Hoje, 12 de maio, é o Dia Nacional de Conscientização e Enfrentamento da Fibromialgia, quadro que afetou Lady Gaga e a fez adiar vinda ao Brasil em 2017. A famosa falou abertamente sobre o diagnóstico em diversas entrevistas e preocupou fãs no mundo inteiro. Estima-se que a doença atinja 2,5% da população mundial, ou seja, efetivamente 200 milhões de pessoas, tendo maior incidência em mulheres entre 30 e 50 anos.
Após superar esse cenário, a cantora segue com o alerta sobre a síndrome complexa, caracterizada por dor crônica generalizada, distúrbios do sono, fadiga intensa e, muitas vezes, alterações de humor que acomete muitas pessoas.
“O mais impactante é que essa dor não aparece em exames convencionais. É uma dor que vem do sistema nervoso central, resultado de um fenômeno chamado sensibilização central em que o cérebro passa a interpretar estímulos normais como se fossem dolorosos. É uma dor real, mas invisível”, explica o Dr. José Fernandes Vilas, mestre em Medicina pela Santa Casa de Misericórdia de BH e pós graduado em Neurologia e Psiquiatria Clínica.
Infelizmente, por não ser detectada em exames, a Fibromialgia é incompreendida inclusive por profissionais de saúde. “Vivemos em uma cultura que valoriza aquilo que pode ser medido. Como a fibromialgia não aparece em exames de sangue ou radiografias, muitos pacientes são desacreditados. A fala da cantora ajudou a dar visibilidade a uma dor que milhares de pessoas vivem em silêncio. Quando uma estrela fala, o mundo escuta. E isso tem um valor imenso”.
Sintomas, tratamento e cura da fibromialgia
Dentre diversas pesquisas, muitos pacientes relatam que os sintomas geralmente começam após eventos traumáticos como perdas, abusos, separações ou acidentes. “O corpo e a mente não são entidades separadas. A ciência já comprovou que o estresse crônico altera circuitos neurológicos, eleva o cortisol, desregula o eixo HPA e prejudica neurotransmissores como a serotonina e a dopamina e tudo isso impacta a percepção da dor”, fala Fernandes.
Lady Gaga, por exemplo, compartilhou episódios de trauma e violência em sua história e isso é apenas uma parte do contexto biológico da doença. Para o médico, é preciso ter cautela quando falamos com relação à cura do quadro. “Ainda não temos uma cura definitiva, mas existe tratamento e ele precisa ser multidisciplinar. Envolve reeducação do sono, atividade física adaptada, estratégias de manejo do estresse, apoio psicológico e, em alguns casos, medicações ou suplementações que modulam o sistema nervoso. Em minha prática clínica, utilizo abordagens integrativas que tratam o paciente como um todo. A boa notícia é que, com o cuidado certo, é possível retomar qualidade de vida, energia e autonomia”, explica.
Além do preconceito com relação ao cenário, é preciso coragem para expor a vulnerabilidade que muitas vezes limita as capacitações pessoais e profissionais de quem lida com isso. “Lady Gaga mostrou que a dor não tem aparência e que saúde emocional é parte fundamental da saúde integral. Quando uma artista global interrompe sua carreira para cuidar do próprio corpo, ela nos ensina a honrar os nossos limites e, sobretudo, a acreditar que não estamos sozinhos. Isso é fundamental”, finaliza o médico.