Os conflitos familiares são uma parte natural da vida cotidiana. Eles surgem devido a diferenças de opinião, expectativas variadas e até mesmo pressões externas que afetam todos os membros da família.
Esses desentendimentos podem variar de questões menores a disputas mais sérias e muitas vezes refletem a complexidade das relações humanas.
Apesar de sua inevitabilidade, a maneira como lidamos com esses conflitos pode influenciar a saúde e a coesão da nossa família. Por isso, AnaMaria conversou com a psicóloga Mary Cristiane Cardoso, que conta um pouco sobre a Lei do Pertencimento, Lei do Equilíbrio e Lei da Hierarquia nos conflitos familiares.
O que é a lei da hierarquia?
A dinâmica de prioridades dentro da família muitas vezes pode levar a conflitos e desafios, especialmente quando se trata do equilíbrio entre os cuidados com uma criança recém-nascida e a manutenção da relação entre o casal.
Quando um bebê chega, naturalmente, ele exige uma quantidade significativa de atenção e cuidados. Esse é um aspecto normal e essencial para o bem-estar do recém-nascido.
No entanto, o problema surge quando esse foco exclusivo no bebê perdura por um longo período e acaba por desviar a atenção e o afeto que deveriam ser compartilhados com o parceiro. Esse desequilíbrio pode criar tensões e até mesmo levar à separação do casal, uma vez que as necessidades e os sentimentos de ambos os parceiros não são devidamente atendidos.
Em contextos como a escola e o ambiente de trabalho, a hierarquia é uma forma de organização onde certos papéis e responsabilidades são claramente definidos. Na escola, o professor tem uma posição de autoridade e orientação em relação aos alunos.
Da mesma forma, no ambiente de trabalho, um gestor ocupa uma posição hierárquica superior aos seus subordinados. Quando essas hierarquias são respeitadas, o funcionamento do sistema na totalidade tende a ser mais harmonioso e eficaz.
“Uma construção familiar saudável não tem receita mágica, no entanto, respeitando as funções de cada membro é um bom começo da relação saudável. A empatia sistêmica é ajudar no todo não somente a um indivíduo, com isso é preciso olhar e honrar aqueles que possuem a força necessária para haver harmonia familiar que são os pais”, afirma Mary.
Lei do Pertencimento
O conceito de pertencimento em uma família é fundamental para o bem-estar e a estabilidade emocional dos seus membros. Todos têm o direito de fazer parte de uma família, e esse direito está ligado ao sentimento de aceitação e inclusão.
No entanto, muitas vezes, para nos encaixarmos ou sermos aceitos, acabamos nos sujeitando a certos padrões ou nos anulando, acreditando que só seremos verdadeiramente aceitos quando nos tornamos iguais aos outros membros da família.
“Quando aprendemos a seguir em caminhos diferentes, sem desonrar suas raízes podemos aprender a pertencer mesmo com ideais distintos. Se houver uma exclusão, não importa a sua natureza, ela influenciará na dinâmica familiar garantidamente”, aponta a especialista.
Lei do Equilíbrio
O conceito de equilíbrio entre dar e receber é uma das premissas fundamentais que uma criança aprende e internaliza ao longo da infância, e essa aprendizagem molda sua forma de interagir com o mundo à medida que cresce.
Desde cedo, a criança que experimenta um ambiente de amor e cuidado aprende a retribuir esse amor na mesma medida. Essa troca equilibrada de afeto e apoio se traduz na forma como o indivíduo se relaciona com os outros ao longo da vida, refletindo o princípio de “gentileza gera gentileza”.
No contexto familiar, o equilíbrio é essencial para o funcionamento harmonioso do sistema. Cada membro da família contribui para a manutenção da homeostase, ou seja, do estado de equilíbrio e estabilidade, tanto nas tarefas domésticas quanto na vida financeira.
Como lidar com conflitos familiares?
“Quando colocamos na mesa nossas necessidades e verdadeiramente o que no outro está me incomodando, com um diálogo sincero e humilde. Sem julgamentos ou críticas, apenas expor os verdadeiros sentimentos a respeito do fato em si. Dessa maneira abrimos uma nova porta para iniciar uma nova jornada de diálogo não violento em qualquer relacionamento, aí sim começamos uma abertura empática na comunicação”, diz.
No campo da psicologia e da justiça, a comunicação não violenta e a escuta compassiva têm sido amplamente aplicadas como ferramentas para resolver conflitos e promover a harmonia nas relações.
Estas abordagens buscam cultivar uma forma de comunicação que minimiza a agressividade e promove o entendimento mútuo, enquanto a escuta compassiva enfatiza a empatia e a compreensão profunda das necessidades e sentimentos dos outros.
A Psicologia Sistêmica proporciona uma visão mais completa e integrada dos problemas, permitindo que se compreenda como os conflitos estão interligados com o contexto mais amplo e como os padrões de comportamento e relacionamentos impactam a dinâmica dos conflitos. Essa abordagem não apenas ajuda a identificar e abordar os conflitos primários ocultos, mas também facilita a pacificação mais duradoura dos conflitos ao lidar com as raízes subjacentes e os padrões sistêmicos.
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