Mês passado, Maiara e Maraisa foram surpreendidas com uma enxurrada de críticas ao compartilharem um trecho da música inédita chamada “Borderline”, que foi cancelada antes mesmo de seu lançamento. Na letra, a dupla afirma que não precisa de CRM (sigla de licença do Conselho Nacional de Medicina) para diagnosticar uma pessoa com o diagnóstico de Transtorno de Personalidade Borderline (TPB).
“Nem preciso de CRM para diagnosticar essa loucura que cê tá vivendo / Fiquei sabendo que ele namorou outras pessoas / Para cada uma ele foi um personagem / E esse perfil se encaixa numa personalidade borderline” diz um trecho da canção.
As sertanejas compartilharam no dia 26 de abril, um vídeo cantando uma parte da música, mas no dia seguinte, o vídeo já havia sumido de seus perfis nas redes sociais. Vale lembrar que, minutos após a situação viralizar, Maraisa publicou um relato “zombando” dos comentários. “Enquanto o povo está cancelando a gente, estamos aqui compondo porque o trabalho não pode parar. E, logo mais, esperem aí no feed mais temas polêmicos”, disparou.
Especialistas se sentiram ofendidos com a música e letra, além dos pacientes

Em entrevista exclusiva à Ana Maria, a psicanalista Taty Ades falou sobre a repercussão do caso. Pós graduada em Neuropsicologia e Neurociência, ela atua há 20 anos tratando amor tóxico e o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) e afirma que a canção reforça estigmas extremamente prejudiciais sobre quem vive com o diagnóstico.
“A repercussão foi muito rápida porque tocou diretamente no sofrimento de muitas pessoas que vivem essa realidade e se sentiram extremamente feridas (…) A mídia foi fundamental. Ela deu espaço para que vozes que normalmente ficam silenciadas pudessem ser ouvidas. Não foi só sobre mim — centenas de pacientes, familiares, psicólogos e psiquiatras se mobilizaram contra a reprodução de preconceitos, desinformação e estigmatização”, conta.
A terapeuta afirma que mesmo com tantas críticas, a dupla formada por Maiara e Maraisa não teve o devido cuidado nem mesmo na hora de se retratar com o público. “Houve um pronunciamento da assessoria, mas, infelizmente, de forma bastante evasiva. Alegaram que a música sairá sim e, sem reconhecer de fato o impacto que causaram, nem se desculparam”, explicou a também autora do livro “Borderline Método Costura”, obra recém lançada por ela que traz mais de 600 páginas para profissionais de saúde sobre o seu método exclusivo de cura.
“A música chegou, sim, a ser retirada das plataformas e proibida após a pressão pública, principalmente vinda de profissionais da saúde mental e de pessoas diagnosticadas com borderline, que relataram, inclusive, automutilação e agravamento dos seus quadros emocionais após ouvirem a canção. Isso mostra o quanto é grave. Não é brincadeira”, conclui Ades.