Olhos verdes, cabelos platinados e pele perfeita. À primeira vista, a modelo que estrelou um anúncio da Guess na edição de agosto da Vogue parece seguir à risca o padrão estético das revistas de moda. No entanto, um detalhe surpreendente veio à tona: a modelo simplesmente não existe. Ela foi criada por uma inteligência artificial desenvolvida pela agência britânica Seraphinne Vallora, especializada em campanhas virtuais.
Assim que o público descobriu a origem da imagem, as reações não demoraram. Muitos usuários das redes sociais pediram boicote à marca e à própria Vogue, acusando-as de promover padrões de beleza irreais e, ao mesmo tempo, enfraquecer o trabalho de modelos, maquiadores, fotógrafos e outros profissionais do ramo.
Padrões de beleza irreais seguem sendo alimentados
A polêmica ganhou força especialmente porque a Vogue, ao longo dos anos, construiu uma imagem de defensora da diversidade e da valorização de talentos humanos. Por isso, ao lançar uma campanha protagonizada por uma figura digitalmente criada, a revista foi acusada de incoerência — e de reforçar padrões de beleza irreais que não refletem a realidade da maioria das mulheres.
Além disso, o uso crescente da inteligência artificial no mundo da moda levanta outras questões importantes. Afinal, quais serão os limites éticos para essas tecnologias? Será que veremos campanhas inteiras feitas apenas por algoritmos, deixando de fora o olhar e o toque humanos?
Moda e IA: uma tendência que já está acontecendo
Embora o caso da Vogue tenha causado forte repercussão, ele está longe de ser o único. Em julho, por exemplo, a Mango lançou uma campanha voltada para o público adolescente, também com modelos geradas por IA. Já em 2023, a Levi’s anunciou que usaria avatares digitais com diferentes tipos de corpos e etnias para representar maior diversidade em seus anúncios.
Ou seja, essa tecnologia já vem sendo testada como uma forma de ampliar a representatividade — embora, como mostram os debates recentes, nem sempre o resultado seja bem recebido.
A beleza do futuro: simulada, mas real?
O uso da IA para criar rostos, corpos e até expressões faciais não se limita ao universo editorial. Celebridades como Kim Kardashian, por exemplo, já utilizam algoritmos para simular possíveis mudanças estéticas antes de decidir se farão ou não algum procedimento. Em outras palavras, a beleza do futuro pode ser simulada antes mesmo de se tornar realidade.
Apesar das facilidades, esse novo cenário nos convida a refletir: será que estamos prontos para um mundo em que a beleza pode ser inteiramente manipulada por softwares? E como isso impacta a autoestima de quem se vê diante de um ideal inalcançável?
Resumo: O uso da inteligência artificial na moda acendeu o alerta sobre os riscos de normalizar padrões de beleza irreais. Ao substituir modelos e profissionais por avatares criados por IA, marcas como Vogue e Mango se veem no centro de uma discussão urgente. Embora essa tecnologia prometa inovação e representatividade, seu uso precisa ser feito com responsabilidade e transparência.
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