Ao pensar em alienação parental, é comum que a imagem que venha à cabeça envolva pais separados usando os filhos como instrumentos de disputa. No entanto, o que muita gente ainda não sabe é que essa prática também acontece com pessoas mais velhas. A chamada alienação parental com pessoas idosas vem ganhando espaço nos tribunais e nas conversas familiares — e não por acaso.
De acordo com a advogada Letícia Peres, especialista em Direito das Famílias e das Pessoas Idosas, esse tipo de abuso costuma estar relacionado a interesses financeiros, especialmente quando o idoso possui bens ou uma boa aposentadoria. “Geralmente, um dos filhos isola o idoso dos demais parentes e amigos, manipula informações e passa a controlar seus recursos com o objetivo de obter vantagens”, explica.
Alienação parental também fragiliza a saúde física e emocional
Não se trata apenas de um afastamento afetivo. Segundo Letícia, a alienação parental com pessoas idosas compromete diretamente a saúde emocional, cognitiva e até física da vítima. Isso porque, ao ser privada do convívio com quem ama, a pessoa idosa perde referências, vínculos e, muitas vezes, a vontade de viver.
“Quando o idoso é afastado de familiares com quem sempre conviveu, surgem riscos reais de agravos à saúde. O isolamento pode causar tristeza profunda, confusão mental e acelerar quadros de demência”, alerta a especialista. Além disso, é comum que o idoso passe a depender exclusivamente da pessoa que o aliena, tornando-se ainda mais vulnerável.
Como identificar os sinais da alienação parental com pessoas idosas
Os indícios dessa forma de abuso nem sempre são evidentes. Entretanto, algumas mudanças no comportamento do idoso podem acender o sinal de alerta. Por exemplo:
- Isolamento repentino;
- Falta de contato com amigos e familiares próximos;
- Tristeza constante;
- Medo ou desconfiança de outras pessoas queridas;
- Justificativas incoerentes para afastamentos;
- Alterações nos hábitos financeiros ou na gestão dos bens.
Além disso, Letícia explica que o alienador costuma adotar atitudes estratégicas para manter o controle. “É comum que essa pessoa obtenha procuração pública com amplos poderes, altere o testamento, impeça o idoso de ter acesso aos próprios documentos e controle tudo o que entra e sai da casa”, relata. Também é frequente a troca dos médicos, mudança de endereço e até a instalação de câmeras para monitoramento constante.
Alienação pode ser praticada por cuidadores ou novos parceiros
Embora os filhos sejam os principais autores desse tipo de prática, outros indivíduos próximos também podem agir de maneira semelhante. “Cuidadores, novos cônjuges ou companheiros podem se beneficiar materialmente do isolamento, criando barreiras entre o idoso e os familiares”, afirma Letícia. Por isso, é fundamental manter diálogo constante com o idoso e estar presente em sua rotina sempre que possível.
Além disso, a advogada ressalta que muitos idosos, especialmente os que já têm algum comprometimento cognitivo, acabam aceitando a versão do alienador como verdade absoluta. Dessa forma, vínculos afetivos são rompidos com quem, de fato, quer o seu bem.
Se você desconfia que alguém próximo esteja praticando esse tipo de abuso, o primeiro passo é tentar restabelecer o contato com a pessoa idosa, de forma respeitosa e gradual. Em seguida, é importante buscar ajuda jurídica e psicológica para garantir a proteção dos direitos do idoso e reconstruir laços afetivos.
“Denunciar é essencial. A família precisa estar atenta e agir, pois muitas vezes o idoso não tem mais forças ou condições de pedir ajuda”, enfatiza a especialista. Vale lembrar que a Constituição Federal e o Estatuto do Idoso asseguram o direito ao convívio familiar, o que torna a alienação parental com pessoas idosas uma violação legal e moral.
Romper o silêncio é o primeiro passo para proteger quem amamos
Apesar de doloroso, o enfrentamento dessa situação pode salvar vidas. A reaproximação com o idoso deve ser feita com carinho, paciência e escuta ativa. Ou seja, sem julgamentos ou imposições, mas com acolhimento e apoio emocional.
Se você viveu ou presenciou algo semelhante, saiba que não está sozinha. Romper esse ciclo é um ato de amor — e pode devolver a alegria de viver a quem já fez tanto por todos nós.
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