Viajar sozinha é um sonho para muitas mulheres — mas, infelizmente, ainda envolve medo, julgamentos e uma dose constante de alerta. O recente caso de Juliana Marins, brasileira que morreu aos 26 anos após sofrer um acidente em um vulcão na Indonésia, trouxe à tona a vulnerabilidade das mulheres que se aventuram pelo mundo, especialmente quando estão sozinhas.
Juliana Marins fazia um mochilão pela Ásia quando a realização de um sonho terminou de maneira trágica. Sua história comoveu milhares de pessoas, especialmente mulheres que sonham viver experiências parecidas. Para entender como é possível conciliar segurança e liberdade, conversamos com Bruna Bessa, surfista, jornalista, viajante e fundadora do projeto Maré Alta Trips, que desde 2017 promove o empoderamento feminino por meio do surf e da conexão entre mulheres viajantes.
Com base em sua trajetória e vivências, Bruna compartilha reflexões potentes e dicas essenciais para quem deseja colocar a mochila nas costas e partir — sem medo de ver o mundo com os próprios olhos.
A força de uma rede entre mulheres viajantes
O impacto do caso de Juliana Marins foi imediato para Bruna e para milhares de mulheres. “Me tocou porque já estive nessa situação diversas vezes, sozinha em outro país, praticando um esporte radical. Viajar sozinha como mulher sempre envolve momentos de vulnerabilidade, independentemente da situação — pode ser mochilando ou em um hotel 5 estrelas. Na verdade, não precisamos nem sair de casa para estar vulneráveis”, afirma.
Foi justamente por reconhecer esses desafios que Bruna decidiu criar o Maré Alta Trips, uma comunidade de apoio que conecta mulheres que desejam aprender a surfar e desbravar o mundo por conta própria. “Na época, não tinham muitas mulheres no mar. Na intenção de ter companhia, comecei a juntar mulheres que também queriam aprender a surfar e viajar, mas não sabiam como começar, não tinham companhia e se sentiam inseguras para irem sozinhas”, conta em entrevista à AnaMaria.
Ver essa foto no Instagram
O que começou como um grupo pequeno acabou crescendo e hoje inspira e acolhe viajantes de diferentes regiões. Para a surfista, a conexão entre mulheres é fundamental em qualquer jornada. “Ter uma rede de apoio feminina é saber que tem alguém que entende suas escolhas, seus medos e anseios, e que não vai soltar sua mão. No caso da Juliana Marins, vimos que foi a irmã e amigas que começaram a movimentar as redes. Sabemos que estamos umas pelas outras, nos cuidamos, incentivamos e apoiamos.”
Cuidados práticos para viajar com mais segurança
Viajar sozinha exige preparo — não apenas emocional, mas também prático. Bruna acredita que a coragem pode (e deve) andar de mãos dadas com o planejamento. Confira os principais cuidados para mulheres que estão começando a se aventurar sozinhas:
- Avise pessoas de confiança sobre seu roteiro, especialmente em deslocamentos;
- Mantenha suas redes sociais ativas, compartilhando onde está e com quem;
- Tenha sempre conexão de internet (com chip local ou roaming);
- Participe de grupos de viajantes, expedições ou atividades em hostels;
- Escolha um destino que ofereça mais familiaridade com o idioma e a cultura;
- Respeite seu ritmo e seus limites — não tente provar nada para ninguém.
“Recomendo que comecem devagar, sem pressa para ultrapassar seus próprios limites e tentar entrar em grupos durante a viagem (hostel, expedições…)”, aconselha. Para ela, o mais importante é reconhecer que coragem também é aprender a ir no próprio tempo.
Enfrentar o medo também é parte da jornada
Mesmo com tantas mulheres desbravando o mundo, viajar sozinha ainda é visto com desconfiança. Bruna aponta que o tabu faz parte de um cenário maior, que coloca em xeque qualquer decisão que fuja do “esperado”. Ela acredita que cada mulher que se coloca em movimento — mesmo com receio — está desafiando padrões. “Nos arriscamos diariamente ao sair de casa, não dá para viver com medo de tudo o que pode ser perigoso para mulheres. Porque o simples fato de existir já é perigoso para nós.”
Para Bruna, a mulher viajante representa uma força política e simbólica. “Ser mulher já é um ato político, mas a mulher viajante desafia tudo o que a sociedade prega como ‘certo’ para ela. Nossa coragem começa na decisão de colocar a mochila nas costas e partir, deixando para trás todas as expectativas que colocam nas nossas costas. Não é só sobre liberdade geográfica, de conhecer outros lugares, é a liberdade de poder escolher um caminho que nem sempre é bem-visto pela sociedade.”
Mais do que desbravar novos destinos, viajar sozinha pode ser um caminho de autoconhecimento, liberdade e conexão com outras mulheres que compartilham dos mesmos sonhos. Por isso, antes de arrumar a mochila, vale lembrar: você não está sozinha. Há uma comunidade diversa e acolhedora pronta para apoiar suas escolhas, inspirar sua jornada e mostrar que não há nada de errado em querer ver o mundo com os próprios olhos.
Resumo: Após a morte de Juliana Marins em uma trilha na Indonésia, a surfista e viajante Bruna Bessa compartilha reflexões e conselhos sobre segurança, liberdade e o direito das mulheres de viajar sozinhas. A fundadora do projeto Maré Alta reforça a importância da rede de apoio feminina e o poder de escolher seu próprio caminho.
Leia também:
Caso Juliana Marins expõe falhas no turismo de aventura