O mercado de beleza está em alerta: o uso indiscriminado do PMMA, sigla para polimetilmetacrilato, um componente plástico com diversas utilizações na área de saúde e em outros setores. A substância tem virado vilã devido às notícias veiculadas ultimamente e, infelizmente, com a repercussão da morte da influenciadora digital Aline Maria Ferreira da Silva, aos 33 anos. A paciente veio à óbito depois de ter passado por um procedimento para aumentar os glúteos com a aplicação de PMMA.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) exige registro para uso para preenchimento subcutâneo, pois é considerada uma substância de máximo risco. “Por ter um baixo custo se comparado a outros preenchedores, e por ser definitivo, muitos pacientes se encantam com seus resultados esteticamente perfeitos e esse sonho pode se transformar em pesadelo. É importante ressaltar que não há indicação específica para aumento de volume, seja corporal ou facial, utilizando este material. Essa distinção é crucial, pois o uso do PMMA nos glúteos deve ser restrito a procedimentos corretivos para melhorar a simetria ou tratar irregularidades específicas, em conformidade com as diretrizes estabelecidas pela Anvisa”, explica o cirurgião plástico Dr. Nicola Biancardi.
A maioria das pacientes não é informada dos riscos do procedimento e ainda há muita discussão com relação a complicações graves agregadas ao pós operatório. “As principais complicações do uso do produto no subcutâneo incluem infecções com formação de filme de bactérias que necessita remover todo o produto cirurgicamente, podendo levar a infecções generalizadas graves; migração do produto para vasos ou artérias causando obstruções e até tromboembolismo pulmonar, sem antídoto para dissolver ou remover o produto e quadros inflamatórios locais e à distância a longo do tempo”, informa o médico. Segundo ele, a não possibilidade de retirada do produto e a associação com uma ou mais complicações levam a uma alta taxa de reprovação do PMMA. “Para os tratamentos de contorno corporal estéticos o ideal são produtos que possam ser retirados ou que sejam bio compatíveis, como os estimuladores de colágeno e o ácido hialurônico”, detalha Biancardi.
Muitas famosas e anônimas já foram entrevistadas sobre complicações enfrentadas após procedimentos com a substância. Todas sofrem com depressão, tentativas de ajustes a procedimentos mal realizados e preconceito e julgamento da sociedade, além de prejuízos emocionais e financeiros, de todos os tipos. Jaqueline Chaves, estudante de Biomedicina de 48 anos ficou com deformações no rosto. A balconista Mariana Michelini, de apenas 35, teve que remover os lábios após a aplicação do componente plástico.
A cantora Leticia Minacapelly, de 28 anos, já passou por seis cirurgias para tentar corrigir imperfeições após a aplicação do PMMA nos glúteos. A funkeira conhecida como MC Princesa divide angústias, vídeos e publicações que detalham a luta para ter a beleza corporal de volta. Após a quinta cirurgia (sendo que ela já está na sexta), a artista escreveu um desabafo: “Essa é a QUINTA vez que precisei fazer a mesma cirurgia! Venho através desse vídeo mostrar uma “realidade” não muito mostrada por nós “influenciadoras”: O sofrimento. Se fosse contar tudo que já passei por causa disso, daria livros.. Mas vou resumir: A aproximadamente 6 anos atrás fui vítima de um erro médico >gluteoplastias mal sucedidas+injeções de PMMA. E desde então venho fazendo cirurgias ano a ano… Já passei por momentos que me vi perder as esperanças mas DEUS sempre me manteve de pé. Ano passado realizei uma cirurgia pra remover PMMA. Tive que ser muito forte, foi uma cirurgia totalmente aberta, mas bem sucedida! E aqui estou novamente… Se tudo der certo, essa agora, será minha última cirurgia. Você aí que está pensando em fazer algo no seu corpo por não se sentir bem ou por querer mudar mesmo, se informe muito antes. NUNCA (em hipótese alguma) permita que apliquem PMMA em seu corpo! JAMAIS permita que sua vida ou seu futuro sejam afetados por erros de terceiros, ninguém merece passar por isso”, postou.
Segundo o Dr. Mauro Macedo, Ortodontista e Ortopedista da Face e Maxilar, o PMMA não é nenhuma novidade no mercado, ele foi muito utilizado por profissionais por anos e vem passando por uma série de evoluções, quanto ao seu uso e indicações precisas. “É preciso atentar-se à raiz do problema: na grande maioria dos casos o vilão não deve ser especificamente o produto e sim seu uso indevido. O erro humano é mais comum do que se imagina principalmente devido ao crescimento de profissionais desqualificados, inabilitados ou mal preparados que atendem hoje no mercado”.
De acordo com o profissional de saúde, biomédicos não tem habilitação para uso do PMMA, somente há permissão legal para uso os médicos e os dentistas devidamente qualificados. “O maior problema do PMMA se deve ao fato de possuirmos atualmente materiais mais seguros com a mesma proposta e com menos riscos de danos severos ao paciente. Seu mal uso, devido a aplicação errada se agrava por ser um material irreversível, mas destaco que há muitos fabricantes de indústrias sérias e consolidadas em sua produção”, explica Macedo.
Infelizmente, a tentativa de remoção do PMMA quando aplicado erroneamente se dá via cirurgia, com grandes riscos em deixar o paciente mutilado estética e funcionalmente. “Ainda, quando utilizado principalmente a nível superficial dos tecidos do paciente, juntamente com a gordura superficial cutânea e com o passar dos anos, o processo do envelhecimento faz com que aquele PMMA pese no tecido do paciente e desça dando a ideia que ele migrou de posição assumindo uma posição por muitas vezes bem desagradável do ponto de vista estético”, alerta.