Em ‘Vale Tudo’, atual novela das nove da Globo, Leila tinha um problema: ela nunca havia experimentado um orgasmo na vida. A personagem interpretada por Carolina Dieckmmann (sim, com mais uma letra M) apenas descobriu a diferença entre prazer e orgasmo após os 40 anos quando se envolveu com Marco Aurélio, vivido por Alexandre Nero no remake da trama de 1988.
Para a sexóloga Tamara Zanotelli, ainda existe muita confusão entre prazer e orgasmo. “O prazer é uma experiência muito subjetiva, que pode ocorrer em diferentes níveis da atividade sexual e provoca uma sensação de satisfação, bem-estar e felicidade. Ele pode vir de carícias, beijos, toque e outros estímulos que não necessariamente culminam no orgasmo”, diz em entrevista à AnaMaria.
Ela completa: “O orgasmo é uma resposta fisiológica do nosso corpo, é o ponto máximo da excitação sexual. Ele é caracterizado por contrações musculares muito rápidas e intensas, sensação de euforia e aquecimento do corpo. É o ponto final de um caminho. Para você realmente ter uma experiência prazerosa, é preciso entender que existe todo um percurso até esse ápice.”
Benefícios do sexo vão além do orgasmo
Embora o orgasmo possa potencializar sensações de bem-estar e relaxamento, ele não é o único responsável pelos benefícios do sexo, como esclarece Tamara: “Não necessariamente e exclusivamente se depende de um orgasmo para atingir outros benefícios.”
“A relação sexual pode proporcionar aumento da intimidade, redução do estresse, liberação de hormônios, melhora do humor, fortalecimento do sistema imunológico e maior conexão emocional apenas com momentos de prazer”, afirma.
Por que não consigo ter um orgasmo?
A dificuldade de atingir o orgasmo pode envolver questões físicas, emocionais, relacionais e hormonais. Tamara explica que o processo é “biopsicossocial, ele envolve todos os campos da nossa vida. Se essa mulher estiver com dificuldade em algum deles, tem grande tendência de o problema estar nela.”
Ela lista alguns fatores que podem influenciar: “Condições de saúde, uso de medicação, obesidade, fatores hormonais e possíveis disfunções sexuais como vaginismo, despareunia e anorgasmia. Já entre os relacionais, podemos citar a comunicação do casal, falta de conexão emocional, insegurança no relacionamento ou insatisfação com experiências passadas.”
“Na parte emocional, ansiedade, insegurança, experiências traumáticas e autoestima baixa são fatores fortes. E também precisamos lembrar que muitas mulheres ainda estão no processo de descobrir o próprio corpo, suas zonas erógenas. Isso dificulta alcançar o orgasmo”, completa.
Tamara ainda destaca: “A menopausa e a perimenopausa também atrapalham, assim como situações de luto ou dificuldades financeiras. Tudo isso pode impedir a mulher de se sentir mais prazer ou de se entregar para chegar ao orgasmo.”
O que o casal pode experimentar para facilitar o orgasmo?
Segundo Tamara, o primeiro passo é o autoconhecimento. “Não adianta ir necessariamente só para o sexo esperando isso se você não se reconhecer antes”, afirma. “Às vezes eu transfiro para o outro o poder de me dar prazer, mas o outro só pode contribuir com o meu prazer. Se eu não reconhecer como prazeroso, nada vai mudar para mim.”
Ela recomenda que o casal explore novas formas de se conectar. “A chave está muito mais na comunicação. Além disso, podemos incluir estímulos variados como massagens com óleos, velas, brincadeiras com texturas e aromas. Isso tudo ajuda o corpo a relaxar mais.”
“Práticas de respiração sincronizada, meditação e técnicas do Tantra ajudam a estar mais próxima do processo do clímax. Também vale investir em jogos que estimulem as sensações, no fluxo de energia e na presença. Brinquedos eróticos, vídeos e novidades (com moderação) também contribuem bastante”, diz.
Como saber se você chegou lá?
Diferente do que muita gente pensa, nem todo orgasmo segue um padrão. “Nem todo mundo segue a tendência de ter contrações involuntárias, sensação de quentura ou os pés arqueados. Cada pessoa sente de uma forma diferente”, afirma Tamara.
Mesmo assim, há sinais típicos: “Contração involuntária nos músculos da região pélvica, aumento da frequência cardíaca e da respiração, sensação de liberação da tensão, prazer intenso e cíclico, bochechas avermelhadas, arrepios, rubor e ondas de calor.”
Outros indicativos também são possíveis. “A sensação de conexão intensa com a parceira, vontade de ficar agarradinho, contração dos dedos dos pés, expansão do corpo e até o choro. Isso é importante dizer: existem mulheres que choram no pós-orgasmo, e esse também pode ser um sinal de que chegaram ao ápice”, finaliza.
Resumo: Em ‘Vale Tudo’, Leila (Carolina Dieckmmann) abre espaço para um debate comum entre mulheres, mas que ainda sofre muito tabu. A personagem, após os 40 anos, descobre a diferença entre prazer e orgasmo. Para a sexóloga Tamara Zanotelli, essa é uma dúvida muito comum. Ela também explica que os benefícios do sexo vão além do orgasmo, por que uma mulher não consegue atingir o clímax e como saber que ela “chegou lá”.
Leia também:
Assexualidade: entenda a orientação sexual de Poliana, personagem da novela ‘Vale Tudo’