É fim de ano, época de ceias, reencontros e, inevitavelmente, conflitos familiares. E não é coincidência que a terceira temporada de “Ilhados com a Sogra”, que estreou em 3 de dezembro na Netflix, tenha rapidamente alcançado o topo das produções mais assistidas.
Apresentado por Fernanda Souza, o reality coloca sob pressão sogras, noras e genros em provas competitivas e convivência intensa, expondo a química e os atritos que ficam ainda mais evidentes nesse período do ano.
Desta vez, a atenção se voltou especialmente para o “time roxo”, formado pela família Machado: Marihely, a sogra de 45 anos, independente e direta; Gabriel, o genro de 29 anos, conhecido pelo humor ácido; e Isadora, de 28, que assiste às tensões do bunker enquanto vê mãe e marido se confrontarem e se unirem em meio às provas.
A dinâmica do trio tem dividido opiniões online. Enquanto parte do público critica a postura de Isadora, outra defende Gabriel das provocações da sogra, e muitos apontam a franqueza de Marihely como estopim de boa parte das discussões.
Psicanalista analisa e compara reality com vida real
Para compreender por que essa família mobiliza tantas reações, a psicanalista Cintia Castro analisa a situação à luz da psicologia. “A psicanálise vê no ‘time roxo’ um retrato intenso das dinâmicas familiares que costumam emergir nas festas de fim de ano: emoções à flor da pele, lealdades divididas e conflitos que se repetem há anos. Marihely, com sua franqueza direta, ocupa o lugar simbólico de quem precisou ser firme para não desaparecer emocionalmente”.
Cintia é cirúrgica e complementa sua leitura: “Gabriel, com humor ácido e respostas irônicas, expressa um tipo de defesa muito comum em relações de tensão, a ironia como forma de evitar a vulnerabilidade. E Isadora, assistindo de um bunker, representa o papel sensível de quem tenta equilibrar expectativas e afetos entre duas pessoas igualmente importantes”.
Segundo a especialista, a polarização nas redes sociais revela muito mais sobre o público do que sobre os Machado. “A divisão do público nas redes sociais revela o quanto cada espectador se identifica inconscientemente com um desses papéis. Essa polarização não fala da família Machado apenas, mas das próprias relações familiares do público, ativadas pela forma como cada integrante do trio se posiciona”, detalha.
Aliás, ela afirma que o interesse do público surge justamente porque, ao assistir, cada pessoa se vê diante de um espelho: uma versão de si mesma, da própria mãe, do próprio parceiro ou de lugares familiares que todos nós já ocupamos e daí vem a empatia e, consequentemente, a audiência.
Sogra, genro e filha agem muito mais pela emoção
Cintia reforça que o impacto emocional causado pelo trio tem uma explicação profunda. “O trio só mobiliza tanto porque revela a verdade das relações humanas: ninguém briga apenas pelo que acontece na superfície, briga pelo que carrega há anos (traumas e lembranças de infância não trabalhados). É por isso que mesmo longe das nossas próprias casas, os conflitos nos lembram das tensões que atravessam qualquer família real, especialmente quando dezembro chega e tudo fica emocionalmente mais sensível”, pontua a especialista.
Assim, Ilhados com a Sogra ultrapassa o entretenimento e se torna um espelho das relações familiares típicas do fim do ano, quando velhas dores ressurgem, expectativas se chocam e a convivência exige mais escuta e menos julgamento. Enquanto a série segue entre os títulos mais comentados da Netflix, a reflexão permanece: talvez o segredo para sobreviver às festas, dentro ou fora da ilha, esteja justamente em reconhecer que o conflito não é o problema, mas sim a forma como cada família escolhe atravessá-lo.








