliveira, é fundamental buscar ajuda o mais cedo possível, antes que o comportamento do stalker escale. O primeiro passo é formalizar a situação por meio de um boletim de ocorrência, informando às autoridades sobre o assédio. Esse registro é importante para a tomada de providências, como a emissão de ordens de restrição, além de reforçar a gravidade do caso perante a lei.
Medidas de segurança pessoal também podem ser úteis. Em muitos casos, as vítimas mudam rotinas, evitam locais comuns e, se necessário, buscam apoio emocional com amigos e familiares para lidar com o medo. Tâmara Kenski destaca a importância do suporte psicológico para lidar com os traumas e reforçar a resiliência emocional da vítima, que pode desenvolver sintomas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) em casos mais severos.
O stalking é uma violação que afeta o corpo, a mente e o emocional, deixando marcas difíceis de serem superadas. É essencial que as vítimas saibam que não estão sozinhas e que existem recursos e suporte para ajudá-las a lidar com o medo e a restaurar sua liberdade. Assim como Paolla Oliveira, pessoas em situações semelhantes precisam ser incentivadas a denunciar e a buscar ajuda, pois a segurança e a paz de espírito são direitos fundamentais.
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