Da menina que nasceu no coração do Sertão brasileiro à mulher que viaja o mundo com uma arte que é só sua e fala da natureza, Geovana Cléa tem muito a comemorar. A artista contemporânea de artes visuais celebra a terra com uma pesquisa tão profunda quanto as rachaduras das paisagens áridas que retrata e é uma voz que precisa ser ouvida, especialmente hoje.
“Dia 5 de junho comemoramos o Dia Mundial do Meio Ambiente e posso afirmar que, pra mim, essa data deveria ser comemorada todos os dias. É necessário enaltecer e celebrar a vida e a natureza sempre. Há anos, represento e tento chamar atenção para o problema de escassez de água, por exemplo. Faço isso porque faz parte das minhas raízes e carrego com orgulho esse sentimento de ser grata ao Universo e contemplar. Isso só me fortalece e me faz enxergar que estou no caminho certo: o de propagar a cultura e defender o meio ambiente”, relata a artista.
Ao usar o barro vermelho, preto e marrom, Geovana constrói das fissuras, peças que emanam a força, imponência e o silêncio da região. As coleções são inspiradas no fenômeno conhecido como “O Chão rachado do Sertão”, a terra que se quebra devido à seca. “Pra mim, a superfície que vem marcada pela escassez fala por si só e representa resistência, sobrevivência e gera memórias coletivas nas pessoas. Minha arte é feita para isso: as pessoas quando olham uma obra, buscam na memória automaticamente qual último momento que tiveram contemplando o simples que é agradecer pelo chão que pisam, é estar descalço na beira de um rio, essa conexão que hoje é tão rara”, fala.
De Milão a Trancoso, talento e conscientização ambiental em arte
Geovana Cléa é uma das três artistas no mundo que tem parceria com a marca Swarovski, inserindo cristais pequenos como grãos de areia em suas obras, como se fossem pontos de luz em meio à escuridão da falta de junção que a priori o barro pode causar. A brasileira que atualmente mora na Itália, também trabalha com barros coletados nas margens do rio Trebbia, mantendo sua conexão com a natureza e adaptando sua pesquisa ao território que a acolhe.
“Onde quer que esteja, levo comigo um pedaço do Brasil, mas sempre me conecto à natureza local. Já realizei exposições em Milão, Trancoso e São Paulo, de maneira constante e em formatos separados. Trata-se de expandir o poder do meu registro afetivo e despertar a consciência ecológica das pessoas e de toda uma sociedade”, declara Geovana que também tem obras em projetos da Casacor atualmente.
“Sertões” é a culminância de sua pesquisa e já conquistou um espaço significativo no cenário artístico internacional. Após o sucesso de sua estreia no Salone del Mobile de Milão no ano passado, a exposição retornou ao mesmo local. Apaixonada por arte, ela revela que prepara ainda mais surpresas. “Gosto de escrever minha história e enaltecer a beleza da terra e assim, continuo meu legado como defensora do Brasil e do meio ambiente, onde quer que eu esteja”, finaliza.