Afinal, quem “segura as pontas” dentro de casa? Embora muitas famílias tenham avançado na divisão das tarefas, pesquisas mostram que o trabalho doméstico continua recaindo majoritariamente sobre as mulheres — e isso afeta desde o bem-estar até a economia nacional. Para entender melhor esse cenário, um estudo do Instituto Locomotiva analisou números sobre equidade de gênero e valorização do tempo dedicado ao lar.
Quando o trabalho doméstico vira indicador econômico
Quando olhamos para a rotina, percebemos que as tarefas do lar parecem invisíveis, mas consomem horas preciosas do dia. De acordo com dados do IBGE, as brasileiras com 14 anos ou mais dedicam, em média, 21,3 horas semanais ao trabalho doméstico — mais que o dobro do tempo dos homens.
O estudo calculou quanto esse esforço representaria se fosse remunerado. O resultado impressiona: R$ 834 a mais por mês para cada mulher e R$ 905 bilhões por ano movimentando a economia. Essa estimativa considera o valor médio pago por hora ao trabalho doméstico remunerado no país, com base nos dados da PNADC (4º trimestre de 2024).
Esse tipo de análise, conforme explica o presidente do instituto, Renato Meirelles, funciona como “acender a luz numa sala escura”. Ou seja, revela um trabalho invisível, mas essencial.
Divisão desigual e impacto direto na equidade de gênero
Embora muitos casais tentem equilibrar as tarefas, a percepção geral ainda mostra um abismo. Segundo a pesquisa, nove em cada dez brasileiros acreditam que as mulheres se preocupam mais com a casa e com os cuidados dos filhos.
Além disso, 85% das mulheres afirmam ser as principais responsáveis pela organização doméstica — enquanto apenas 54% dos homens dizem o mesmo. A diferença se repete no preparo das refeições, na faxina e até na lavagem de roupas.
Esse cenário evidencia que a desigualdade não é apenas prática, mas também cultural. Como consequência, atrapalha a busca por equidade de gênero e limita o potencial produtivo das mulheres fora de casa.

Cansaço emocional: como o “piloto automático” pesa na rotina
Para além do tempo gasto, existe outro fator que afeta diretamente a saúde emocional: o cansaço mental. Muitas mulheres relatam viver uma jornada dupla — ou até tripla — ao conciliar o trabalho fora, a própria vida e a administração de todas as demandas da casa.
Segundo o Locomotiva, 91% das brasileiras se sentem exaustas por causa desse acúmulo. E essa sobrecarga não é só física: envolve planejamento, antecipação de necessidades, organização e até resolução de conflitos familiares.
Esse “piloto automático” constante reforça o cansaço mental, que impacta o sono, o humor, a produtividade e até o espaço emocional para momentos de descanso.
Por que valorizar o trabalho doméstico importa – e muito
Valorizar o trabalho doméstico significa é que ele mantém a vida funcionando. Quando a sociedade e os lares dividem as tarefas de forma mais equilibrada, as mulheres ganham tempo, autonomia e mais oportunidades de participação econômica.
Além disso, conforme explica Meirelles, uma divisão justa pode aumentar a renda familiar, estimular o consumo e impulsionar até o crescimento econômico — afinal, liberar horas das mulheres é liberar talento, criatividade e potencial profissional.
Resumo: O estudo revela o alto valor econômico do trabalho doméstico, ainda distribuído desigualmente, sobrecarregando mulheres com tarefas práticas e planejamento constante. Essa sobrecarga intensifica o esgotamento mental e limita oportunidades. A pesquisa enfatiza que a divisão equilibrada promove equidade de gênero, aumenta o potencial produtivo e gera benefícios econômicos. É crucial reconhecer e valorizar esse trabalho para transformar relações sociais e domésticas.
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