Saber ouvir pode parecer intuitivo, mas não é tão simples assim. Se você já teve a sensação de não ser compreendida ou quando emprestava um ombro amigo se pegou ‘voando’ enquanto a outra pessoa falava, saiba que você não está sozinha. Na correria do dia a dia, parar para ouvir com profundidade o outro se tornou uma atividade secundária.
A escuta ativa é um termo utilizado na comunicação para se referir principalmente a ouvir com atenção e interesse. Essa é uma técnica na qual a atenção é voltada para quem está falando. Nesse tipo de escuta, há uma compreensão mais assertiva do significado da mensagem. Essa habilidade pode influenciar positivamente nos relacionamentos, tanto para quem fala, como para quem aprende a ouvir.
O livro ‘O palhaço e o psicanalista: Como escutar os outros pode transformar vidas’, escrito por Christian Dunker (o psicanalista) e Cláudio Thebas (o palhaço), explora — com muito humor — as nuances da arte da escuta. A obra não é uma cartilha sobre “como saber ouvir”, mas um convite à reflexão sobre o assunto.
O Palhaço e o Psicanalista
“Se de médico e louco todo mundo tem um pouco, de psicanalista e palhaço todo mundo tem um pedaço.”, dizem os autores já de cara, apresentando ao leitor um tema comum em ambos os ofícios: ouvir. Além de palhaço, Cláudio Thebas é educador, escritor e palestrante, e Dunker, professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo os autores, para praticar a boa escuta é necessário que o ouvinte faça um certo “pacto de acolhimento”. É preciso comprometimento com a escuta, se despir do “eu” e buscar o interesse pelo outro. Assim, é possível trabalhar um aspecto central da escuta: a empatia — mesmo pelo outro que é tão diferente de você.
Christian e Cláudio explicam que a escuta começa por uma espécie de renúncia a exercer o poder no diálogo. A máxima “quem sabe fala, quem não sabe escuta” nos afasta da boa escuta. Basta observar as relações interpessoais modernas para avaliar que o resultado disso é uma sociedade individualista, competitiva ao extremo e com enorme dificuldade em conviver harmonicamente. Na obstinada busca pelo espaço de fala, nos tornamos solitários: ninguém ouve com atenção o outro.
“A verdadeira escuta é um ato político, porque ela suspende os lugares constituídos para colocar todo centro e poder nas palavras que estão efetivamente sendo ditas, independentemente de quem as está pronunciando”, dizem os autores. Sim, escutar dá um trabalhão. A boa notícia é que, com algum esforço, é possível desenvolver essa habilidade. Escutar com qualidade é algo que se aprende. Depende de alguma técnica e exercício, mas também, e principalmente, de abertura e experimentação.
Como desenvolver a escuta ativa?
À AnaMaria, a psiquiatra Jessica Martani destaca a impulsividade e a postura defensiva como principais obstáculos da escuta ativa. “Em conversas mais difíceis, é comum não deixar o outro falar, levando-se por sentimentos mais fortes. Muitas vezes a pessoa não é ouvida, pois a outra pessoa já está planejando as respostas. A base da boa escuta é a paciência e controle da impulsividade, especialmente no ‘calor’ das emoções.”, diz a especialista.
Ter um ambiente de escuta onde podemos confiar e nos sentir acolhidas, sem julgamentos, é benéfico para a saúde mental. Ser ouvida melhora significativamente os níveis de estresse. Para quem exerce a escuta ativa, ouvir antes de falar auxilia no desenvolvimento de habilidades como paciência, foco e atenção. Além disso, devido ao controle dos impulsos, há um amadurecimento da regulação emocional. Confira a seguir dicas práticas para ser um bom ouvinte:
Olho no olho: uma das maneiras de exercitar a escuta ativa é olhar nos olhos de quem está falando e com isso tentar focar-se completamente na escuta.
Não interrompa: espere o outro concluir uma fala antes de acrescentar um ponto. A atenção deve ser voltada para o conteúdo. Reflita sobre o que está sendo falado antes de dar seu julgamento ou opinião.
Faça perguntas construtivas: a escuta ativa não é um monólogo. Depois que a pessoa concluir uma fala, faça perguntas que tenham sentido para o contexto, sem agressões.
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