Tânia Carvalho se surpreendeu ao ver um vídeo com seu rosto dizendo algo que jamais diria. A imagem era dela, a voz parecia ser dela, mas a mensagem não tinha nada a ver com o que acredita. Um deepfake usou sua imagem para vender um suposto “chá milagroso”.
A influenciadora, que compartilha sua experiência com lipedema, teve sua identidade digital falsificada. O vídeo enganoso circulava no Instagram como um anúncio pago. Mesmo denunciado, continuava no ar.
A história de Tânia mostra o perigo dos deepfakes, tecnologia que cria vídeos falsos a partir da imagem e voz de alguém. A ferramenta, usada para entretenimento, também se tornou arma para fraudes.
O caso de Tânia Carvalho
No vídeo falso, a influenciadora aparece promovendo um “chá especial” que eliminaria a gordura do lipedema em sete dias. “Eu só precisava tomar ele toda manhã durante sete dias”, diz a falsa Tânia na gravação manipulada.
O lipedema é uma doença crônica que causa acúmulo de gordura nas pernas e nos braços, afetando cerca de 10% das mulheres no mundo. Seu tratamento é multidisciplinar, envolvendo mudanças na alimentação, exercícios e até cirurgias, mas não existe um “chá milagroso” que resolva o problema.
A verdadeira Tânia sempre reforçou isso em suas redes sociais. No vídeo original, ela explica que seu tratamento incluiu uma cirurgia específica e acompanhamento médico. “Tudo é muito mais complexo do que malhar um ano. Tem muitos fatores, como hormônios e idade. A doença não é tão simples quanto parece”, esclareceu.
Como os deepfakes são usados em golpes
Os deepfakes já enganaram muitas pessoas e celebridades foram alvos frequentes. Nomes como Drauzio Varella, Ivete Sangalo, Ana Maria Braga e Xuxa já tiveram suas imagens manipuladas para promover produtos duvidosos.
Mas o caso de Tânia Carvalho chama a atenção porque mostra que qualquer pessoa pode ser vítima, mesmo sem ser uma figura amplamente conhecida. Como muitos seguidores não conhecem sua voz original, muitos podem acreditar na fraude sem questionar.
O vídeo estava vinculado a uma página falsa no Facebook, que usava a foto de uma suposta médica. O perfil não tinha postagens nem seguidores. O golpe levava os espectadores a um site que vendia um kit por R$ 37, contendo a “receita secreta do chá detox” e um “acompanhamento personalizado” pelo WhatsApp.
Como se proteger do deepfake?
Tânia denunciou o vídeo ao Instagram, mas recebeu a resposta de que o conteúdo “segue os padrões da comunidade”. Em nota à BBC Brasil, a Meta, dona da plataforma, afirmou que “atividades que tenham como objetivo enganar, fraudar ou explorar terceiros não são permitidas”, mas não garantiu a remoção do vídeo.
A influenciadora ainda não sabe se irá entrar com uma ação judicial, pois o processo demandaria tempo e dinheiro. “O fato de ver os dentes que não são meus, naquela boca que não é minha, me ouvindo falar algo absurdo, me fez pensar: ‘Meu Deus, posso ser vítima de algo muito pior'”, desabafa.
O que diz a lei sobre deepfake?
Apesar dos avanços da tecnologia, a legislação brasileira já protege direitos como imagem, nome e voz. A Constituição e o Código Civil garantem que ninguém pode usar a imagem de outra pessoa para prejudicá-la ou lucrar sem permissão.
No Congresso, o Projeto de Lei 2338 busca regular o uso da Inteligência Artificial no Brasil, incluindo o combate a deepfakes. Enquanto isso, especialistas alertam que é preciso mais conscientização. “Precisamos nos acostumar a não acreditar em tudo que vemos”, afirma à BBC a advogada Andressa Bizutti, pesquisadora de mídia sintética na USP.
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