Nos últimos anos, o escorpião deixou de ser um bicho do mato para se tornar um vizinho indesejado nos grandes centros urbanos. Um estudo publicado na revista Frontiers in Public Health aponta que, entre 2014 e 2023, o Brasil registrou aproximadamente 1,17 milhão de casos de picada de escorpião, um aumento de 250% em menos de uma década. A previsão, se nada mudar, é alarmante: podemos ultrapassar os 2 milhões de acidentes até 2033.
Segundo o biólogo Leonardo Marconato, professor da Estácio, parte do problema está na biologia do escorpião-amarelo (Tityus serrulatus), considerado o mais perigoso do país. “Eles se reproduzem por partenogênese, ou seja, fêmeas geram filhotes sozinhas, sem necessidade de machos. Com oferta de comida e esconderijo, eles se multiplicam com facilidade”, explica.
Terrenos baldios, lixo e entulho são convite para a infestação
Não são apenas as florestas que servem de abrigo: terrenos baldios, entulhos, esgotos e até os ralos dos banheiros se tornaram esconderijos ideais para os escorpiões nas cidades. “É a combinação de três fatores: abrigo, alimento e reprodução acelerada. Isso facilita o crescimento populacional e aumenta o número de encontros com humanos”, afirma Marconato.
Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, o primeiro trimestre de 2023 teve o maior número de acidentes com escorpiões desde 2020. Apenas em Campo Grande, foram registrados 787 casos. Crianças pequenas e idosos compõem o grupo mais vulnerável, em parte porque o veneno tem maior impacto no organismo deles.
Por que o número de acidentes cresce tanto?
Especialistas indicam que o aumento está ligado a três fatores principais:
- Aquecimento global: altas temperaturas favorecem a atividade dos escorpiões, tornando períodos como o verão ainda mais críticos.
- Ambiente urbano ideal: com fartura de baratas e falta de predadores naturais, as cidades oferecem condições perfeitas para sua proliferação.
- Reprodução sem machos: o escorpião-amarelo se reproduz sozinho, acelerando o crescimento da população.
Cuidados simples fazem diferença
Para evitar acidentes, é essencial investir na prevenção. Confira medidas recomendadas por especialistas:
- Use água sanitária nos ralos e mantenha-os fechados após o uso.
- Vede frestas nas portas e rachaduras nas paredes.
- Evite o acúmulo de lixo e entulho em casa e na vizinhança.
- Mantenha o ambiente limpo, sem insetos que servem de alimento.
- Instale barreiras físicas nas portas externas.
- Recolha escorpiões mortos e, se possível, leve ao Centro de Zoonoses para identificação.
Em algumas regiões do país, o uso de predadores naturais, como galinhas, tem sido testado como uma forma de controle biológico. Mas, em áreas urbanas densamente povoadas, a principal arma ainda é a vigilância constante.

O que fazer em caso de picada de escorpião?
- Lavar o local com água e sabão.
- Fazer compressa com água quente para aliviar a dor.
- Procurar atendimento médico imediato, principalmente se for criança ou idoso.
- Se for possível capturar o animal com segurança, levá-lo para identificação.
Em 98% dos casos, os sintomas são leves e se limitam à dor local. No entanto, há risco de complicações graves, como taquicardia, sudorese intensa, pressão alta e edema pulmonar, principalmente em pessoas mais frágeis.
“O importante é agir rápido”, alertam os especialistas. Quanto mais cedo o atendimento médico for realizado, menor a chance de evolução para um quadro grave.
Resumo:
Casos de picadas de escorpião cresceram 250% em cidades brasileiras na última década, com destaque para o escorpião-amarelo, que se reproduz sem machos e se adapta facilmente ao ambiente urbano. Fatores como aquecimento global, lixo acumulado e presença de baratas favorecem sua proliferação. Para evitar acidentes, é essencial manter ralos fechados, vedar frestas e evitar entulhos. Em caso de picada, buscar atendimento médico imediato é fundamental, especialmente para crianças e idosos.
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