A nova minissérie ‘Adolescência’, da Netflix, tem dado o que falar desde a sua estreia no início de março. A trama aborda temas urgentes, como masculinidade tóxica e o impacto das redes sociais. Mas o foco principal é a relação entre pais e filhos.
O protagonista Jamie, de 13 anos, é acusado de um crime brutal contra uma colega. A partir disso, a narrativa expõe como a falta de referências paternas influencia a formação dos adolescentes. A história fictícia reflete um problema real, que afeta indivíduos e toda a sociedade.
Para o pediatra Paulo Telles, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a mensagem é clara: “Para ser pai, é preciso participar. O que a série mostra de forma dramática é o que já vemos em dados e na prática clínica: a falta de envolvimento paterno tem impactos emocionais, sociais e até econômicos.”
O impacto da ausência paterna na adolescência
Ainda é comum ver homens reduzindo a paternidade a um papel de provedor financeiro, deixando para as mães toda a responsabilidade pela educação dos filhos. Os números mostram essa realidade: em 2023, mais de 172 mil crianças nasceram no Brasil sem o nome do pai no registro.
“Estamos em 2025 e ainda precisamos afirmar o óbvio: ser pai não deveria ser opcional, nem se limitar a oferecer sustento. A criação e a educação dos filhos devem ser responsabilidades compartilhadas, e é fundamental que os homens compreendam seu papel como pais, que vai muito além do apoio financeiro”, reforça o especialista.
Estudos mostram que a paternidade ativa está diretamente ligada ao desenvolvimento cognitivo, à saúde mental e ao desempenho escolar. Crianças com pais participativos têm maior autoestima, mais empatia e melhores habilidades sociais.
“Além disso, pais presentes impactam positivamente a economia. Menos evasão escolar, menos delinquência juvenil, menos gastos com saúde mental e assistência social. É um investimento com retorno certo, como já apontou até o prêmio Nobel James Heckman”, explica o pediatra.
Licença-paternidade: um passo essencial
Enquanto países como a Suécia oferecem até 480 dias de licença parental compartilhada, o Brasil ainda engatinha nesse assunto. Ampliar esse tempo não é apenas uma questão de justiça familiar, mas também de inteligência social e econômica.
“O custo de ampliar a licença para 20 dias seria de R$ 99 milhões, uma fração mínima da arrecadação federal. O custo da omissão é muito maior”, alerta Paulo.
Para ele, ser pai é um aprendizado constante. “É no cuidado, na troca de fralda, no colo de madrugada e nas consultas pediátricas que um pai vai se formando. E os ganhos são mútuos. Pais também têm alterações cerebrais positivas quando participam ativamente da criação dos filhos. Eles crescem junto com seus filhos.”
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