A nova edição da Pesquisa Nacional de Violência doméstica, realizada pelo DataSenado e pela Nexus em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV), expõe um retrato alarmante — e infelizmente familiar — para milhões de brasileiras. Conforme o estudo, divulgado no Mapa Nacional da Violência de Gênero, 69% das mulheres que já sofreram agressões tiveram sua rotina profundamente alterada. A estimativa é de cerca de 24 milhões de vidas atravessadas por medo, insegurança e limitações que se acumulam no dia a dia.
De acordo com o material, divulgado nesta quinta-feira (27), os dados permitem enxergar como a agressão compromete não só o espaço íntimo, mas também trabalho, estudo, relações sociais e perspectivas de futuro. Os pesquisadores ouviram mais de 21 mil mulheres em todas as regiões do país.
“A violência doméstica limita a autonomia das mulheres e pode impedir o acesso a direitos básicos”, afirma Maria Teresa Prado, coordenadora do OMV.Essa constatação reforça a urgência de políticas estruturadas que ofereçam acolhimento e prevenção, além de caminhos reais para quebrar ciclos de agressão.
Estudo revela desigualdades estruturais
O Mapa Nacional da Violência de Gênero permite observar como fatores socioeconômicos influenciam o risco e a permanência de mulheres em ciclos de agressão. Segundo o levantamento, mulheres fora da força de trabalho têm três vezes mais chances de sofrer violência doméstica do que aquelas empregadas. Além disso, 66% das entrevistadas que relataram agressões recebem até dois salários mínimos.
Como explica Vitória Régia da Silva, diretora executiva da Associação Gênero e Número, cruzar esses dados deixa claro que desigualdade e violência caminham juntas. Ela ressalta que a autonomia financeira não é apenas uma condição desejável, mas uma política estratégica de enfrentamento, reforçando a necessidade de ações que garantam renda, qualificação profissional e oportunidades reais.

Essa perspectiva aparece também no estudo, que aponta impactos que se espalham por várias áreas da vida de mulheres que sofreram violência doméstica:
- 68% tiveram suas relações sociais abaladas;
- 46% viram o trabalho remunerado afetado;
- 42% tiveram os estudos prejudicados.
Ou seja, romper ciclos de agressão exige muito mais do que coragem individual: requer políticas articuladas de segurança pública, saúde, educação, renda e acolhimento. “Não podemos continuar transferindo para as mulheres a tarefa de superar sozinhas estruturas que são coletivas”, reforça Beatriz Accioly, do Instituto Natura. Portanto, o desafio é coletivo e exige ação permanente do Estado.
Caminhos para enfrentar a violência doméstica de forma integrada
A pesquisa aponta que o país precisa olhar para o enfrentamento da violência doméstica como prioridade. É o que defende a senadora Augusta Brito, responsável pela encomenda do levantamento. Para ela, leis e políticas públicas devem se basear em dados consistentes — como os trazidos pelo Mapa Nacional da Violência de Gênero — para que se tornem realmente efetivas.
Assim, investir em ações que fortaleçam a autonomia das mulheres se torna essencial. Isso inclui ampliação de abrigos, equipes especializadas, acesso facilitado à renda, suporte psicológico, educação e qualificação profissional. Além disso, estratégias de prevenção e campanhas de informação continuam fundamentais para alcançar mais mulheres e quebrar silêncios históricos.
Essas iniciativas, somadas à escuta sensível e ao acolhimento, ajudam a construir caminhos para que mulheres possam reconstruir sua rotina com segurança e dignidade. Afinal, quando cada mulher tem garantido seu direito de viver sem violência, toda a sociedade avança.
Resumo: A nova edição da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher revela como agressões impactam a rotina, o trabalho e o acesso à educação de milhões de brasileiras. Os dados, reunidos no Mapa Nacional da Violência de Gênero, evidenciam desigualdades e reforçam a necessidade de políticas públicas integradas. Especialistas destacam que autonomia financeira e proteção contínua são essenciais para romper ciclos de violência.
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