Quando se fala em maternidade atípica, o tema costuma ganhar espaço nas conversas, mas a paternidade atípica ainda recebe menos atenção. No entanto, o envolvimento paterno é fundamental no processo de aceitação, na intervenção precoce e na evolução de crianças com transtornos do neurodesenvolvimento.
Para a neuropsicopedagoga Silvia Kelly Bosi, especialista em desenvolvimento infantil e CEO da clínica Potência, o pai precisa ser visto como parte essencial dessa jornada. “Ainda existe uma cultura que coloca o pai como coadjuvante nos cuidados, mas a verdade é que ele tem um papel estruturante tanto no aspecto emocional da criança quanto no suporte à família”, destaca.
Dia dos Pais: momento de repensar a participação paterna
O impacto de um diagnóstico como autismo, TDAH ou outro transtorno do neurodesenvolvimento pode afetar profundamente os pais — muitas vezes de forma silenciosa. Segundo Silvia, isso se torna ainda mais delicado quando os homens foram ensinados a não expressar vulnerabilidade. “Isso pode levar ao distanciamento emocional justo no momento em que a criança mais precisa de acolhimento e estímulo”, explica.
Essa realidade é vivida de perto pelo advogado Flávio Bosi, pai de Valentina, de 7 anos, e casado com Silvia. Ele compartilha que ser um pai atípico transformou sua forma de enxergar o mundo. “Ser pai da Valentina é, todos os dias, um convite para enxergar o mundo com mais leveza, mais paciência e mais coragem. Nossa caminhada juntos é diferente do que imaginei, mas é justamente nessa diferença que mora a beleza da nossa história”, afirma.
Paternidade atípica: desafios e descobertas emocionantes
Flávio lembra do momento em que ouviu o diagnóstico de autismo da filha. “Foi como se o chão abrisse. Não pelo diagnóstico em si, mas pelo medo do desconhecido. Eu me perguntava se seria capaz de ser o pai que ela precisava. Mas a Vavá nunca teve medo. Enquanto eu tentava entender, ela seguia sendo ela mesma — autêntica, única, intensa e sensível.”
Um dos marcos mais emocionantes para ele foi ouvir “papai” pela primeira vez. “Depois de muito tempo de estímulos, repetições e apoio, ela disse ‘papai’ e veio um abraço. Foi simples, rápido, mas imenso. Um gesto que carregava meses de esforço, de espera e de construção de vínculo.”
O impacto da intervenção precoce na relação entre pai e filho
A família descobriu que a intervenção precoce foi decisiva para compreender e estimular o desenvolvimento da filha. “Foi com ela que aprendemos a entender os sinais da Vavá, respeitar seu tempo e incentivar seu progresso com afeto, ciência e estrutura”, conta Flávio.
Ele também reconhece o papel essencial de Silvia na jornada: “Enquanto eu buscava entender, ela emergia nos estudos, enfrentava resistências e acolhia cada detalhe com uma força admirável. Aprendi com ela o que significa lutar com serenidade, agir com firmeza e acreditar com o coração inteiro.”
Presença paterna que transforma vidas
A paternidade atípica vai além de ajudar nos cuidados diários. Envolve escuta, vínculo e participação ativa. “Hoje sei que ser pai atípico é ser um aprendiz contínuo. É celebrar pequenas conquistas, reaprender o que é essencial e trocar expectativas por presença. A Valentina não precisa se encaixar em um padrão. Ela precisa ser respeitada, compreendida e acolhida em sua singularidade. E eu sigo aqui: para protegê-la, defendê-la e amá-la exatamente como ela é”, finaliza Flávio.
Neste Dia dos Pais, a mensagem é clara: quando o pai participa, toda a rede de apoio se fortalece. A presença masculina não apenas acolhe, mas impulsiona o desenvolvimento e a autoestima da criança, ajudando-a a florescer em sua individualidade.
Resumo: A paternidade atípica é um pilar essencial no desenvolvimento de crianças neurodivergentes. Histórias como a de Flávio e Valentina mostram que o amor, a presença ativa e a intervenção precoce transformam desafios em descobertas e fortalecem toda a família.
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