Entre reuniões, tarefas da escola, remédios e consultas médicas, muitas mulheres têm se dividido entre dois papéis que exigem tempo, energia e amor: o de mãe e o de filha cuidadora. Elas pertencem à chamada geração sanduíche, um termo cunhado em 1981 pelas pesquisadoras Dorothy Miller e Elaine Brody, em estudos sobre trabalho social e gerontologia.
Originalmente, ele se referia a mulheres entre 30 e 40 anos que cuidavam não apenas dos filhos, mas dos pais idosos, ao mesmo tempo em que precisavam dar conta do trabalho e de outras responsabilidades. Quatro décadas depois, o cenário segue atual: o número de mulheres que se encontram nessa função só cresce.
Segundo a psicoterapeuta Daniele Caetano, fundadora da Caminhos da Terapia e da Mentoria Bem Me Quero, os sinais de exaustão nem sempre aparecem de forma abrupta. “Eles surgem nas pequenas coisas: o cansaço que não passa, a paciência curta, o choro fácil, a vontade de sumir por alguns minutos. Quando o corpo começa a dar sinais como insônia, dores de cabeça ou esquecimentos, é um alerta de que essa mulher está esgotando suas reservas emocionais”, explica em entrevista à AnaMaria.
Por que o cuidado ainda recai sobre as mulheres?
“Culturalmente, fomos ensinadas a cuidar, a nutrir, a dar conta. Existe uma expectativa silenciosa de que a mulher será a base emocional da família e muitas acabam assumindo esse papel sem questionar”, afirma Daniele.
Quando tentam se colocar em primeiro lugar, muitas sentem culpa, como se o autocuidado fosse egoísmo.
Pequenas pausas que fazem diferença
Encontrar equilíbrio nessa rotina significa entender que ninguém dá conta de tudo. Aprender a dizer “não” é fundamental para preservar a saúde mental. Muitas mulheres se veem obrigadas a priorizar os outros, deixando seus próprios desejos e necessidades para depois, um caminho certo para o esgotamento. Para aliviar o dia a dia, Daniele orienta estratégias simples:
- Respirar fundo e fazer pequenas pausas conscientes durante o dia;
- Tomar um café em silêncio ou ouvir uma música que traga calma;
- Fazer uma caminhada leve, mesmo que curta, para aliviar a mente;
- Dividir tarefas com familiares sempre que possível;
- Aceitar que autocuidado não é luxo, é sobrevivência.
Sem culpa
A culpa feminina é quase um traço cultural e tende a aparecer quando o cansaço chega. “Ela nasce da ideia de que precisamos ser perfeitas. Mas a verdade é que cuidar de quem amamos já é um ato imenso, não precisa ser impecável”, afirma a especialista.
Praticar a autocompaixão é um essencial: reconhecer o próprio esforço, valorizar o que foi possível e aceitar que o “suficiente” já é muito.

Apoio emocional e rede de cuidado
Para lidar com a sobrecarga, contar com uma rede de apoio faz toda a diferença. Pode ser um grupo de amigas, familiares, vizinhos ou o acompanhamento de um profissional. Ter com quem conversar ajuda a reorganizar as emoções e estabelecer limites saudáveis. Quando o cuidado é compartilhado, o peso se torna mais leve e o vínculo familiar se fortalece.
Conversar abertamente com os familiares também é importante. “Muitas vezes, os outros nem percebem o quanto essa mulher está sobrecarregada. Falar com clareza sobre o que está difícil, pedir ajuda e distribuir tarefas de forma justa faz toda a diferença”, orienta Daniele.
Para quem faz parte da geração sanduíche, é essencial lembrar que estar presente para quem se ama começa por estar bem consigo mesma. Porque, antes de ser mãe, filha ou cuidadora, toda mulher é, acima de tudo, uma pessoa que também merece cuidado.
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A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (17 de outubro). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.







